Contra a ingerência externa na Etiópia

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Por Carlos Lopes Pereira, via ODIARIO.INFO

Os EUA, que têm mais de 800 bases militares espalhadas pelo mundo, 30 das quais na África, ficaram «muito inquietos» com a notícia (não confirmada) de que a China iria construir uma base militar naval em Bata, na Guiné-Equatorial. Para os EUA e a União Europeia, que continuam a ver no continente africano uma colônia a explorar, a preocupação será todavia outra: é que a presença da China tem correspondido a um modelo de cooperação antagônico ao das velhas potências, que dividem e destroem para melhor dominar.

A imprensa norte-americana noticiou que a China planeja construir uma base militar naval em Bata, na Guiné-Equatorial, na África Ocidental. Pequim inaugurou em 2017 a sua primeira base africana, no Djibuti, na costa do Golfo de Aden.

Apesar de os Estados Unidos da América contarem há muito com bases militares na África (cerca de 30, na atualidade) a informação, que cita fontes anônimas e não foi confirmada nem por Pequim nem por Malabo, «preocupa enormemente» o chefe do Comando de África (Africom) dos EUA, general Stephen Townsend. Também um «alto funcionário da administração» do presidente Joe Biden referiu-se a «preocupações de segurança nacional» motivadas pela política chinesa na África.

De igual modo, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, manifestou-se «muito inquieto», mas com o «recuo da democracia na África». O chefe da diplomacia dos EUA visitou, em meados de novembro, as capitais de três «parceiros democráticos» africanos de Washington – Quênia, Nigéria e Senegal. Em Nairobi, Abuja e Dakar prometeu melhorar as relações EUA-África para fazer face à crescente cooperação entre a China e numerosos países africanos.

No seu primeiro périplo pelo continente, Blinken não incluiu uma parada na Etiópia, que enfrenta uma guerra de agressão causadora já de milhares de mortos e milhões de deslocados, e que prossegue.

Na verdade, sabe-se hoje que os EUA e países europeus (Reino Unido e França, entre outros) apoiam a Frente de Libertação Popular de Tigray (TPLF, na sigla em inglês) na sua rebelião armada contra o governo constitucional liderado pelo primeiro-ministro Abiy Ahmed. Meios da imprensa internacional divulgaram, recentemente, imagens de uma teleconferência em que diplomatas norte-americanos e europeus, altos funcionários do Departamento de Estado e um dirigente da TPLF discutem, em amigável concubinato, o plano de uma futura «transição de governo» na Etiópia.

Ao contrário dos EUA, a China – comprovando que são opostas as políticas das duas potências, na África e no mundo – reiterou o seu apoio ao governo do primeiro-ministro Abiy Ahmed para construir a paz e promover o crescimento económico da Etiópia.

O embaixador de Pequim em Adis Abeba, Zhao Zhiyuan, assegurou que a China ajudará firmemente o povo etíope no seu trabalho pela estabilidade e prosperidade.

«Manteremos a nossa oposição à intervenção estrangeira nos assuntos internos etíopes sob o disfarce da defesa dos direitos humanos», vincou. Tanto a China como a Etiópia, afirmou, são civilizações antigas «e desfrutam de laços duradouros que se caracterizam pelo respeito mútuo e pelo tratamento como iguais». E, lembrando a deslocação à capital etíope, na semana passada, do ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, reafirmou que a China e a Etiópia têm a mesma abordagem das relações internacionais, defendendo uma política externa independente e opondo-se à ingerência estrangeira – um posicionamento que todos os países deviam adotar.