2022, o ano que não pode acabar…

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Por Milton Pinheiro para o jornal O Momento

O breve ano de 2021 aperfeiçoou a tragédia brasileira, com seus passos rápidos ele sempre se apresentou como um período de transição para o projeto burguês, para o governo Bolsonaro e para as hordas neofascistas. Foi um lapso histórico que deixou profundas marcas na sociabilidade brasileira: mortandade, desestruturação dos parcos marcos de defesa social, profunda miséria, tempos de devastação…

No campo da esquerda socialista, 2021 foi um ano que devia ter sido abatido a partir dos seus primeiros sinais. Não obstante, esse breve lapso (ano) ter se colocado como o ombro no qual muitas forças políticas, à esquerda e à direita, que se confrontam na luta de classes, apoiaram-se para saltar para 2022, antes que os dias e os messes desse ano tivessem terminado.

A grave situação da Covid-19 somou-se às contradições políticas em sua complexidade. O grau de letalidade da pandemia foi devastador sobre a população brasileira. O bloco burguês, apesar das diferenças entre suas frações, encontrou unidade na janela de oportunidade para lucrar com o desemprego, a fome e a miséria, inflação/carestia, devastação ambiental, catástrofes “naturais” e as políticas do governo federal. A burguesia interna, consorciada ao imperialismo, aprofundou todas as formas de exploração para aumentar suas taxas de lucros e, para isso, contou com o Estado e o governo de plantão.

A crise brasileira, em sua vasta condensação, sem a necessária politização revolucionária, tem afetado a classe trabalhadora, os pobres das mais diversas periferias e os enormes contingentes atacados pela sociabilidade capitalista. É uma crise sem precedentes em nossa quadra histórica que possibilitou abrir um enorme túnel na cena política brasileira, tornando público os horrores do neofascismo-obscurantismo-negacionismo-xenofobia e posturas assemelhadas. Essa lógica impactou a luta política e envolveu amplos segmentos médios da população com esses horrores, tornando a conjuntura brasileira imprevisível.

Ainda compondo esse quadro, o bloco burguês vem operando a crise do Estado capitalista para dela tirar imensas vantagens. A cena política não desvelada tem permitido a implementação de eixos que cumprem o papel de destruição do sentido público da vida social para conseguir extraordinários ganhos econômicos, construindo o aperfeiçoamento de uma estrutura social que tem como centralidade colocar o trabalho na informalidade e gerar a luta de todos contra todos (empreendedorismo), e tudo isso em profunda relação de parceria com o governo do agitador fascista, Jair Bolsonaro.

Essa profunda crise não enfrentou ainda uma resistência forte e organizada, que pudesse modificar as balizas por onde as lutas de classes se manifestam. O bloco burguês permanece com grande protagonismo político, o Estado capitalista opera com o projeto da ordem para avançar no caos controlado e no golpe por dentro das instituições, o governo age no balcão de negócios do parlamento no sentido de cada dia mais aprofundar a contrarrevolução permanente, e, as hordas neofascistas, nos porões e/ou na via pública, movimentam-se para espreitar a crise com seu projeto de ruptura.

A esquerda socialista tem construído passos inconstantes via o movimentismo que não consegue organizar algo concreto; falta trabalho de base e programa, em uma palavra: falta a palavra de ordem que pode movimentar de forma organizada milhões de trabalhadores. A esquerda social-democrata e o oportunismo nacional-democrático operam no campo do politicismo tático, tendo como eixo agregador de suas ações o projeto Lula 2022.

As eleições do ano que já começaram há bastante tempo, mesmo com a sua importância, não podem contaminar o sentido da luta. É necessário entender que mesmo com Lula no governo, e agora numa perspectiva ainda mais rebaixada do ponto de vista dos interesses da população, a classe trabalhadora deve lutar organizada por suas bandeiras.

Sendo assim, é importante que os comunistas brasileiros apresentem uma candidatura no primeiro turno para que possa, de forma mais ampla, debater seu programa com a classe trabalhadora e o conjunto da população, movimentando e organizando a classe trabalhadora.

Todavia, o sentido da luta impõe um conjunto de ações que passa pelo trabalho de base, pela afirmação de uma frente única do bloco proletário e popular, pela construção de um amplo referendo revogatório das medidas burguesas (contrarreformas trabalhistas e previdenciárias, tornar sem efeito a lei do teto de gastos, cancelar as privatizações, anular o confisco do Banco Central pela iniciativa privada, tornar sem efeito todo arcabouço privatizante da ordem estatal, revogar a lei de (ir)responsabilidade fiscal, etc.).

Portanto, é urgente a organização de uma greve nacional para defender essas medidas e trabalhar na perspectiva da reorganização da classe trabalhadora e pela realização de um Encontro Nacional da Classe Trabalhadora (ENCLAT), sem hegemonismos autoproclamatórios e/ou as práticas nocivas e conciliatórias do sindicalismo de resultado.

O ano de 2022 há muito tempo floresceu nos escombros de 2021, precisamos ter centralidade na luta: trabalho de base, reorganização da classe trabalhadora, programa e perspectiva radical para transformar o Brasil. Tudo isso é possível e a luta já começou, quando vamos ocupar as nossas trincheiras?