Que briguem os velhos mandantes: os trabalhadores constroem sua alternativa

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Por João Pedro Aguiar, via O MOMENTO – PCB da Bahia

Novamente, em 2022, as eleições da Bahia terão um quadro político similar ao que vem sendo as eleições desde a segunda metade dos anos 2000. As principais frações da burguesia baiana são completamente ajustadas na máquina pública, são representadas com maioria absoluta da Câmara e determina para onde é direcionada a governabilidade do Estado.

Para compreender a política baiana nos tempos presentes, precisamos remontar a história de luta dos trabalhadores do estado contra o carlismo: a face mais autocrática vinculada à ditadura militar da burguesia baiana, que instituiu um regime fortalecido na repressão ampla das massas, na perseguição institucional sistemática contra qualquer oposição à família ACM e, sobretudo na marca maior de Antônio Carlos Magalhães, os assassinatos políticos.

A autocracia da família Magalhães era sustentada nos grandes negócios do Estado, contando com grandes meios privados de comunicação – tal como a filial da Rede Globo, Rede Bahia, e o jornal impresso Correio – que eram extensões de seus gabinetes, para além do forte aparato jurídico e policial com imediata obediência ao velho Antônio Carlos. Vale ressaltar que ACM Neto (DEM), seu principal herdeiro político, em menor nível ainda é capaz de preservar em grande medida essas mesmas estruturas políticas e colocá-las a serviço de seu projeto de reabilitação do carlismo.

Mas derrotar o carlismo nunca foi um simples ato de deposição de ACM ou de seus familiares carreiristas e profissionais da política. Trata-se de uma das formas e expressões políticas possíveis de um único núcleo hegemônico: o bloco burguês.

A eleição de Jaques Wagner (PT) a governador em 2006, que depôs a canalha carlista, inaugurou um novo rearranjo de forças políticas que está no governo estadual há 16 anos, sem guardar grandes antagonismos com seus antecedentes. Antigos aliados do velho ACM, como Otto Alencar (PSD), foram atraídos para o lado do governo petista e ajudam a comandar o Estado Baiano. Nesses 16 anos não houveram mudanças positivas substanciais para a classe trabalhadora, para sua organização independente enquanto classe, ou na conquista de direitos sociais e transformações mais profundas. A Bahia é uma réplica menor da política petista de alianças com a direita tradicional e os blocos da burguesia a nível nacional, sendo importante considerar que partidos de centro como PSB (Partido Socialista Brasileiro) e até mesmo o PCdoB (Partido Comunista do Brasil) são firmes defensores da política estadual e compõem o governo.

Tanto Wagner como Rui Costa (PT) foram inimigos declarados dos servidores públicos, sobretudo da Educação, que protagonizaram mobilizações históricas como a Greve dos 100 Dias em 2012 e as greves nas Universidades Estaduais da Bahia em 2015 e 2019, que juntas paralisaram as atividades das universidades por mais de 150 dias. A Bahia figura entre os maiores índices de desemprego e extrema pobreza do país. A política penal reacionária de encarceramento em massa e a letalidade policial da Bahia são constantemente reforçados enquanto méritos conquistados dos governos petistas, mesmo que 100% das vítimas do Estado Baiano sejam negras, segundo a Rede de Observatórios da Segurança.

Além da EMBASA (Empresa Baiana de Águas e Saneamento) que hoje está sendo ameaçada de privatização, o governo de Rui Costa, segundo o jornal Metro, busca extinguir o “Centro Industrial Subaé, Conder, Sudic, Secretaria de Desenvolvimento Econômico e deixa a Bahia Pesca para ser gerida pela iniciativa privada”, preparando um amplo pacote de privatizações para o fim de seu mandato.

Sobre 2022

Ainda é incerto quem será o representante que sucederá o atual arranjo político que comanda o Governo Estadual. O sucessor muito possivelmente será indicado a partir das costuras que favoreçam a principal candidatura petista, a de Lula, para o Palácio do Planalto. No lado do carlismo, próximo ao governo Bolsonaro mas distante nas aparência, ACM Neto é um candidato certo da direita tradicional baiana. E correndo por fora o parco e inexpressivo João Roma (Republicanos), que reivindica o postulado de principal representante do bolsonarismo na Bahia.

Para a classe trabalhadora, os digladeios internos das facções políticas da burguesia não podem pautar seus caminhos, suas lutas, sua organização. Pelo contrário, nos dá mais uma razão para debilitar o projeto burguês, apresentando uma alternativa independente da classe, pautada em seus interesses imediatos e estratégicos.

Temos a necessidade imediata de retomar as lutas de rua, nos espaços de trabalho, moradia e de estudo, para derrotar a agenda antipopular do governo Estadual e Federal, para contribuir na reorganização da classe trabalhadora e elevar seus instrumentos de luta como atores protagonistas em um processo de mudança social. A política das cúpulas devem ser isoladas em um movimento político da classe trabalhadora de apresentar seu próprio programa e conjunto de reivindicações. Não é uma simples tarefa, pois precisamos vencer ilusões muito arraigadas que se reproduzem na tática defensiva de “ampliar o arco de alianças” com a direita e a burguesia para livrar-se do “mal maior”.

Não há atalhos para nos livrar da condição de reféns e construir uma alternativa popular na Bahia.

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