A luta antifascista contra Bolsonaro e o capital

A luta antifascista contra Bolsonaro e o capital

Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro – Coordenação Nacional

Chegamos a esse Encontro de Jovens da Região Sul América comemorando a derrota presidencial de Bolsonaro e a vitória de Luís Inácio Lula da Silva. Para nós, jovens trabalhadoras, que nascemos em um período de relativa democracia, após as ditaduras que abateram nosso continente a partir dos anos 60, os eventos que têm se desenvolvido na conjuntura brasileira têm sido de grande alarde. Sabemos que não é somente para nós, jovens e brasileiras. O Brasil passou a ser palco constante de vigilância internacional devido à reorganização do fascismo, que ganhou força e alçou a novos patamares, com a um vitória presidencial de Jair Messias Bolsonaro em 2018.
A vitória de Lula no segundo turno eleitoral e seu reconhecimento por diversos presidentes do mundo, foi um passo importante para a garantia das liberdades democráticas no Brasil, contudo, mesmo com a derrota do miliciano, os segmentos sociais que tem encabeçado e reproduzido ideologicamente o fascismo, ganharam força com a ampliação da bancada do Partido Liberal (PL) no congresso e senado. Além disso, suas bases têm crescido entre setores da classe trabalhadora e da classe média.
É muito preocupante Bolsonaro ter conquistado 49,1% dos votos válidos diante da política genocida que empregou durante a pandemia, da série de ataques aos direitos da classe trabalhadora e das investidas conservadoras de perseguição à ciência, à liberdade de expressão e aos direitos das mulheres, negros e negras e população LGBTQI+.
Ao longo dos últimos quatro anos, Bolsonaro vem utilizando em seu discurso teorias conspiratórias de fraude eleitoral, a fim de forjar um novo golpe e uma restrição ainda maior às liberdades democráticas. Caso Bolsonaro não vencesse, isso seria explicado por algum tipo de fraude, como está acontecendo no momento. Nos últimos meses, seu grupo tentou deslegitimar as urnas eletrônicas e criar vários fatos para estimular sua base a reagir a sua possível derrota.
A utilização da internet e a máquina de Fake News foram as principais táticas utilizadas nas eleições anteriores e possibilitaram a vitória de Bolsonaro. Durante esses quatro anos, canais no Telegram permitiram a união entre grupos de extrema direita e a ampliação dessa base ultra reacionária e fascista, que tem se movido como seitas.
No dia das eleições, a polícia rodoviária federal tentou dificultar a chegada da população aos seus colégios eleitorais, especialmente no Nordeste, onde Lula tem a maior base eleitoral. Esse episódio abusivo e discriminatório, vai se inscrever na história, como um dos atentados mais violentos ao direito de voto que este país já presenciou.
O presidente não reconheceu de imediato a vitória de Lula e só deu uma declaração 45 horas depois de ter sido divulgado o resultado final das eleições; e quando falou, desestimulou bloqueios, mas estimulou mobilizações. A nível internacional, mantém a tentativa de deslegitimar a vitória de Lula. Um canal de extrema direita na Argentina, ligado à família Bolsonaro, divulgou um vídeo que afirma que houve fraude na vitória de Lula.
Desde a madrugada do dia 31 de outubro, manifestações de caminhoneiros bolsonaristas paralisaram diversos trechos rodoviários do país, com predomínio na região sul. Os bloqueios nas estradas estavam causando desabastecimento de comida e remédios, impedindo o trânsito de pessoas doentes e em alguns locais, manifestantes têm atuado de forma violenta, coagindo as pessoas que estão passando pelos acampamentos a assinarem abaixo assinados pedindo intervenção militar. A redução do número de bloqueios só se deu devido à intervenção do Supremo Tribunal Federal, depois de uma ação praticamente receptiva da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Vários ataques violentos a pessoas contrárias aos bloqueios, inclusive jovens, têm acontecido. Uma criança de 12 anos faleceu em hospital após ser atingida por tiros disparados por um CAC, no dia da vitória de Lula e aulas têm sido suspendidas em escolas, devido a episódio de repressão a estudantes.
Nos últimos dias, manifestações aconteceram na frente de quartéis do exército, exigindo intervenção militar, diante do resultado desfavorável eleitoralmente. Ou seja, os planos de Bolsonaro resultaram nos efeitos esperados. Alguns atos foram acompanhados de expressões fascistas, reforçando a simbologia utilizada pelo presidente e apoiadores durante seus anos de governo.
Esses atos, além de criar caos em várias partes do país, podem cumprir três papéis importantes para o bolsonarismo: reforçar e fortalecer a sua base ultra reacionária; gerar pressão para uma negociação benéfica para Bolsonaro, a fim de conseguir uma “anistia” para os crimes que cometeu; demonstrar que se manterão como força opositora atuante e com militância ativa, para além do espaço institucional.
A militância fascista cresce no país fruto da crise capitalista e da incapacidade tanto da direita tradicional, como da esquerda, darem respostas políticas e econômicas para sua superação. Setores da classe média, milícias armadas, parte da pequena burguesia apoiados no fundamentalismo religioso, ultra conservadorismo nos costumes, na perseguição à esquerda e no ultraliberalismo, conformam as principais forças do bolsonarismo. O ideal do empreendedorismo cresceu com a desindustrialização, alto nível de desemprego estrutural, destruição dos direitos trabalhistas, rebaixamento dos salários e uberização digital. Esses pequenos empreendedores não têm nenhuma relação sindical e tem se pautado a partir das disputas nos meios digitais.
Como Clara Zetkin apontou, em um conjunto de textos que se tornou o livro Como Nasce e Morre o Fascismo, o fascismo é uma expressão política que desponta em momentos de crises capitalistas e, independente do setor de classe que compõe suas lideranças políticas, ele representa os interesses do capital monopolista e financeiro a nível internacional.
Bolsonaro, junto com sua equipe ultraliberal, miliciana e fascista, avançou na agenda de retirada de direitos da classe trabalhadora brasileira e nas privatizações, assumindo a agenda neoliberal. A “gestão” da pandemia priorizou a manutenção dos lucros em contraposição a manutenção das vidas. Apesar disso, não conseguiu dar respostas orgânicas do ponto de vista econômico para a crise capitalista. Além disso, sua posição truculenta e reacionária, não auxiliou no diálogo com a burguesia nacional e internacionalmente. Isso auxiliou a conformação de uma frente ampla desde o primeiro turno, juntando representantes da social-democracia e da direita.
Apesar de Lula não ter sido a primeira escolha burguesa, a direita brasileira e alguns setores da burguesia industrial e financeira, foram forçados a apostar nessa frente com o PT, já que a terceira via não conseguiu avançar. Moro, principal representante da Lava Jato, não despontou como uma liderança capaz de unificar a direita brasileira.
A vitória de Lula no segundo turno somente foi possível pela tomada militante das ruas desde o período mais dramático da pandemia, com denúncias ao governo Bolsonaro e no momento eleitoral, a virada de votos a campanha militante nas ruas e nos meios digitais.
A posse do presidente também será um importante marco na luta pelo Fora Bolsonaro. Teremos que garantir tanto a posse, como a garantia de uma agenda progressista, com ampliação dos direitos da classe trabalhadora, nas mobilizações de ruas.
Uma agenda tem sido debatida entre as frentes de luta da esquerda no país. Defendemos que devemos retomar o quanto antes os atos, mobilizando uma atividade massiva antes da posse e outra no dia 01, com caravanas para Brasília.
Precisamos mostrar ao fascismo que nos manteremos no enfrentamento e ao mesmo tempo, pautar a nova agenda governamental, que não pode ser articulada apenas pelos monopólios e representantes da burguesia financeira.
Só a classe trabalhadora pode mudar os rumos da história.
Sem mulheres, não há revolução. Feminismo classista, futuro socialista!
Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro
Filiado a FDIM
06 de novembro de 2022