Uma centelha de luta no litoral gaúcho

Por moradia estudantil!

Via UJC – RS

No dia 10/03/23, data que ficará marcada na história do movimento estudantil do Rio Grande do Sul, estudantes ocuparam, simultaneamente, dois prédios da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Tramandaí e Porto Alegre. Sua principal reivindicação: a criação de uma Casa de Estudantes no campus Litoral Norte – uma demanda antiga, mas ignorada pelas sucessivas administrações da UFRGS.

Diante da dinâmica sazonal da economia nos municípios do Litoral Norte gaúcho, a única constante para os e as estudantes de baixa renda é a insegurança, seja pela reduzida oferta de empregos na baixa temporada, seja pela alta dos preços dos aluguéis durante o verão. Nesta estação, quando as praias gaúchas lotam de turistas, os preços sobem indiscriminadamente, podendo chegar a 10 vezes mais do que na baixa temporada. Assim, é comum que os e as estudantes, nestas épocas do ano, tenham que se mudar para alojamentos, geralmente precários.

O problema da evasão no campus Litoral Norte poderia ser chamado de crônico, se a solução imediata não estivesse nas mãos da própria Universidade. A UFRGS é proprietária de um enorme prédio residencial em Tramandaí, no Litoral Norte gaúcho, que foi por muito tempo a Colônia de Férias da instituição. No sentido contrário, a UFRGS está se desfazendo de todos os móveis e equipamentos, como colchões novos, camas, computadores, cozinhas, banheiros etc. O que seria uma solução pronta para combater a evasão está se tornando um empecilho ainda maior para solucionar o problema.

Cansados de ser ignorados nas tentativas de diálogo, os estudantes do Litoral Norte, junto ao DCE UFRGS – composto pela União da Juventude Comunista e pelo Coletivo de Estudantes Indígenas – e outros movimentos, ocuparam o prédio da antiga Colônia. No mesmo dia, a administração da UFRGS (indicada por Bolsonaro) entrou na Justiça com o pedido de reintegração de posse e, no processo, acusou Juliana Guerra, militante do Partido Comunista Brasileiro, como a responsável por todo movimento, num claro gesto de perseguição política. A ocupação durou 3 dias.

O objetivo da universidade é transformar esta moradia em um “Centro de Inovação”. Noutras palavras, um Centro de Empresas Privadas na UFRGS. Um prédio que poderia abrigar, pelo menos, 80 estudantes, está se tornando um laboratório para empresas privadas usarem o espaço público, os recursos humanos, tecnológicos e científicos da UFRGS com o propósito de obterem lucros privados.

Nenhuma universidade é um “templo do saber”, como se o conhecimento científico ali produzido estivesse acima das ambições por lucro e disputas pelo poder na sociedade; além disso, ao contrário do que dizem os reacionários, nem de longe a universidade é um local de “doutrinação comunista”. Apesar de pública, a universidade atual é produto do capitalismo e serve à sua manutenção: seja formando profissionais ideologicamente liberais e nutridos de valores individualistas, seja produzindo ciência e tecnologia subordinadas aos interesses comerciais de empresas, em vez de orientadas pelas e para as necessidades do povo brasileiro. A universidade no Brasil contribui para a reprodução do subdesenvolvimento do país e sua condição de dependência econômica.

A Casa do Estudante do Litoral Norte ainda não foi conquistada. No entanto, existe a clareza entre os estudantes de que a luta só acaba com vitória. Muitos que, em sua maioria, jamais haviam se envolvido em movimentos políticos passaram a protagonizar uma ação histórica. No processo da luta concreta, se politizaram, aprenderam, ensinaram, amadureceram, criticaram, se autocriticaram e se organizaram. Os frutos dessa luta já começam a aparecer: criaram o Centro de Estudantes do Litoral Norte, entidade cuja existência era apenas um sonho até pouco tempo. As articulações políticas seguem, bem como está aberta a mesa de negociação com a UFRGS. Este é só o começo.

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