CARTA ABERTA À JUSTIÇA ESPANHOLA

A OPERAÇÃO CONDOR foi um pacto criminoso entre os governos militares da Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai na década de 70, sob a direção do então secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger, supostamente para “salvar a civilização ocidental e cristã das garras do comunismo”.

O PRIMEIRO GOLPE Entre 2 e 3 de fevereiro de 1989, no Paraguai, o general Andrés Rodríguez destitui o seu sogro, Alfredo Stroessner,apoiado pela embaixada dos EUA porque este já não era mais funcional para o sistema. Em junho de 1992, instituiu-se uma Constituição mais democrática que estabelece o Recurso de Habeas Data. Em setembro de 1992, via Assessoria Jurídica do Comitê de Igrejas, solicitei judicialmente os meus antecedentes, eu queria saber:

1) A causa da minha detenção, tortura e prisão.

2) A causa da morte da minha esposa, educadora Celeste Perez.

Alfonso Lovera Cañete, Chefe de Polícia 3° Sepulcro dos vivos, me tinha dito que ela havia cometido suicídio. Ele mentiu.

O SEGUNDO GOLPE Em 22 de Dezembro de 1992, com o apoio do juiz José Agustín Fernández e da imprensa nacional e internacional, descobrimos três toneladas de documentos do ARQUIVO DO TERROR/OPERAÇÃO CONDOR nos arredores de Assunção. A descoberta foi o resultado da pesquisa que realizei particularmente durante os meus 15 anos de exílio em Paris, quando fui consultor da UNESCO para a América Latina (1978/1992). Após esta descoberta, criamos em 1993, a filial paraguaia da Associação Americana de Juristas (AAJ), para proteger os “defensores dos Direitos Humanos”, ameaçados pelos nostálgicos da ditadura, pela Liga Anti-Comunista e pela seita Moon.

Em novembro de 1997, durante sua viagem ao Paraguai, o juiz Baltasar Garzón visitou o Arquivo depositado nos Tribunais de Assunção e entreguei-lhe a Certidão de Nascimento da OPERAÇÃO CONDOR, datada em “Santiago do Chile, novembro / dezembro de 1975”. Também tomou conhecimento de listas com os nomes de vítimas e algozes, dos acordos militares secretos na região, que estabeleceu o terrorismo em nossa América Latina. Desde então, promoveu um processo contra Pinochet, Videla, Stroessner, Banzer, Figueiredo, Bordaberry, Kinssinger na Alemanha, França, Itália, Suíça, Espanha, Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai, entre outros países.

A presença do juiz do Tribunal Nacional da Espanha nos arquivos de Assunção, foi utilizado para a proteção do acervo documental de três toneladas, e evitou as intenções de setores das forças armadas, policiais e nostálgicos da ditadura paraguaia, que buscavam a remoção ou destruição dessas peças documentais, que constituem uma prova das 100.000 mortes na Região (líderes da classe trabalhadora, estudantes, professores, advogados, militares e marinheiros, constitucionalistas, religioso / as, artistas, jornalistas, líderes das Ligas Camponesas, indígenas e organizações de mulheres, líderes políticos, juízes, procuradores, médicos, intelectuais). Enfim, A CLASSE PENSANTE DA AMÉRICA LATINA.

PRISÃO EM LONDRES Na Espanha, o Juiz Garzon de posse das provas já adicionadas ao ARQUIVO DO TERROR DO PARAGUAI, exigiu a prisão de Pinochet em 16 de outubro de 1998, para julgá-lo pela morte de cidadãos espanhóis e latino-americanos no Chile durante a Ditadura. Emitiu um mandado de prisão contra o então senador biônico, resolução enviada para a Inglaterra e que foi cumprida durante 18 meses.

Pinochet havia se internado em uma clínica privada, na Clínica Londres, em 8 de Outubro de 1998, para uma cirurgia de hérnia, e também para fazer seus negócios habituais de “compra de armas” para combater / saquear seus vizinhos: Peru, Bolívia e Argentina.

A notícia foi imediatamente transmitida para todo o mundo, produzindo no exterior quase que unanimemente um repúdio à figura de Pinochet e de seus aliados norte-americanos.

JOSE LOPEZ REGA, OBSCURO CABO ARGENTINO EM MADRI Stella Calloni jornalistas latino-americana, a mais qualificada especialista na OPERAÇÃO CONDOR, em seu livro “Os anos do Lobo” – Kissinger, Pinochet, Stroessner, Banzer Suarez Mason, Massera – na pg. 73, refere-se aos contatos mantidos pelo “Cabo Argentino” com os franquistas mais reacionários da Espanha, com os mercenários e criminosos da Organização do Exército Secreto (OAS), com sucursais na França e na Europa. Esta é a mais aproximada origem da OPERAÇÃO CONDOR.

A CORAGEM DO JUIZ GARZÓN PELA ABERTURA DAS FOSSAS FRANQUISTAS POR TODO O PAÍS RECEBE APOIO MUNDIAL

Eles querem se sentar no banco do único juiz da Europa que, a pedido de parentes de desaparecidos durante a repressão de Franco, tratou de articular uma resposta penal adequada às suas demandas.

Numerosos juristas de prestígio manifestaram fundada e publicamente seu apoio “ao trabalho de investigação” de Garzon, para que se conheça a verdade e que se atue com justiça, tratando estes delitos com base na lei contra os direitos humanos e que, portanto, não prescrevem.

Para os juristas democratas do mundo, a atuação do juiz Garzón não merece o rótulo de má-fé, supostamente porque tenha dado uma sentença injusta, o que todos sabemos, não foi assim.

A corajosa ação do juiz espanhol é histórica, porque pela primeira vez, lançou as bases da justiça universal, e foi o ponto de partida na luta contra a impunidade na Espanha e no mundo.

Na minha condição primeira de vítima do TERRORISMO DE ESTADO/OPERAÇÃO CONDOR – 1974/1977, em seguida para converter-me em descobridor dos ARQUIVOS SECRETOS, em 1992, Prêmio Nobel Alternativo da Paz 2002 e membro do Comitê Executivo da Associação Americana de Juristas (AAJ), me coloco à disposição da Justiça espanhola para testemunhar sobre a importância do trabalho cumprido e que continua em curso, do juiz Garzón, na Defesa dos Direitos Humanos, QUE, NADANDO SOZINHO CONTRA A CORRENTE, SE AFOGA EM JUSTIÇA.

O Juiz Garzon teve a coragem de restaurar a dignidade às vítimas do terrorismo de Estado na Espanha e na América Latina, mas a Espanha, que é considerada um país de primeiro mundo, parece ser incapaz de julgar a sua própria ditadura, por isso pune o juiz Garzón, SE PERMITIRMOS, com o critério que “covardia dos bons aumenta a audácia dos maus.” Se este processo não for detido agora, a Justiça espanhola, transformará Baltasar Garzón no Galileo Galilei do século XXI. Isso prova que O CONDOR SEGUE VOANDO, E TEMOS QUE CORTAR-LHE AS ASAS!!!