Peru: o Estado segue massacrando movimentos sociais: já são quinze mortos

A população do departamento de Cajamarca, no Peru, continua em resistência para defender suas fontes de água que estão ameaçadas pelo projeto mineiro Conga, da empresa estadunidense Newmont.

Nesta semana, o enfrentamento entre policiais e manifestantes terminou com a morte de quatro pessoas e a prisão do ex-sacerdote Marco Arana, um dos principais líderes dos protestos. As manifestações também culminaram no decreto supremo N°070-2012-PCM, que declarou estado de emergência nas províncias de Cajamarca, Celendín e Hualgayoc durante 30 dias. A medida foi tomada após a constatação de que as manifestações do início da semana haviam vitimado três pessoas e deixado dezenas de feridos.

Agora, as três províncias estão tomadas por um forte aparato policial e a população não tem mais asseguradas suas garantias constitucionais relacionadas à liberdade e segurança pessoal. Com o decreto, as Forças Armadas têm nas mãos o poder para “restabelecer a ordem” nas províncias.

O fato principal que motivou a imposição do estado de emergência foi um protesto, realizado na terça-feira (3) em frente à prefeitura de Celendín para cobrar do prefeito, Mauro Arteaga García, uma posição contrária ao projeto Conga. Os manifestantes também queriam que Arteaga García explicasse a reunião que teve com o presidente Ollanta Humala para assegurar apoio ao projeto mineiro.

Os manifestantes, que se encontram em greve geral há 34 dias, foram retirados do local pela polícia, que se utilizou de armas de fogo e bombas de efeito moral. A partir daí teve início um enfrentamento violento que terminou com a morte de três civis e deixou 15 pessoas feridas por arma de fogo e pelas bombas de gás.

A ação policial também culminou na detenção de Marco Arana, ex-sacerdote e líder da organização Terra e Liberdade. Arana foi preso por 12 policiais enquanto estava na praça de Armas de Cajamarca conversando com duas pessoas, apesar disso seu recolhimento foi decretado por que ele estava “causando distúrbios”. Mesmo não tendo oferecido resistência o ex-religioso foi detido com violência.

Após o fato, Arana disse que na delegacia foi insultado e agredido com socos no rosto e nos rins por autoridades peruanas. O ex-sacerdote foi alvo porque a organização Terra e Liberdade apoia as mobilizações sociais e o governo regional de Cajamarca na luta contra o projeto Conga, que pretende explorar ouro e cobre e com isso prejudicará de forma permanente o meio ambiente e o abastecimento de água para o departamento de Cajamarca.

Ontem (4), o dia também foi de tensão. Em Bambamarca, uma das localidades da região de Cajamarca, uma pessoa morreu e pelo menos sete ficaram feridas em manifestações que também resultaram em enfrentamento com a polícia. Após este fato, um grupo de manifestantes prendeu em uma escola Bambamarca cerca de 20 policiais.

Com os episódios desta semana, o governo de Ollanta Humala soma 15 mortos em conflitos sociais. Em contraposição ao que o mandatário vinha prometendo desde sua campanha presidencial, os problemas no país estão sendo resolvidos com repressão, criminalização dos movimentos e lutas populares, militarização e estado de emergência. Isto acontece para que os interesses dos investidores nas áreas de mineração, petróleo e gás sejam garantidos.

Diante desta situação de violência e vulneração dos direitos humanos de peruanos e peruanas, a Coordenadora Andina de Organizações Indígenas (Caoi) exige que se investigue as mortes, se castigue os responsáveis e se liberte Marco Arana. “Que o mundo saiba: no Peru se está matando, se estão vulnerando os direitos humanos e coletivos, se estão militarizando províncias inteiras. Que o mundo se pronuncie: basta de repressão, respeito aos direitos, respeito à vida”, denunciam.

Organizações peruanas e andinas também uniram forças para pedir ajuda nacional e internacional a fim de conter a situação de violência, repressão e militarização no país a fim de que, por meio do diálogo, se possa aparar todas as arestas. “Sugerimos a necessidade de construir um diálogo que incorpore a todos os envolvidos no conflito, que a empresa mineira deixe de lado sua soberba e más práticas, e que o Estado mais além de impor condições, trate de escutar as diferentes partes e desenvolva capacidade de interlocução direta, sem violência ou repressão aos envolvidos”, demandam.

http://www.ecoagencia.com.br/index.php?open=noticias&id=VZlSXRVVONlUsR2MOdVMWJFbKVVVB1TP

Para conhecerem os motivos da luta deste povo assistam o vídeo e ativem as legendas transcritas (botão vermelho escrito CC):

http://www.youtube.com/watch?v=pAFydtiz1xs

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