Justiça chilena começa a esclarecer morte do general Alberto Bachelet

O ministro Mario Carroza decidiu processar dois coronéis aposentados da Força Aérea do Chile (FACH), apontados como responsáveis pelas torturas que tiraram a vida do general Alberto Bachelet – pai de Michelle, a ex-presidente do Chile -, em 1974. Trata-se dos oficiais aposentados Ramón Cáceres Jorquera e Edgar Ceballos Jones, que eram responsáveis na época pela Academia de Guerra Aérea, onde Bachelet foi torturado. O artigo é de Christian Palma.

Christian Palma – Santiago

23.7.2012

Santiago – O ministro especial Mario Carroza decidiu semana passada abrir processo contra dois coronéis aposentados da Força Aérea do Chile (FACH), apontados como responsáveis pelas torturas que tiraram a vida do general Alberto Bachelet – pai de Michelle, a ex-presidente do Chile -, em 1974. Alberto Bachelet foi acusado de “traição à pátria” por manter-se fiel ao governo de Salvador Allende. Trata-se dos oficiais aposentados Ramón Cáceres Jorquera e Edgar Ceballos Jones, que eram responsáveis na época pela Academia de Guerra Aérea (AGA), lugar para o qual foi levado Alberto Bachelet, que nesta época dirigia a unidade de abastecimento e preços do governo socialista, cumprindo uma tarefa chave, pois os produtos básicos escasseavam em função do bloqueio dos Estados Unidos ao país. Com o golpe de Estado sendo preparado secretamente, Bachelet se manteve firme em seu cargo, o que acabou lhe custando caro.

Segundo estabeleceu o Serviço Médio Legal (SML) há algumas semanas, o pai da ex-presidente socialista faleceu em função das torturas que sofreu enquanto esteve preso na Academia de Guerra Aérea. Esses maus tratos acabaram provocando uma parada cardiorrespiratória que causou sua morte, em março de 1974. “Existe uma relação direta entre a morte da vítima e seu último interrogatório, uma vez que esse episódio produziu uma descompensação de sua patologia cardíaca, em um contexto de estresse físico e mental prévios”, diz parte do informe. Cáceres e Ceballos, irmãos de armas de Bachelet, foram detidos e levados para um centro de detenção da Força Aérea, onde ficarão em prisão preventiva.

A investigação acrescenta que no dia 11 de março de 1974 o general Bachelet foi retirado da Cadeia Pública por uma patrulha liderada por um oficial e dois soldados da Promotoria da Aeronáutica. Dali foi levado para a Academia de Guerra onde foi “interrogado”. Mais tarde foi devolvido à Cadeia Pública em estado de abatimento. “No dia seguinte, pela manhã, produto de uma dilatação cardíaca aguda, a vítima falece nas dependências da Cadeia Pública sem receber os cuidados necessários dada a complexidade de seu quadro e a falta de meios para assisti-lo”, diz ainda o documento do SML.

“Eles me quebraram por dentro, em um momento, me arrebentaram moralmente – nunca soube odiar ninguém -, sempre pensei que o ser humano é a coisa mais maravilhosa desta criação e deve ser respeitado como tal, mas me encontrei com camaradas da FACH que conhecia há 20 anos, alunos meus, que me trataram como um delinquente ou como a um cão”, escreveu o general Bachelet desde a prisão para a sua família.

A viúva do general, Angela Jeria, recebeu a notícia do processo contra “os irmãos de armas de seu esposo” com “muita tranquilidade” e disse que espera que o processo siga adiante. Jeria, representando sua filha, com o advogado Isidro Solís, ingressou com uma ação contra Ceballos e Jorquera, que estão detidos desde a semana passada após a decisão do juiz Mario Carroza. Solís explicou que a família Bachelet decidiu apresentar a ação judicial – que permite tornar-se parte do processo – uma vez que o juiz determinou responsabilidades pela morte do general. O advogado anunciou também que poderá haver mais processados. Isso porque as primeiras torturas, tudo indica, iniciaram na Academia de Guerra da FACH, no dia 20 de setembro de 1973. Após essa sessão de tortura, ele sofreu uma isquemia e foi tratado em um hospital.

O general foi detido meses mais tarde e, em 11 de março de 1974, foi levado novamente a AGA para ser torturado. No dia seguinte faleceu de uma dilatação cardíaca aguda. “Ambos (Ceballos e Jorquera), em sua qualidade de comandantes, tinham sob sua responsabilidade a custódia dos detidos que se encontravam na Academia de Guerra, participavam dos interrogatórios e aplicavam diversos maus tratos, cruéis, desumanos e degradantes”, diz a decisão da Justiça. O ex-comandante da FACH, Ernesto Galaz, admitiu que “era sabido que ele tinha problemas de coração, de modo que o desenlace era previsível”.

Além disso, atribuiu responsabilidades plenas à Força Aérea. “O que mais interessa em tudo isso é entender que tanto Cáceres como Ceballos, eu suponho, não agiam sozinhos. Eles trabalhavam em um edifício que era da Força Aérea, com pessoal da Força Aérea, com veículo da Força Aérea e eram alimentados pela Força Aérea”, acrescentou. “Até agora parece que são indivíduos que trabalhavam por conta própria e que extravasaram de suas funções. Lembremos que, nesta época, o chefe da Academia de Guerra era o general (Fernando) Matthei (pai de Evelyn, atual ministra de Sebastián Piñera). Suponho que sabiam algo sobre esse assunto”, disse o ex-comandante da Força Aérea Chilena.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

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