EQUADOR: Contradições nas elites

Dos pronunciamentos verbais, até estridentes, que alguns de seus expoentes vem efetuando no interior da Assembléia Nacional, agora passaram a defender a construção de uma oposição de massas alienada. Isto não é casual nem um ensaio. A direita considera que é o momento propício para estes tipos de ações, devido ao fato de que a rejeição ao governo é superior ao respaldo popular.

A oligarquia quer agir em meio ao descontentamento social que cresce como consequência do distanciamento de Rafael Correa do projeto político inicial e dos erros cometidos em sua gestão. Pesa agora no governo o distanciamento das organizações populares como a CONAIE e dos integrantes da Frente Popular que, como assinalamos em ocasiões anteriores, possuem uma importante capacidade de mobilização que poderia respaldar o governo se este fosse coerente com o projeto.

O propósito da direita – nesta etapa – seria acelerar o desgaste de Correa, projetar figuras que desempenhem o papel de líderes da oposição, apresentar uma frente de massas de oposição e acumular forças a seu favor. Geralmente, a direita repudia estes tipos de movimentações, seja como forma de expressão de seu descontentamento, seja como mecanismo de pressão. Porém, agora os utilizam. Apontamos o termo exato de seu significado: querem aproveitar-se delas.

A direita objetiva manipular os setores populares e encobrir um movimento reacionário que desemboque no restabelecimento de um regime abertamente neoliberal. Sabe que a força dos movimentos político-sociais radica na ação de massas, aspecto que Rafael Correa não entende ou subestima. Não existe outra maneira de explicar seus repetidos ataques às organizações populares e seus dirigentes.

Subestimar e, mais ainda, limitar a ação política das massas só pode levar ao fracasso de um movimento político-social. Esse é o calcanhar de Aquiles da denominada “revolução cidadã”, na qual a figura de Rafael Correa cumpre um papel determinante e, na sua visão, até messiânico. Não se trata de um erro de apreciação tática do governo. Essa visão expressa sua concepção a respeito da natureza e dos fins de seu projeto. O desenvolvimento reformista encarna a gestão governamental (bastante funcional ao sistema imperante). É, na verdade, um projeto concebido para ser aplicado desde “cima”, no que o protagonismo das massas poderia desvirtuar os propósitos e limites da “revolução”.

A proposta que se levanta nas organizações populares e na esquerda reivindica o protagonismo popular no processo político. Um projeto libertador só pode sustentar-se na ação e na força das classes e camadas trabalhadoras. É um projeto que vai mais além do que Correa pretende como objetivo final. Nele não se apela aos povos circunstancialmente: estes são a essência e a razão de ser do movimento.

Tradução: Maria Fernanda M. Scelza

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