BC joga US$ 2 bi para segurar real

A perspectiva de uma enxurrada de dólares no país, por causa das medidas de estímulo monetário adotadas pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), voltou a puxar a cotação para baixo ontem. O dólar já abriu em queda e atingiu o menor patamar do dia, R$ 2,016. Meia hora depois, o Banco Central (BC) interveio no mercado para segurar a moeda, fazendo uma espécie de compra de dólares no mercado futuro, no valor de US$ 2,1 bilhões. A operação foi bem-sucedida: o dólar fechou em alta de 0,94%, cotada a R$ 2,030 para venda.

Após o leilão de contratos de swap cambial reverso (que equivalem à compra de dólares no mercado futuro), o dólar atingiu a máxima do dia, a R$ 2,035. Na semana passada, o BC já havia feito três leilões para tentar segurar a moeda acima de R$ 2. Só na sexta-feira, foram dois e, mesmo assim, a divisa encerrou o dia em queda de 0,39%, a R$ 2,022 na venda. No total, já são US$ 5,1 bilhões, em quatro intervenções.

O dólar vem se desvalorizando frente ao real e a outras moedas depois que o Fed anunciou, na última quinta-feira, que vai comprar US$ 40 bilhões em títulos ligados ao mercado imobiliário por mês. A possibilidade de um novo “tsunami monetário” já está levando o governo brasileiro a considerar voltar a elevar a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre empréstimos no exterior com prazo de até cinco anos. A taxação foi revogada há alguns meses devido à queda do fluxo de recursos após o agravamento da crise global.

– Para o BC, o câmbio agora flutua só para cima. A autoridade monetária criou as bandas, com piso de R$ 2 até R$ 2,10, e agora faz todo o possível para manter a moeda nesse intervalo. O problema é que a tendência do dólar é de queda no mundo, não só no Brasil. E quando o Fed começar a injetar os US$ 40 bilhões mensais, a pressão será maior – avalia João Medeiros, diretor da corretora Pionner.

– Só com os leilões de swap cambial será difícil segurar a moeda acima dos R$ 2. Certamente o governo terá que voltar a mexer no Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) para desincentivar captações no exterior, se quiser manter a cotação acima de R$ 2 – diz Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da corretora Treviso.

governo continuará a atuar, diz barbosa

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, por sua vez, disse ontem que o governo continuará atuando firmemente para controlar o câmbio, que “ainda está bem apreciado”. Segundo Barbosa, ainda é cedo para avaliar o impacto do novo pacote do BC americano, mas a Fazenda não hesitará em voltar a “regular os fluxos” de recursos externos e o mercado de derivativos.

– O governo atua e vai continuar atuando no câmbio – avisou ele, durante o 9º Fórum Econômico, promovido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo. – Esperamos que isso (a injeção monetária) fique circulando na própria economia americana e ajude em sua recuperação. (…) Tomaremos todas as medidas necessárias para evitar apreciação do câmbio.

Perguntado se o governo já estaria trabalhando em novas medidas Barbosa disse:

– Medida cambial a gente não anuncia antes, a gente toma e explica depois.

Para Sidney Nehme, da corretora NGO, o Brasil não terá um “tsunami monetário”:

– O Brasil já não tem tanta atratividade como antes. O juro caiu e hoje fazer operações de arbitragem com dólares já não é vantajoso. A tendência de baixa do dólar nos últimos dias foi mais um movimento de expectativas.

Repetindo o ministro da Fazenda, Guido Mantega , Barbosa disse que o país crescerá entre 4% e 5%, com a inflação convergindo ao centro da meta no fim de 2013, o que dispensaria uma retomada da alta nos juros como projetam os analistas de mercado.

– Não há contradição em crescer entre 4% e 5% com a inflação convergindo para a meta. A expectativa era que o IPCA caminhasse para 4,7% já este ano, contudo choques de oferta, como o dos grãos nos Estados Unidos, elevaram o índice para 5%. Mas esses são fatores transitórios, que não impedem a convergência adiante – disse o secretário-executivo.

Já o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), fechou em queda de 0,48% ontem, aos 61.805 pontos, após operar com volatilidade durante todo o dia por causa do vencimento de opções sobre ações, encerrando um ciclo de sete pregões de alta. Só na semana passada, a Bolsa teve valorização de 6,5% – a maior alta semanal do ano – e os investidores aproveitaram para embolsar lucros.

Quedas nas bolsas europeias e americanas

O setor de energia elétrica ajudou a segurar um recuo maior do Ibovespa, mostrando recuperação após a forte queda da semana passada, quando o governo anunciou as novas regras de renovação das concessões. As ações da Cteep (Transmissão Paulista PN) subiram 7,56% .

– A tendência de longo prazo para a Bovespa é de alta, mas vemos hoje (ontem) uma correção técnica, com o mercado embolsando parte dos lucros após sete pregões de ganhos – disse o analista gráfico da Ativa Corretora no Rio de Janeiro, Gilberto Coelho.

Na Europa, os pregões tiveram um dia de correção, após as altas verificadas na semana passada depois da decisão do Fed. A Bolsa de Frankfurt se desvalorizou 0,11%; a de Paris, 0,78%; e a de Londres, 0,37%. Nos Estados Unidos, as Bolsas também passaram por movimento de venda de ativos. O S&P 500 caiu 0,31%; o Dow Jones se desvalorizou 0,30% e o Nasdaq perdeu 0,17%.


Bancos se preparam para financiar infraestrutura

Valor Econômico

Os bancos esperam um verdadeiro “boom” de financiamento de projetos de infraestrutura a partir do próximo ano e já começaram a se movimentar. Com carteiras que variam de R$ 10 bilhões a R$ 20 bilhões em análise neste ano, as grandes instituições como Itaú, Bradesco, Santander e HSBC, projetam expansão anual da ordem de 25% dessa modalidade, acima de outros segmentos bancários.

O otimismo se materializa nas contratações de novos profissionais. Os bancos já pensam em ampliar as equipes de “project finance”. “Essa área trata de projetos com maturação de anos. Só contratamos quando esperamos uma expansão”, diz Alberto Zoffmann, diretor do Itaú BBA. “Há uma demanda reprimida e estamos buscando oportunidades” completa o executivo. O Itaú analisa cerca de 45 projetos que somam R$ 20 bilhões em investimento. A cifra corresponde ao tamanho dos projetos e não à fatia a ser financiada.

Segundo estimativa da Associação Brasileira da Infraestrutura e das Indústrias de Base (Abdib), os projetos de infraestrutura devem demandar investimentos de R$ 922 bilhões no período de 2011 a 2016, o que daria algo em torno de R$ 184,4 bilhões por ano.

Considerando a média de desembolsos do BNDES nos últimos dois anos, de R$ 55 bilhões, sobrariam R$ 130 bilhões para a iniciativa privada. Do total, segundo os bancos, entre R$ 80 bilhões e R$ 100 bilhões serão financiados por meio de dívida. O BNDES costuma participar com 60% a 80% do valor a ser financiado, mas diante do grande número de projetos previstos, espera-se que essa participação se reduza com a entrada de recursos da inciativa privada.

Só o pacote de concessões de ferrovias e rodovias, de R$ 133 bilhões, anunciado no mês passado, demandará investimento de R$ 79,5 bilhões nos próximos cinco anos. Novos programas estão previstos nas áreas de aeroportos, saneamento, energia e petróleo.

No Bradesco BBI, o número de financiamentos de projetos em estruturação já é maior que no ano passado. Entre eles estão os financiamentos para energia, rodovias e portos e um projeto de mineração integrado com a parte logística, diz Rui Gomes Júnior, responsável pela área.

O Bradesco também analisa alternativas para o pagamento de concessões dos três aeroportos leiloados neste ano: de Guarulhos, Brasília e Viracopos (Campinas). “Já há consultas de empresas também para disputa da licitação das rodovias BR 116 e BR 040”, diz.

Instituições que estavam fora do mercado também montam áreas novas, como a Caixa Econômica Federal, bastante ativa no segmento de saneamento mas que prepara um banco de investimento, e os americanos Morgan Stanley e J.P. Morgan.

Alexandre Castanheira, diretor do Morgan Stanley, afirma que a ideia do banco é participar do esforço de levantamento de recursos para projetos de infraestrutura, sempre pensando em uma saída via mercado de capitais. “Queremos atuar como assessor financeiro, levantando capital para diferentes estruturas, desde dívidas sênior até a parcela de ações”, diz.

O project finance é a ferramenta dominante no mundo para viabilizar os empreendimentos de infraestrutura por permitir que as receitas futuras dos projetos sejam usadas para quitar os empréstimos, sem necessidade de garantia dos acionistas e por prazos mais longos. Na Europa, antes da crise, era comum os bancos financiarem projetos de 10 anos a 12 anos. Cenário que deve mudar com as novas regras para o setor bancário conhecidas como Basileia 3.

No Brasil, no entanto, sempre coube aos bancos (incluindo o BNDES) assumir as fases de maior risco, como os projetos iniciais ou a fase de construção do empreendimento, com os chamados empréstimos-ponte, de prazos mais curtos, com o BNDES assumindo o longo prazo. A tendência agora é de maior participação das instituições financeiras em todo o processo, dividindo a parcela longa com os investidores privados.

Até por isso as debêntures de infraestrutura – emissão de dívida sob o regime da Lei 12.431, que conta com isenção de Imposto de Renda sobre os rendimentos para investidores pessoas físicas e estrangeiros – se mostram como alternativa. Segundo Sergio Monaro, diretor do HSBC, elas devem responder por 10% a 15% do percentual financiado, num primeiro momento, servindo ainda para os bancos liberarem capital para novos empreendimentos.

“Essa é uma opção para incrementar a alavancagem do BNDES. À medida que se repliquem os casos, o investidor pode querem ampliar essa fatia”, diz. No limite, as debêntures poderiam responder por metade do total.

Até agora houve apenas uma emissão por esse regime, do Grupo Triunfo, que captou R$ 100 milhões para a hidrelétrica Garibaldi, no Rio Canoas, em Santa Catarina, com taxa de 7,89% mais variação do IPCA. O Santander, coordenador da oferta, vai encarteirar os papéis até o fim da construção, para depois vender as debêntures no mercado secundário. Há outra oferta em andamento, da Autoban.

A expectativa de retorno ainda é uma incógnita, segundo executivos ouvidos pelo Valor. Como a taxa do BNDES, a TJLP, está em 5,5%, contra 7,5% da Selic, o prêmio para atrair investidores privados ainda precisa ser elevado.

Muitos acreditam que os investidores possam se interessar por debêntures com taxas reais (descontada a inflação) de 8% a 9%. Isso representaria um prêmio interessante sobre os papéis do governo atrelados a índices de preços. Em um projeto com taxa interna de retorno entre 10% a 12%, seria possível pensar nessa possibilidade.

A expectativa é que os papéis possam atrair duas fontes de recursos, primordialmente. O financiador clássico será o fundo de pensão brasileiro, em busca de retornos maiores em um cenário de queda da taxa Selic. O segundo aplicador esperado é o estrangeiro. “Já estamos em conversas com grandes fundos”, diz Eduardo Borges, do Santander. O discurso da presidente Dilma Rousseff ao anunciar as concessões de ferrovias e rodovias chamou a atenção desses investidores, diz Zoffmann, do Itaú. “O governo criou um ambiente positivo para o segmento.”

A princípio, os bancos esperam que os fundos estrangeiros que já têm recursos investidos em títulos público no Brasil possam destinar uma parcela para os papéis privados. “No passado, os investidores estrangeiros talvez nem quisessem conversar. Agora ligam para saber o que está acontecendo. É uma mudança grande”, diz Monaro.

Novos entrantes ainda estão fora de alcance. Além do desconhecimento desses fundos com relação ao país, o mercado brasileiro não está preparado para oferecer proteção cambial (hedge) para prazos tão longos. Há ainda a competição com outros emergentes, como Turquia e Indonésia, por exemplo.


Governo agora quer licitar aeroportos no ‘Modelo Vale’

Valor Econômico

Após ter constatado o desinteresse de grandes operadoras europeias e asiáticas em associar-se à Infraero, com uma participação minoritária, o governo recuou do modelo de concessão de aeroportos que vinha ganhando força nas últimas semanas e já pensa em uma nova alternativa. Agora, a aposta é voltar ao desenho de repassar à iniciativa privada uma fatia majoritária dos aeroportos do Galeão (RJ) e Confins (MG).

A presidente Dilma Rousseff resiste em aplicar o mesmo formato do leilão que concedeu três terminais estratégicos, em fevereiro. Ela pretende deixar as empreiteiras fora da disputa e restringir a licitação às operadoras estrangeiras. Também prefere um leilão no qual o vencedor não seja escolhido pelo maior valor de outorga, mas por pontuação que privilegie critérios técnicos.

A gota d”água para o abandono da proposta levada recentemente à Europa, por uma comitiva de ministros e altos funcionários encabeçada pela ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, foi o fracasso da consulta feita à Changi – que administra o aeroporto de Cingapura e se associou à Odebrecht para participar da primeira rodada de privatização dos aeroportos, tendo ficado em segundo lugar na disputa por Viracopos. Em teleconferência com autoridades brasileiras, os asiáticos disseram não à proposta de entrar na Infraero com participação minoritária.

A apresentação do governo, obtida pelo Valor, previa a criação da Infrapar e a busca de um sócio estrangeiro para ficar com uma fatia de 20% a 49% da nova subsidiária da Infraero. Da mesma forma que já ocorre com a Petrobras e a Eletrobras, a Infrapar estaria livre da Lei 8.666/93, driblando as amarras do regime de contratações públicas.

Além do Galeão e de Confins, a subsidiária herdaria as participações da Infraero – 49% do capital – nos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília. O modelo não agradou a nenhuma operadora.

Pelo menos seis administradoras de aeroportos foram consultadas: a alemã Fraport (Frankfurt), a francesa ADP (Paris), a holandesa Schipol (Amsterdã), a britânica BAA (Londres), a coreana Incheon (Seul) e a Changi (Cingapura). Só a BAA, mesmo sem entusiasmo, deixou a porta aberta para eventual associação com a Infraero como minoritária. Ela é controlada hoje pela espanhola Ferrovial. A Fraport surpreendeu os ministros por sua franqueza “germânica” e foi enfática ao defender a retomada do modelo de concessões “puras”.

Apesar da frustração dos planos, o governo ainda resiste a voltar para esse modelo. Uma terceira opção, que agora começa a ser estudada, envolve o retorno da Infraero à condição de minoritária – com, no máximo, 49% de participação. Mas considera a possibilidade de uma “golden share” para a estatal. Por isso, está sendo chamada no Palácio do Planalto de “modelo Vale ” ou “modelo Embraer “, em referência às duas empresas que foram privatizadas nos anos 90, preservando poder de veto ao Estado nas decisões mais estratégicas.

A intenção do governo é evitar a participação de empreiteiras, como ocorreu no leilão de fevereiro. Na ocasião, todos os 11 grupos que entraram na disputa tinham a presença das gigantes nacionais da construção. Odebrecht e Queiroz Galvão lideraram seus consórcios diretamente, enquanto outras tiveram participação indireta, por meio da CCR (Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez) e OAS (Invepar).

Para Dilma, Galeão e Confins enfrentam menos gargalos do que as três primeiras concessões e os principais investimentos para ampliação de capacidade de seus terminais já foram contratados pela Infraero, tornando dispensável a presença de empreiteiras no negócio. O objetivo maior nesses dois aeroportos, na avaliação da presidente, é melhorar a capacidade de gestão.

O próximo leilão também pode aposentar o maior valor de outorga como critério para a definição do vencedor. Auxiliares diretos de Dilma avaliam que isso pode levar à vitória de quem tem mais “bala na agulha” para oferecer ágios robustos, não importa se com propostas viáveis ou não do ponto de vista financeiro, impedindo a escolha das grandes operadoras, que podem transferir mais “know-how” à Infraero. Por isso, a ideia é ter uma disputa em que a proposta técnica defina os vencedores.

Outro grupo de assessores presidenciais avalia que há uma forma mais simples de apertar o funil da concorrência: aumentar, de 5 milhões para mais de 40 milhões por ano, o número mínimo de passageiros que um aeroporto estrangeiro precisa movimentar para que sua operadora seja habilitada ao leilão no Brasil.

O desenho final do modelo deverá jogar o anúncio do pacote de aeroportos, que deveria sair neste mês, somente para outubro. Além do novo sistema de administração do Galeão e de Confins, o governo pretende anunciar um plano de aviação regional, com investimentos de até R$ 4 bilhões. Também publicará decreto que libera a exploração comercial de novos aeroportos voltados para a aviação executiva.

De qualquer forma, segundo avaliam interlocutores de Dilma, não dá mais para insistir na busca de um sócio minoritário para a Infraero. Mesmo alterando o regime estatutário da estatal e liberando-a da Lei de Licitações, ela continuaria sendo submetida a fiscalizações do Tribunal de Contas da União (TCU) e correria o risco de ver projetos parados.

Apesar do receio em dizer isso abertamente aos ministros brasileiros, as operadoras estrangeiras comentaram com grupos privados brasileiros qual é a maior preocupação que têm em assumir uma participação minoritária na Infraero: a “falta de liquidez” de um ativo como esse.

Um exemplo citado pelas operadoras é o da Hochtief, uma das maiores construtoras da Alemanha, que comprou fatias minoritárias em aeroportos como os de Atenas e Hamburgo – em modelo semelhante ao que o governo brasileiro quer aplicar na Infraero.

No ano passado, o grupo espanhol ACS, do empresário Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, fez uma oferta hostil e assumiu o controle da Hochtief, mas não se interessou por esses ativos na área de aeroportos. Desde então, tenta vender a participação nas operadoras de Atenas e Hamburgo, sem sucesso.

A Changi rejeitou comparações entre o modelo elaborado para a Infraero e a ofensiva que fez na Rússia, em junho, ao comprar 30% de participação em quatro aeroportos, incluindo o de Sochi, sede dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014. Embora seja minoritária, a Changi se associou a parceiros locais e esses aeroportos não têm nenhuma participação estatal.


Dilma vetará artigo de MP que limita desoneração

Valor Econômico

A presidente Dilma Rousseff decidiu ontem vetar o artigo do projeto de conversão em lei, da medida provisória 563, que ampliou o conceito de receita bruta para efeito do cálculo da desoneração da folha de pessoal de dezenas de setores. A sanção da MP será publicada na edição de hoje do “Diário Oficial da União”. A mudança no conceito provocou uma série de reclamações das empresas, que alegaram que a mudança do texto original aumentaria a carga tributária, em vez de diminuí-la.

Segundo fonte da área econômica, o objetivo do governo era apenas “atualizar e melhorar” o conceito de receita bruta. Não havia, em tese, a intenção de aumentar a tributação para compensar parte da perda de receita ocasionada pela desoneração da folha. O que se diz no Ministério da Fazenda é que o governo tem elaborado medidas para reduzir o peso dos tributos e tornar as companhias brasileiras mais competitivas. Oficialmente, a Fazenda informou que estava disposta a negociar o assunto com os empresários. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e Confederação Nacional da Indústria (CNI) não comentaram o assunto.

Com o objetivo de estimular a atividade econômica, o governo editou a MP 563 em abril para ampliar para 15 o número de setores beneficiados pela desoneração da folha. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a desoneração da folha para mais 25 setores, sendo que dez atendiam a pleitos de parlamentares e os outros 15 segmentos serão contemplados em nova medida provisória que deverá ser editada nos próximos dias. A partir de 2013, um total de 40 setores deixará de pagar contribuição previdenciária de 20% sobre a folha de pagamento para desembolsar entre 1% e 2% sobre o faturamento bruto.

Segundo fonte da área econômica, praticamente todas as emendas de inclusões de segmentos foram beneficiadas. Mas há alguns subsetores que solicitaram ficar de fora e, portanto, poderão ser vetados do projeto de conversão da MP. Mas a fonte não detalhou quais seriam esses subsetores.

Até o fechamento desta edição também havia a expectativa de que a presidente Dilma atendesse ao pleito do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e vetasse artigos da MP que faziam mudanças na forma de cálculo da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem).

A MP muda a forma de cálculo da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) e do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ). O pagamento desses tributos passaria a ser baseado em valores de mercado e não em valores faturados pelas empresas.


Corte no juro básico estaria perto do fim

O Globo

A injeção de R$ 30 bilhões no sistema financeiro, depois da redução dos depósitos compulsórios dos bancos anunciada pelo Banco Central (BC) na sexta-feira, indica que o ciclo de redução da taxa básica de juros, a Selic, estaria chegando ao fim. A avaliação é da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que em informativo divulgado ontem diz que a liberação dos recursos recomendaria “alguma parcimônia adicional” na decisão futura sobre os juros.

Por isso, diz a nota, “aumentaram as chances de a Selic permanecer nos atuais 7,5% ao ano por um período razoável de tempo”. Para a Febraban, “as atenções do mercado agora devem voltar-se para o comportamento da inflação num quadro de retomada da economia e de um cenário externo um pouco mais favorável”.

O economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, também acredita que a liberação dos compulsórios reduz as chances de uma nova queda da Selic. Segundo ele, parte do dinheiro liberado pelo BC deve ser aplicado em títulos públicos, e outra, direcionada para o setor privado, na forma de concessão de crédito e compra de títulos de dívida privada. Com isso, o economista espera aumento da concessão de crédito e da concorrência entre os bancos:

– Se esse novo crédito for concedido com análise criteriosa, viria acompanhado de uma melhora nos índices de inadimplência.

Segundo Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating, o afrouxamento do compulsório visa a socorrer os bancos de menor porte, que continuam com dificuldades para captar recursos:

– Os grandes bancos podem voltar a comprar carteiras de crédito dos bancos menores. Comprar carteiras, que pagam entre 120% e 130% do CDI, é um negócio muito lucrativo, desde que feita uma boa avaliação do risco desses créditos.

A liberação de R$ 30 bilhões de depósitos compulsórios foi uma reação do governo à freada no crescimento e na queda de custos dos empréstimos. Os dados mais recentes do BC mostram que o volume de crédito dos bancos públicos subiu 1,5% em julho, enquanto, o setor privado apresentou uma leve retração de 0,1%.

Já a taxa cobrada nos empréstimos a pessoas físicas ficou, em média, em 36,2% ao ano, o menor patamar desde 2000. Dessa taxa, 28,4 pontos percentuais são spread bancário. Para a pessoa física, o spread caiu 5,3 pontos percentuais desde o início do ano, e os juros, 7,6 pontos. Os bancos argumentam que a queda do spread é mais lenta por causa da inadimplência. Em julho, esta passou de 7,8% para 7,9%, o maior patamar desde 2009.

Em seu arsenal, o BC dispõe de um estoque de R$ 383 bilhões em depósito compulsórios – último número disponível. Mas esse volume já recuou em decorrência de outras medidas do BC, como a liberação de R$ 18 bilhões para os bancos financiarem automóveis.


Previsão de crescimento cai para 1,57% este ano

O Globo

Pela sétima semana seguida, os analistas do mercado financeiro diminuíram a previsão de crescimento da economia brasileira em 2012, desta vez para apenas 1,57%. Na semana passada, a estimativa dos especialistas ouvidos na pesquisa semanal do Banco Central (BC) era de crescimento de 1,62%. Em junho, quando o banco Crédit Suisse – a primeira instituição a prever um crescimento de 1,5% em 2012 – divulgou sua projeção, o ministro Guido Mantega disse que era uma “piada”. Agora, a maioria das projeções caminha para esse patamar. O Ministério da Fazenda trabalha com uma expectativa de 2% de crescimento.

Mas os especialistas esperam que a atividade se recupere no ano que vem com mais força. Os estímulos dados pelo governo federal com corte de impostos e as sucessivas quedas de juros promovidas pelo BC mantêm intacta a previsão de crescimento de 4% em 2013 há seis semanas.

Já a estimativa deste ano para inflação oficial (medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo, IPCA) subiu pela décima semana seguida. Passou de 5,24% para 5,26%. No entanto, para 2013, caiu de 5,54% para 5,50%. A meta do governo é de 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos percentuais para cima e para baixo.

A previsão para a taxa básica de juros (Selic) para dezembro foi mantida pela sexta semana consecutiva em 7,25% ao ano, sendo que hoje está em 7,5% ao ano.

– O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) não vai levar a Selic para abaixo de 7%, pois as expectativas de inflação saíram do lugar. Por isso, abriu mão de usar as operações de mercado aberto para baixar os juros e está lançando mão do instrumento do recolhimento dos compulsórios para atingir esses objetivos – disse o economista da corretora Gradual André Perfeito.

Na sua visão, o BC preferiu diminuir a parcela dos depósitos compulsórios para estimular o crédito em vez de cortar a Selic.


Atos firmados por Caracas são nulos, diz Paraguai

O Estado de S. Paulo

O presidente da delegação do Paraguai no Parlamento do Mercosul (Parlasul), Alfonso González Núñez, afirmou ontem que os documentos do bloco assinados por representantes da Venezuela – integrada ao grupo após Assunção ser suspenso, em julho, em virtude do impeachment relâmpago do ex-presidente Fernando Lugo – não terão validade oficial.

A declaração é mais uma mostra da resistência do governo paraguaio ao ingresso da Venezuela no Mercosul, enquanto Assunção permanece suspenso do bloco. Segundo o jornal paraguaio ABC Color, González ratificou a decisão do governo do país de recusar US$ 43 milhões do Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul (Focem) previsto para ser usado na construção de uma avenida em Assunção – em razão de a liberação do recurso estar assinada pelo chanceler venezuelano, Nicolás Maduro.

Na sexta-feira, as autoridades paraguaias afirmaram que pretendem realizar a obra com papéis do Tesouro do país. O governo de Assunção declarou que o recebimento da verba foi adiado “até que seja corrigida a grave ilegalidade cometida contra os direitos soberanos de participação e deliberação” no Mercosul.

No sábado, o Paraguai apresentou um protesto formal aos governos de Argentina, Brasil e Uruguai contra a decisão do bloco de suspender Assunção. Na nota oficial, segundo o ABC Color apresentada “por instruções expressas” do presidente Federico Franco e assinada pelo chanceler José Félix Fernández, o governo paraguaio afirma que “se reserva o direito de exigir reparação moral” contra “graves arbitrariedades”.]


Secretário dos EUA vai a Pequim e pede moderação

O Estado de S. Paulo

Com a autodesignação de “mediador de conflitos” entre China e Japão, o secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, desembarcou ontem em Pequim trazendo de Tóquio pelo menos um documento pouco amistoso na pasta – o acordo para construir mais um sistema de radar antimísseis no sul japonês. Na parada anterior, Panetta havia assegurado que o objetivo do projeto é proteger o Japão de eventuais ataques da Coreia do Norte. A China não pensa assim.

“O propósito disso é melhorar a nossa capacidade de defender o Japão e também ajudar o deslocamento de forças dos EUA”, insistiu Panetta, ao lado do ministro japonês de Defesa, Satoshi Morimoto.

Em entrevista para o National Security Channel, da revista Foreign Policy, Panetta afirmou estar no Oriente para apelar à China e ao Japão por uma solução mais pacífica possível “para suas disputas sobre o controle de ilhas do Mar da China”. Em especial, os EUA esperam conter o risco de a China reagir unilateralmente e envolvê-la em um mecanismo multilateral de resolução dessa controvérsia – algo de que a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean, na sigla em inglês) ainda não dispõe.

“É óbvio que estamos preocupados com os protestos e com os conflitos em torno das Ilhas Senkaku”, afirmou o secretário, usando o nome em japonês do arquipélago.

Do Japão, Panetta levou o compromisso do ministro de Relações Exteriores, Koichiro Gemba, de que o caso será tratado com a “cabeça fria”. Na China, Panetta terá um encontro amanhã com o futuro presidente, Xi Jinping – que esteve ausente de atividades públicas nas últimas duas semanas, fato que levantou rumores sobre sua saúde.

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