PCV: Exercemos o legítimo direito a postular candidaturas

Todo voto na cédula do Galo Vermelho é um voto qualitativamente diferenciado, consciente do que representa o PCV para a defesa irrestrita dos direitos do povo.

Caracas, 18 out. 2012, Tribuna Popular TP.- Logo após as declarações do Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista da Venezuela (PCV), nas quais se informou do conjunto de candidaturas postulantes ao governo que se inscreveram na chapa do Galo Vermelho para as próximas eleições do dia 16 de dezembro, algumas pessoas se expressaram com ataques públicos contra a organização comunista.

Para ajudar a clarificar perante o povo os pontos de vista e as posições do PCV, Tribuna Popular, reproduz duas entrevistas oferecidas pelo membro do Birô Político, Carlos Aquino, nas quais desmonta os boatos e elementos lançados contra o PCV. A primeira foi realizada por Sara Carolina Díaz, do jornal El Universal, publicada muito parcialmente em sua edição do dia 17 de outubro; e a segunda, realizada por Priselen Martínez Haullier, do diário zuliano Panorama, e publicada também no dia 17.

SCD: A cédula do PCV aportou quase 500 mil votos a Chávez, mas o PSUV não postulou a Yul Jabour em Cojedes como se pensava. O PSUV segue sem valorizar o aporte de seus aliados?

CA: A votação que aportou na cédula do Galo Vermelho nas eleições do dia 7 de Outubro não foi para buscar candidaturas a governos estaduais, foi para que através da reeleição do presidente Chávez se ajudasse a criar condições para o aprofundamento revolucionário do processo político que vive a Venezuela, mediante a acumulação de força popular revolucionária.

O PCV não postulou o camarada Yul Jabour para o governo de Cojedes, Estado que representa consequentemente como deputado na Assembleia Nacional. Nós planteamos uma outra alternativa, mas valoramos positivamente poder apoiar a Erika Farías.

O PSUV é o partido do governo, e é evidentemente majoritário em nível nacional, mas pouco a pouco se vai dando conta de que existimos e ativamos outras realidades que devem levar em conta, e seguramente as irá valorando mais na medida que as organizações classistas, revolucionárias, autônomas, críticas e propositivas, como o PCV, sigamos nos fortalecendo.

– Ainda que vocês tenham aportado nomes que no final se postularam ao governo, por que acham que se resistem no partido do governo a dar um voto de confiança para que alguns de vocês (em suas filas), como segunda força do oficialismo, possam ocupar um cargo de governador?

– Para nós o maior problema não é que um militante comunista seja ou não candidato a governador por parte do conjunto das forças políticas e sociais que impulsionam o processo revolucionário. O problema é que devem ser criadas as condições para construir coletivamente os programas de gestão que beneficiarão o conjunto do povo em cada Estado e, simultaneamente, gerar os mecanismos para escolher o homem ou mulher a encabeçar a gestão, indistintamente de sua militância partidária.

Não é uma questão de um “voto de confiança”  que gentilmente outorga alguém, ou de uma cota por ser a segunda força política, é o caminho de construir novas formas de participação popular, como expressão de uma democracia revolucionária em gestação.

– Por que lançaram candidaturas paralelas no Amazonas, Mérida, Portuguesa e Bolívar, e rechaçaram as propostas pelo PSUV nesses Estados?

– O PSUV fez o anúncio público de suas candidaturas, algumas delas coincidentes com propostas realizadas pelo PCV, porém, ao não haver um espaço de discussão, exercemos nosso legítimo direito de selecionar quem postularíamos.

Decidimos apoiar 19 das 23 candidaturas apresentadas pelo PSUV, tomando como referência a informação recolhida ao longo de vários meses em todos os Estados, através da estrutura do Partido e de reuniões com diversas organizações regionais.

Nos Estados de Amazonas, Bolívar, Mérida e Portuguesa se evidenciou a dificuldade de apoiar candidaturas que, em distintos graus, consideramos que não cumprem as expectativas do movimento popular nem os enunciados do processo revolucionário em marcha.

No Amazonas, postulamos José Gregorio Mirabal, cuja candidatura emanou de assembleias desde as bases indígenas na região, sendo postulado inicialmente por estas mediante um Congresso regional e assumido pelos comunistas para o fortalecimento do protagonismo indígena.

No Estado de Bolívar, o PCV ratificou a impossibilidade de apoiar um personagem que tem uma longa história de perseguição e agressão contra o movimento operário e uma política abertamente anticomunista, pelo que levantamos a candidatura de Manuel Arciniegas, com o respaldo de organizações populares e de trabalhadores de base.

No Estado de Mérida, um dos dois Estados nos quais o presidente Chávez foi derrotado, necessitamos de uma candidatura reconhecida pelo povo e com experiência, pelo que se decidiu postular Florencio Porras, perante as deficiências de uma gestão que não cumpriu as expectativas do povo.

E, no Estado de Portuguesa, o sectarismo que se incrustou na gestão de governo identifica a necessidade de impulsionar uma candidatura que agrupe os mais amplos setores, por isso inscrevemos o atual prefeito do município de José Vicente de Unda, Oswaldo Zerpa.

– Desde as fileiras do chavismo, acusam o PCV de ser contrarrevolucionários por postular candidatos distintos aos de Chávez…

– Toda organização ou fator político ativado pelo processo revolucionário – seja o presidente Chávez, o PSUV ou o PCV – tem o legítimo direito de expressar e postular quem considere idôneos para cargos de eleição popular.

As candidaturas não são unitárias porque as inscrevem todas ou muitas organizações, senão por emanar de um processo de construção coletiva, de debate, de análise crítica e autocrítica, pelo que, ao não gerar espaços de intercâmbio político, nós exercemos o direito de assumir alianças alternativas que, no nosso entendimento, refletem melhor o objetivo estratégico do aprofundamento revolucionário.

Perante a pretensão de alguns setores interessados em assinalar o PCV e o movimento popular autônomo por alguma responsabilidade no caso de que possam perder alguns governos estaduais, nós afirmamos enfaticamente que não se pode endossar aos que se denominam “Partidos minoritários” essa responsabilidade, senão que esta diz respeito aos partidos que mais peso eleitoral têm.

– Por que questionaram a designação de Loyo? Que outros ministros desaprovam?

– No critério do PCV, a construção do Poder Popular não se gera de forma espontânea apenas por nomear um ministério com essa alcunha, como se fosse um acessório decorativo.

A melhor designação que vemos é a de Ernesto Villegas, do MINCI, não apenas por compartilhar com ele uma consequente vida de luta, senão por seu demonstrado nível profissional.

No caso de Juan Carlos Loyo, o que temos dito é que arrasta muitas críticas em sua gestão anterior à frente do mesmo despacho de Agricultura e Terras, com amplos apontamentos de setores de pequenos agricultores, pelo que ao menos deveria se fazer um exercício de revisão e autocrítica para identificar falhas anteriores e poder remediá-las, se é que são apenas de eficiência na gestão.

Não aprovamos ou desaprovamos nenhum ministro ou ministra, porque isso não nos corresponde, porém se fazer apontamentos críticos ou reivindicar reservas sobre algum, como tivemos com Néstor Reverol ou Aloha Núñez, ou expressar que o “Seguimento da Gestão de Governo” deve ser uma tarefa prioritária do povo organizado mediante o controle social e não estar atada a uma estrutura burocrática ministerial.

– Estão dadas as condições para uma aliança com o PSUV para além do eleitoral? Um clamor que vocês têm há mais de 10 anos. O que lhes faz pensar que desta vez se cumprirá? Só se aliam em eleições presidenciais?

– O PSUV, como tal, não alcança os seis anos, mas, inclusive antes, com o MVR, nós não temos 10 anos reivindicando uma aliança estratégica entre esses dois partidos, temos oito décadas propondo e aplicando uma linha política de ampla unidade anti-imperialista, antioligárquica, antimonopolista, democrática e popular, uma aliança operário-camponesa, a articulação dos amplos setores excluídos e explorados.

Hoje na Venezuela estão avançando as condições para consolidar essa aliança, em um processo de liberação nacional que lhes abra reais perspectivas para a conquista do socialismo no rumo da sociedade totalmente livre e do desenvolvimento pleno: o comunismo.

Não podem contar com o PCV só nas eleições, ainda que quisessem, porque somos um partido com ideologia, com política e com ativismo permanente.

– Acreditam que os 1.700.000 votos que os aliados receberam, mais do que a diferença que logrou o chavismo com a oposição, reconfigure a correlação de forças com o PSUV?

– A correlação de forças que nós propomos não é contra o PSUV, porque este não é um partido contrarrevolucionário.

A necessária acumulação de força é  de caráter popular revolucionário, com a classe operária e o povo trabalhador na vanguarda, frente ao imperialismo, à burguesia e ao sistema capitalista de exploração.

Por isso, seguimos lutando por uma ampla frente nacional anti-imperialista e, em seu seio, de um bloco popular revolucionário rumo ao socialismo.

– Será que os descontentes com o PSUV votaram em vocês e outros aliados?

– Muito possivelmente. Mas não somente descontentes com o PSUV, senão também com atitudes intransigentes e autoritárias de gerentes em empresas públicas que se opõe às legítimas e justas aspirações das e dos trabalhadores e que desenvolvem agressivas práticas antissindicais, com acusações e perseguição contra a massa trabalhadora que defende seus direitos, assim como funcionários e funcionárias do Ministério do Trabalho que favorecem os patrões e obstaculizam o exercício dos direitos coletivos das e dos trabalhadores.

Por isso, todo voto na cédula do Galo Vermelho é  um voto qualitativamente diferenciado, consciente do que representa o PCV para a defesa irrestrita dos direitos do povo.

– Chávez é o projeto revolucionário? Há revolução para além de Chávez?

– Nenhuma pessoa é um projeto revolucionário e nenhum projeto revolucionário pode girar em torno de uma pessoa: ele deve se sustentar em uma ideologia, deve se aplicar em uma política e deve se organizar em princípios de novo tipo.

O projeto e a perspectiva revolucionária venezuelana se sustentam na experiência de luta de mais de 200 anos do nosso povo, nos fundamentos latino-americanistas de Simón Bolívar, na defesa da soberania frente ao imperialismo estadunidense, no internacionalismo e na solidariedade com outros povos em luta; e a possibilidade de definitiva libertação e avanço até o socialismo está indissoluvelmente vinculada ao marxismo-leninismo e à revolução proletária.

Os homens e as mulheres passamos, mas a ideologia e as experiências ficam para nutrir os povos em seu longo caminho de redenção e de construção de uma vida melhor do que a que temos hoje.

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“NÃO BUSCAMOS IMPLODIR O POLO PATRIÓTICO”

Carlos Aquino, membro do secretariado nacional do Partido Comunista da Venezuela (PCV), respondeu às críticas que, desde vários setores do oficialismo, fizeram por postular quatro candidatos próprios para a eleição de governadores do dia 16 de dezembro.

PMH: Por que decidiram não apoiar os candidatos do PSUV para Mérida, Bolívar, Amazonas e Portuguesa?

CA: Cada organização está no seu direito legítimo de inscrever e postular a quem considere a melhor opção. Dissemos não à candidatura de Rangel Gómez (Bolívar) porque esse senhor tem uma larga história de agressões contra os trabalhadores, uma política antioperária e de ataques ao PCV. Em Mérida, pela gestão deficiente (de Marcos Díaz Orellana) e consideramos que Florencio Porras é a melhor opção. Em Portuguesa (com Wilmar Castro Soteldo) consideramos que há enquistada no governo uma política sectária que está impedindo que amplos setores que apoiam o presidente Chávez materializem sua participação; e no Amazonas sucedeu que desde vários meses, desde as bases, os movimentos indígenas fizeram um trabalho que concluiu, inclusive, em um congresso e se fez a consulta.

– O que aconteceu com a candidatura do deputado Yul Jabour para Cojedes?

– Simplesmente foi um rumor, que não saiu das fileiras do PCV. É natural que se corresse porque Yul é deputado à Assembleia Nacional por esse Estado e tem uma boa aceitação, mas não a postulamos, mas fizemos uma proposta diferente; porém, o PSUV apresentou a proposta de Érika Farías, que analisamos e decidimos apoiá-la.

– Essa decisão não significa o rompimento da unidade do Grande Polo Patriótico?

– Em nosso critério, não, porque desde antes do dia 7 de outubro vínhamos insistindo no tema das candidaturas regionais, justamente com a ideia de realizar consultas e discussões em todos os Estados e recolher essa informação, e ratificamos que o que se disse não afetaria a visão até 7 de outubro. O aprofundamento do processo revolucionário não se dá necessariamente com a linha que todo o mundo tem que seguir. Consideramos que expor erros na seleção dos quadros é uma forma de aportar ao processo revolucionário que não necessita de seguidismos, senão de visões críticas, autônomas e revolucionárias.

– Expuseram ao PSUV as razões da decisão que tomaram?

– Só houve uma reunião, em 9 de outubro, e não houve outra. Inteiramo-nos das postulações do PSUV quando anunciaram pelos meios de comunicação. Nós nos reunimos com os movimentos sociais para avaliá-las e de ali tomamos a decisão. Não vemos a razão de buscar implodir o Grande Polo Patriótico porque somos os mais convencidos de vê-lo como um espaço de intercâmbios e construção coletiva.

– O presidente Chávez insiste que o Grande Polo Patriótico deve se manter unido, a aliança para vocês só chegou até 7 de outubro?

– Nossa visão do fortalecimento e aprofundamento do processo revolucionário não só se mantém para as eleições de dezembro, senão para as municipais de abril de 2013. Isso tem a ver com como nos comportamos como organizações revolucionárias e isso está vinculado, no caso do PCV, a ser uma organização autônoma, revolucionária, crítica e propositiva.

– Alguns setores do mesmo Grande Polo Patriótico disseram que o PCV é um “traidor”. O que podem dizer sobre isso?

– Não há nenhuma ação, nem hoje nem no longo dos 80 anos de vida que tem o PCV que possa parecer a algo similar a uma traição. O partido tem sido fiel e leal à luta irrestrita pelos direitos das e dos trabalhadores, e é consequente de seus próprios históricos.

– Os votos que alcançaram em 7 de Outubro são: do PCV ou de Chávez?

– Os votos que se expressaram através da cédula do PCV não são nem do partido, nem de Chávez, mas de um setor consciente, crítico e analítico do processo revolucionário.

Tradução: PCB PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO

“Quando o injusto se converte em LEI, a rebelião se converte em um DEVER.”