Baixo nível de investimento impede expansão, diz Ibre

Enquanto os níveis de investimento se mantiverem baixos e o Produto Interno Bruto (PIB) continuar sendo movido basicamente a consumo, a economia do país estará fadada às taxas tímidas de crescimento que vem apresentando, ao lado de altos índices de inflação. Essa é uma das principais conclusões do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de fevereiro, que será divulgado nesta semana. “Já temos seis trimestres, ou quase dois anos, com o investimento negativo”, explica Silvia Matos, coordenadora técnica do boletim no Ibre, referindo-se à série do Indicador Mensal do Investimento (IMI), feito pela fundação. Apenas no quarto trimestre de 2012, essa queda foi de 1,6%, comparada ao trimestre anterior.

Nos cálculos do Ibre, que prevê um PIB de 0,9% para 2012, o investimento deve registrar uma queda de 0,9% no ano, confirmando-se como o principal fator negativo da conta nacional. “E não é só uma questão quantitativa”, diz Silvia. “O crescimento tem que ter qualidade, e, se não há investimentos, na prática, as empresas têm menor eficiência, não conseguem aumentar a produtividade e isso fatalmente pressiona a inflação.”

Pesa ainda o fato de que basicamente o único motor que restou puxando o PIB em 2012 foi o consumo, seja das famílias, com variação de 1,8% em 2012, segundo o Ibre, seja do governo, que encerra o ano com uma alta de 0,6% e uma participação de 40% na variação total da demanda interna, que foi de 1,5%. “Isso nunca tinha acontecido”, disse Silvia.

Em 2009, ano em que a crise internacional se acentuou e quando naturalmente se espera uma participação maior dos gastos estatais, essa proporção foi de 30%, com o consumo do governo subindo também 0,6% dentro de uma demanda interna a 2%. “Nada contra o consumo. É bom que ele cresça, mas ele não pode ser o motor sozinho. Isso também gera inflação”, disse Silvia. “Se o PIB crescesse os mesmos 0,9%, mas com um consumo um pouco mais baixo e o investimento um pouco mais alto, já seria um quadro melhor.”

É também a falta de investimentos que vem colaborando para estoques em alta: “Os estoques de bens duráveis tiveram uma boa desovada no fim do ano, mas os de bens de capital seguem bastante altos, resultado justamente da falta de investimentos”, disse Silvia. Em 2012, os estoques tiveram um impacto negativo de 0,6% no PIB, segundo o Ibre.

Entre as esperanças de que os investimentos saiam da paralisia, Silvia ressalta os vários pacotes de concessões que o governo vem apresentando ou planejando, entre eles ferrovias, aeroportos, portos e blocos de petróleo. “Todos esses pacotes, junto a uma melhoria do ambiente regulatório, podem voltar a estimular um pouco o investimento”, diz. “Mas não será ainda neste trimestre que a atividade econômica mostrará recuperação. Será necessário antes baixar esses estoques.”

O Ibre prevê expansão de 2,8% para o PIB neste ano. “Não será ruim, porque crescer mais do que 2012 será fácil. A dúvida será ver em que ponto entre 2% e 3% ficará esse crescimento.” Caso a economia mantivesse o ritmo de 0,6% de crescimento – alta estimada pelo Ibre para o quarto trimestre -, seria possível alcançar um PIB anual de 2,4%. “Com o quadro atual, e sem investimentos, o governo não consegue um crescimento de 3% com equilíbrio, e sem inflação.”


Após rebaixamento, cresce pressão sobre o governo britânico

Valor Econômico

A perda histórica da cobiçada nota de classificação de crédito AAA pelo Reino Unido vai elevar a pressão sobre o ministro das Finanças, George Osborne, que tem lutado para reanimar a economia do país e teve de estender repetidamente o doloroso programa de corte de gastos do governo.

Na sexta-feira, a Moody”s previu que a fraqueza econômica continuará a pesar sobre as finanças britânicas por vários anos e rebaixou em um grau a classificação dos títulos de dívida do país para Aa1, mudando sua perspectiva para economia para estável.

O rebaixamento – o primeiro do Reino Unido desde que a Moody”s começou a fazer classificações de sua dívida, em 1978 – é um duro golpe para Osborne e o premiê David Cameron, que tinham prometido preservar o rating AAA. O governo conservadora assumiu o poder em 2010 prometendo consertar a economia, mas a dificuldade que enfrenta para levar o país ao crescimento está ampliando a pressão pública para que demonstre que sua estratégia está funcionando antes da próxima eleição geral, em 2015. O Reino Unido ainda tem classificação AAA com a Standard & Poor”s e a Fitch Ratings, embora a perspectiva de ambas as agências para o país seja negativa.

Investidores e o público britânico vão estar atentos a Osborne, esperando que adote medidas para impulsionar o crescimento durante a amplamente acompanhada apresentação do orçamento anual, marcada para 20 de março.

É improvável que o rebaixamento tenha um impacto significativo sobre os custos de empréstimos, dizem os economistas, mas poderia colocar ainda mais pressão sobre a libra esterlina. A libra é uma das moedas de pior desempenho este ano por uma série de razões, incluindo sinais de que o Banco da Inglaterra toleraria uma moeda mais fraca, para promover as exportações e ajudar a economia.

“Essa tendência pode ser exacerbada por saídas de capital estrangeiro após o anúncio da Moody”s”, afirmou a Goldman Sachs em um comunicado no sábado.

A nota de crédito das maiores potências econômicas (principalmente aquelas que, como o Reino Unido, emitem sua própria moeda) por muito tempo foi considerado inviolável. Mas a crescente dívida do mundo desenvolvido têm causado preocupação, assim como a crise do euro, na qual a Grécia – que em 2009 estava apenas três graus abaixo da atual nota do Reino Unido, segundo a classificação da Moody”s- declarou moratória e rapidamente outros países europeus passaram a ser considerados instáveis em relação a sua dívida.

Nos últimos anos, as empresas de classificação de risco têm pressionado muitos países com nota AAA, o mais notável deles os EUA, que foi rebaixado para AA+ pela Standard & Poor”s em agosto de 2011, e a França, vítima de um rebaixamento de um grau tanto pela S&P como a Moody”s no ano passado. A França tem uma carga de dívida – e desafio de crescimento – semelhante ao do Reino Unido. Ainda assim, as evidências mostram que os rebaixamentos tiveram efeito pequeno sobre os custos de empréstimo desses países.

O rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos estava em cerca de 2,4% pouco antes do rebaixamento da S&P e caiu depois dele. No período de 18 meses após o rebaixamento, o retorno nunca ficou acima dos 2,4%. Na sexta-feira, o rendimento dos títulos de 10 anos estava em 1,965%.

O rendimento dos títulos de dívida de dez anos da França estava em 2,2% na sexta-feira, abaixo do patamar em que estava quando a S&P rebaixou a nota do país, e mudou pouco desde o corte promovido pela Moody”s.

Em certo sentido, a força dos títulos de dívida dos governos dos EUA e da França reflete a relativa escassez de outras aplicações seguras onde os investidores possam por seu dinheiro. A França, assim como o Reino Unido, se beneficiou da crise na Itália e na Espanha.

Osborne, de 41 anos, há muito vinha dizendo que manter a cobiçada classificação de risco AAA do Reino Unido era importante para manter baixos os custos de financiamento e, assim, facilitar o pagamento da pesada dívida do país.

A economia do Reino Unido mal cresceu desde que o governo atual assumiu, em 2010, e ficou no mesmo patamar ao longo do ano passado. Muitos economistas dizem que o Reino Unido pode cair em um “triplo mergulho” recessivo, e a Moody”s fez alusão a um “crescimento lento” persistente na segunda metade da década.

Osborne já teve de estender o doloroso corte de gastos do governo até 2018, três anos além do inicialmente planejado. É improvável que ele atinja suas metas de empréstimo para este ano fiscal, que começou em abril, dizem economistas. Políticos da oposição – e alguns dentro do próprio Partido Conservador, o mesmo de Osborne – têm dito que a estratégia do ministro não está funcionando.

O ministro de Negócios, Vince Cable, membro do aliado Partido Liberal-Democrata, disse ontem que seu partido não apoiaria medidas de austeridade mais profundas para reconquistar a nota AAA da Moody”s.

“Acho que nos aventurarmos em uma política de cortes radicais em resposta a isso [o rebaixamento da nota de crédito] seria completamente tolo e antiprodutivo”, afirmou Cable em entrevista à rede pública BBC.

Ed Balls, especialista em finanças do principal partido da oposição, o Partido Trabalhista, disse que as empresas de classificação de risco estão apenas acompanhando a realidade econômica, mas que o problema fundamental é a falta de crescimento. No domingo, ele apelou para que Osborne e Cameron “tomem medidas urgentes para acelerar nossa economia”.

Osborne disse que permanece determinado a dar continuidade aos seus planos de diminuição do déficit, classificando a redução de crédito como uma “mensagem em alto e bom tom de que o Reino Unido não pode parar de lidar com suas dívidas”.


Foz do Amazonas desperta interesse de petroleiras

O Estado de S. Paulo

A disputa pelos blocos da Bacia da Foz do Amazonas, no ex­tremo norte do País, promete ser a mais acirrada da 11ª roda­da de licitação de blocos exploratórios de óleo e gás, que será promovida pelo governo fede­ral em maio. O motivo é a des­coberta, no litoral da vizinha Guiana Francesa, praticamen­te ao lado da bacia brasileira, de grandes reservatórios ex­ploráveis de petróleo.

Em sigilo, as grandes petrolei­ras articulam sociedades para concorrer às áreas ofertadas pe­la Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). De olho no súbito inte­resse despertado nas compa­nhias pelas jazidas de óleo e gás presumivelmente escondidas no subsolo marinho do litoral do Amapá, o governo aumentou de 172 para 289 os blocos a serem leiloados. Das 117 novas áreas, 65 estão na Bacia do Foz do Amazo­nas, o início da chamada mar­gem equatorial brasileira.

A formação de consórcios para explorar a bacia tem mobiliza­do os executivos das petroleiras desde o ano passado. Esse pro­cesso foi acelerado pela desco­berta na Guiana. A Petrobrás, com a experiência de 43 anos de fracassos na bacia, tem interesse nos blocos e finaliza parcerias com companhias internacionais empenhadas em renovar seus portfólios brasileiros.

O secretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renová­veis do Ministério de Minas e Energia, Marco Antônio Martins Almeida, creditou explicitamen­te o aumento da oferta de blocos na bacia à proximidade dos cam­pos guianenses. “Houve indica­ções de possíveis descobertas importantes na Guiana, a 50 qui­lômetros da fronteira com o Bra­sil. Então, a área brasileira tam­bém tem potencial para desco­bertas”, afirmou o secretário.

Descoberta. O petróleo apareceu pela primeira vez na Guiana Francesa em 2011. O consórcio formada pelas companhias Tullow-Oil, Total e Shell anunciou a presença, em águas profundas, no campo de Zaedyus, de um re­servatório importante de óleo de boa qualidade.

Nem mesmo o fracasso da prospecção de um segundo poço no campo, no ano passado, arre­fece o entusiasmo das empresas interessadas em disputar área da Foz do Amazonas no leilão da ANP. “O bloco da Guiana France­sa permanece altamente pros­pectivo e ainda oferece um exce­lente potencial para exploração com sucessos múltiplos”, diz o comunicado divulgado pela bri­tânica Tullow Oil.

A de scoberta na Guiana Francesa foi saudada pelas institui­ções financeiras que analisam a indústria do petróleo. Para o Bank of America-Merrill Lynch, o achado “abre uma bacia total­mente nova” na América do Sul e Caribe. O Royal Bank of Scotland demonstrou otimismo com a descoberta ao comentar, em nota, que o conteúdo do re­servatório de petróleo “provavel­mente excede a maioria das expectativas”.

O geólogo brasileiro Pedro Victor Zalán, consultor em exploração de petróleo, avalia que “a imensa faixa marítima de águas profundas (acima de 600 metros de lâmina d”água) em frente do Amapá, Pará, Mara­nhão e Piauí encontra-se hoje en­tre as áreas mais cobiçadas pela indústria petrolífera mundial”.

No artigo “O potencial petrolí­fero das bacias sedimentares bra­sileiras além do pré-sal”, publica­do em 2012 no site www.geofisicabrasil.com, o especialista sus­tenta que também as Bacias do Pará/Maranhão e do Parnaíba (no Piauí), cujos blocos vão a lei­lão em maio, apresentam expres­sivo potencial petrolífero.

Zalán diz que o campo da Guia­na Francesa tem reservatório, de acordo com as estimativas ini­ciais, de cerca de 800 milhões de barris de óleo recuperáveis. “A Bacia da Foz do Amazonas, sua vizinha muito maior, passou a ser considerada como potencial­mente portadora da mesma ri­queza. A geologia do litoral da Guiana se estende para a costa do Amapá. Isso está comprova­do pelas linhas sísmicas e estu­dos feitos. Há grande possibilida­de de depósitos de petróleo se­rem encontrados no Amapá. As petroleiras sabem disso.”

Em janeiro, a 11.ª rodada, aguardada desde 2008, foi mar­cada para os dias 14 e 15 de maio. A Bacia da Foz do Rio Amazonas foi contemplada com 96 blocos, indicativo da importância que o governo vem dando à suspeita de que há óleo e gás abundantes nos campos da costa do Amapá.

Os limites da bacia são a fron­teira do Amapá com a Guiana Francesa e a Ilha de Marajó, no vizinho Estado do Pará.


Inflação é prioridade, diz Tombini

Valor Econômico

A prioridade do Banco Central é combater a inflação e não estimular o crescimento, disse seu presidente numa entrevista dias antes da reunião do Comitê de Política Monetária para definir a taxa básica de juros, apesar das dificuldades da economia brasileira de interromper um longo ciclo de crescimento lento.

A economia do Brasil cresceu 1% em 2012, bem menos que os 7,5% de 2010. Ao mesmo tempo, a inflação anualizada bateu em 6,2% em meados de fevereiro, perto do máximo que o governo havia dito que permitiria.

Analistas dizem que a percepção de que há políticas conflitantes para estimular a economia do país e conter a inflação causou confusão no mercado e valorizou o real consideravelmente em poucos meses.

“Nossa meta é a inflação, então temos que ajustar e calibrar nossas políticas para atingir nossos objetivos”, disse Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, ao The Wall Street Journal. “O crescimento não é uma meta do Banco Central.”

Embora poucos economistas esperem que o BC eleve a taxa de juros, que está no mínimo histórico de 7,25% ao ano, quando Tombini e outros membros do Copom se reunirem na próxima semana, alguns dizem que o banco poderia sinalizar que está cogitando elevar os juros no futuro se a inflação continuar ameaçando.

“A inflação nos últimos meses se mostrou mais resistente do que gostaríamos”, disse Tombini no sábado. “Estamos monitorando os desdobramentos atentamente.”

Os mercados provavelmente verão com bons olhos qualquer sinal de que o BC está atacando a inflação, dizem os analistas.

O governo “concluiu que a percepção da credibilidade da política [econômica] estava muito baixa e começou a se esforçar para tentar resolver isso”, disse David Beker, economista para o Brasil do Bank of America Merrill Lynch, em São Paulo.

Essas preocupações levaram alguns investidores estrangeiros a preferir outros mercados emergentes, inclusive o México, complicando as tentativas do Brasil de elevar o investimento a caminho da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. A bolsa brasileira caiu 3% no mês até agora, sendo que havia despencado 20,5% nos últimos 12 meses, segundo a MSCI.

“É por isso que o desempenho do Brasil está baixo”, diz Kathryn Rooney Vera, estrategista de macroeconomia da Bulltick Capital Markets. “Política de risco é importante [devido ao] perigo do descontrole inflacionário e dos danos que ele pode causar.”

Tombini disse que a inflação permanece teimosamente alta por causa do aumento dos preços dos alimentos no ano passado e da desvalorização acentuada do real, que caiu 10% em relação ao dólar em 2012. Ele disse que não espera que a moeda tenha o mesmo comportamento este ano. “Não vejo o mercado afetando o real da mesma forma”, disse ele.

O Brasil tem estado à frente da chamada guerra cambial, em que bancos centrais do mundo todo estão tentando enfraquecer suas moedas para manter suas economias competitivas. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi um dos primeiros a usar o termo, em 2010, depois da crise financeira, e o governo vem adotando controles específicos de capital para reduzir a entrada de recursos.

Mas Tombini disse que o Brasil tem problemas mais graves para resolver. “Não creio que o Brasil deva entrar nesta guerra no momento”, disse.

O BC brasileiro fez intervenções no mercado para manter o câmbio na faixa de R$ 2,00 a R$ 2,10 o dólar durante boa parte do segundo semestre de 2012. A moeda brasileira, contudo, vem oscilando entre cerca de R$ 1,95 e R$ 2,14 por dólar desde dezembro, o que fez alguns investidores cogitarem que o BC estaria usando o câmbio como ferramenta de política monetária para ajudar a economia a se recuperar e para combater a inflação. Tombini disse que esta é uma ideia equivocada.

“Nada disso é a realidade”, disse ele. “[A] taxa de câmbio não é um instrumento nem para combater inflação nem para promover um crescimento econômico sustentável.” O BC pode intervir no mercado de câmbio para impedir uma volatilidade excessiva da moeda, acrescentou ele.

Taxas de juros baixíssimas no mundo desenvolvido e programas de compras de ativos de alguns importantes bancos centrais, inclusive o americano, resultaram numa enxurrada de liquidez nos mercados financeiros globais – provocando grandes fluxos de capital para países de juros altos, como o Brasil.

Apesar dessas iniciativas, “o crescimento [mundial] continuará lento por um tempo”, disse Tombini, acrescentando, porém, que ele vê menos riscos de um choque na economia mundial.

Autoridades em todo o mundo, entretanto, terão que garantir que a reversão dessas políticas de relaxamento monetário e o enxugamento do excesso de liquidez ocorram sem problemas.

“A preocupação daqui para frente será como o mundo vai sair desta […] nova ordem”, disse ele.


Floresta Amazônica será toda mapeada

Correio Braziliense

A Floresta Amazônica passará por um minucioso mapeamento no segundo semestre deste ano na realização do Inventário Floresta Nacional (IFN). A iniciativa do Ministério do Meio Ambiente (MMA) pretende reunir, até 2016, informações de cerca de 22 mil pontos amostrais de todos os biomas brasileiros — cerrado, mata atlântica, pantanal e caatinga, além da Amazônia. A intenção é que as áreas sejam revisitadas a cada cinco anos e monitoradas de acordo com a evolução dos recursos florestais existentes, contribuindo assim para elaboração de políticas de uso e conservação das matas.

Apesar de ser um país reconhecido e admirado mundialmente pela extensa biodiversidade, um inventário das florestas no Brasil só foi feito uma vez, entre as décadas de 1970 e 1980, ainda assim, mapeando somente os recursos madeireiros disponíveis, seguindo uma tendência mundial que buscava alternativas energéticas para a crise do petróleo. Para o diretor do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), Joberto Veloso , no século 21, o foco é outro. “O inventário de hoje está voltado para a obtenção de dados como desmatamento, degradação, usos e funções das florestas, biodiversidade e espécies em extinção”, define Veloso.

Para fazer os registros em cada um dos 22 mil pontos de estudo, os profissionais contratados seguirão um manual elaborado pelo SFB, que determina a medição da altura e espessura dos troncos de árvores, coleta de amostras de cada espécie vegetal e do solo. Também serão realizadas entrevistas com moradores próximos às áreas pesquisadas.

Enquanto o SFB centralizará e consolidará os dados obtidos em campo, as amostras das plantas vão para diferentes herbários, responsáveis pelo trabalho de reconhecimento das espécies. Para controlar o uso da metodologia adotada, o inventário prevê parceria com universidades e institutos regionais, que farão uma segunda medição de cerca de 10% dos pontos, para efeito comparativo.

De acordo com Heron Martins, pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), conhecer a floresta é fundamental para preservar os seus potenciais. “O principal inimigo das florestas é o desconhecimento, que diminui o valor da floresta em pé, e ela passa a valer mais como tora de madeira. Com o inventário, ficará mais fácil evitar a construção de grandes obras, como estradas e usinas hidroelétricas, em áreas de importância biológica”, afirma Martins, destacando que não é preciso esperar pelo inventário para preservar as florestas. “O asfaltamento de uma grande rodovia, como a BR-163, torna diversas áreas acessíveis, e quando não há a presença do Estado, para fiscalizar, é mais fácil que outros atores cheguem, descumpram as leis e provoquem o desmatamento”, comenta o pesquisador.

Piloto

O Distrito Federal e Santa Catarina tiveram as florestas mapeadas de forma piloto, ao longo dos dois últimos anos, para a avaliação da metodologia criada pelo SFB. Na capital do país, os primeiros resultados devem sair no primeiro semestre de 2013, enquanto os de Santa Catarina começaram a ser publicados durante o 63º Congresso Nacional de Botânica, em novembro de 2012. Na ocasião, foi celebrada a descoberta de uma nova espécie de bromélia.

O Herbário Dr. Roberto Miguel Klein, da Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB), em Santa Catarina, é um exemplo dos benefícios que o IFN poderá trazer. “O herbário pulou de 10 mil para 35 mil registros, e hoje conta com mais de 40 mil plantas, totalizando mais de quatro mil espécies distintas”, comemora o curador, o professor André Luís de Gasper.

O professor pondera, entretanto, que o novo material será inútil sem a formação de taxonomistas — especialistas em identificação de espécies —, sem a manutenção e atualização dos sistemas informatizados e do material oriundo das florestas. “Equipar os herbários e garantir que acidentes como os do Instituto Butantã, da Universidade de São Paulo, não aconteçam são fundamentais para a proteção deste tesouro”, alerta Gasper. Em 2010, um incêndio comprometeu parte do coleção de mais de 70 mil serpentes e quase 500 mil aranhas e escorpiões.

Além do mapeamento e coleta, o IFN também analisará cerca de cinco mil pontos em todo o território nacional, por meio de imagens de satélites. Ao serem cruzadas com os dados obtidos em solo, as informações permitirão a formação de um panorama vasto e inédito das florestas brasileiras. “A repetição do inventário a cada cinco anos possibilitará a criação de séries temporais, que mostrarão tendências dentro das florestas. Assim poderemos analisar os resultados de políticas que deram certo ou as que precisam ser implementadas”, conclui Veloso.

Acesso por rodovia

O Programa de Aceleração de Crescimento (PAC2) tem atualmente 5.279km de rodovias em obras de pavimentação ou construção, de acordo com balanço divulgado na semana passada, e a BR-163 responde por 978km do total. A estrada, que liga o Rio Grande do Sul a Santarém, no Pará, tinha um último trecho de terra, entre Guarantã do Norte, em Mato Grosso, e a cidade paraense. O balanço do PAC2 informa que 62% da obra de asfaltamento do trecho já está concluído, floresta amazônica adentro.

Categoria