PIB será modesto pelos próximos 3 anos, diz S&P

 

“Não muito tempo atrás, o Brasil era considerado um importante mercado emergente com grande potencial de crescimento. Suas perspectivas de crescimento costumavam ser comparadas com as de economias de rápido crescimento, como a índia e a China. Agora, no entanto, o Brasil deve ter o terceiro ano de crescimento econômico modesto. E nós não esperamos que as perspectivas de crescimento mudem muito ao longo dos próximos três anos”, destaca o relatório “Brasil Diante de Velhos e Novos Desafios” assinado pelo analista da agência, Sebastian Briozzo.

Para a agência de classificação de risco, o fraco desempenho da economia brasileira tem várias razões. “Reflete o desempenho modesto das exportações e o declínio do investimento do setor privado, em parte causado pelos sinais ambíguos da política do governo, o que tem reduzido a confiança dos investidores”, destaca o documento. No lado da demanda, o consumo também dá sinais de cansaço. “Os gastos das famílias também podem desacelerar ainda mais pelo endividamento do consumidor”, diz o documento.

A S&P também sinalizou que o reforço da estratégia anticíclica do governo federal pode ser uma ameaça ao rating brasileiro. “Dado o espaço fiscal já limitado do Brasil, uma estratégia que se baseia em políticas ainda mais ambiciosas no papel anticíclico para estimular a atividade econômica pode causar aumento da dívida pública a ponto de torná-la inconsistente com a nossa classificação atual”, diz o relatório da agência.

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Economistas sugerem manobra para melhorar saldo comercial

Valor Econômico

Criatividade para melhorar as estatísticas do país não é característica exclusiva do governo Dilma Rousseff ou do Tesouro Nacional, pilotado por Arno Augustin. Na sexta-feira, durante encontro com o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, economistas de mercado fizeram proposta inusitada: a realização de manobra contábil para mudar o resultado da balança comercial.

Quando era ministro da Fazenda, Pedro Malan dizia que “no Brasil até o passado é incerto”. Na reunião de sexta-feira, dois economistas-chefes de bancos sugeriram que o governo transfira, para o resultado da balança comercial de 2012, parte da importação de petróleo e derivados feita pela Petrobras no ano passado e registrada apenas neste ano.

Nos últimos meses de 2012, a estatal importou óleo bruto e derivados no valor de US$ 4,6 bilhões, mas só registrou a compra entre janeiro e março deste ano. Fez isso graças a norma da Receita Federal que permite o registro de importações até 50 dias depois do desembarque do produto. Se o registro tivesse sido feito em dezembro, o saldo comercial de 2012 teria encolhido de US$ 19 bilhões para US$ 14,4 bilhões.

A ideia de transferir importações para a estatística do ano passado tem uma motivação: melhorar o resultado da balança comercial em 2013. No primeiro semestre do ano, o Brasil registrou déficit comercial de US$ 3,1 bilhões. Uma das causas do déficit foi justamente a balança de petróleo e derivados, que acumulou saldo negativo de US$ 8,2 bilhões.

A mudança de registro de importações diminuiria esse déficit para US$ 3,6 bilhões. E produziria um superávit comercial, no primeiro semestre, de US$ 1,5 bilhão. Há mais de uma década o Brasil não registra déficits anuais na balança comercial.

Para o economista-chefe de um grande corretora, presente à reunião com Holland, ao creditar importações de petróleo no ano em que realmente ocorreram, “o governo teria a vantagem de regularizar a série da balança comercial por uma razão estatística e não econômica”. Na avaliação do economista-chefe de um dos maiores bancos privados do país, a sugestão teve o objetivo de corrigir uma estatística importante. “Superestimou-se o saldo comercial de 2012 da mesma forma que, agora, está se subestimando o desempenho da balança comercial [de 2013].”

Os economistas alegaram que a prática de transferir registros de exportação e importação de um ano para o outro é comum em outros países. “As importações da Petrobras foram registradas com atraso. Seria adequado, portanto, registrá-las como sendo de 2012”, explicou um dos participantes da reunião. “Do ponto de vista técnico, é errado fazer isso? Não. O problema é que o governo já está sem credibilidade”, opinou um economista. “É um ajuste que vai sair pela culatra. Não deveria ser feito neste momento”, advertiu.

Segundo apurou o Valor, Holland não fez, durante o encontro, comentários sobre a proposta. Além disso, o ajuste das estatísticas não depende da Fazenda e sim do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A princípio, o governo não está pensando em acolher a sugestão.

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Plantio de transgênicos em expansão

Valor Econômico

O plantio de soja, milho e algodão transgênicos deverá ocupar 40,3 milhões de hectares nas temporadas de verão e de inverno da safra 2013/14 no Brasil, conforme levantamento da Céleres divulgado ontem. Se confirmada, a área será 7,3% maior que a estimada pela consultoria para o ciclo 2011/12 (37,6 milhões de hectares).

As projeções apontam para uma área total de transgênicos de 18,2 milhões de hectares no Centro-Oeste, de 13,7 milhões no Sul e de 3,8 milhões no Sudeste, as três principais regiões produtoras de grãos e fibras do país.

A soja continuará a puxar o avanço dos organismos geneticamente modificados (OGMs) no campo brasileiro. Na semeadura que começará em meados de setembro, a Céleres estima que as variedades transgênicas da oleaginosa cobrirão quase 27 milhões de hectares, 8,9% mais que na temporada passada e 92,4% da área plantada total do grão estimada para 2013/14. Nessa área total, a previsão da consultoria para a colheita é de 85,2 milhões de toneladas.

No levantamento, a Céleres calcula que a maior taxa de adoção das diferentes sojas transgênicas (tolerante a herbicida e tolerante a herbicidas e resistente a insetos ao mesmo tempo) em 2013/14 será no Sul do país. Na região, o percentual poderá alcançar 94,1%, puxado pelo Rio Grande do Sul (99,1%). No Sudeste, a taxa média tende a atingir 93,7%, com destaque para São Paulo (95,2%), enquanto no Centro-Oeste chegará a 93,3%, liderada pelo Distrito Federal (99,7%).

Já o plantio nacional de milho transgênico deverá, conforme a consultoria, ocupar 12,9 milhões de hectares em 2013/14 na soma das safras de verão e inverno, um crescimento de 3,7%. No verão, serão 5,2 milhões de hectares; no inverno, 7,7 milhões. Entre as principais regiões produtoras do cereal, o Sudeste lidera a taxa de adesão no verão aos híbridos modificados, com 91,9%. O Sul puxa a conta no inverno, com 95%. No total, entre variedades convencionais e transgênicas, a Céleres prevê a colheita total de milho em 2013/14 em 85,1 milhões de toneladas.

No caso do algodão, os números são mais modestos. A Céleres prevê que a área total cultivada com o produto geneticamente modificado será da ordem de 470 mil hectares. Em termos absolutos, haverá um crescimento de 4,8%, mas, relativamente, a adesão deverá recuar de 49,4%, na safra 2012/13, para 47% em 2012/13. Nas lavouras de soja e milho, a adesão tem aumentado de maneira progressiva.

Das três principais regiões produtoras do país, o Sudeste também tende a encabeçar a taxa de adesão ao algodão modificado, com percentual de 58,8%.

A Céleres lembra que há um feijão transgênico desenvolvido pela Embrapa liberado para cultivo no país, mas que ainda não há sementes à disposição do produtor.

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Estoques sobem e montadoras cortam produção

Valor Econômico

A indústria automobilística começa a pisar no freio para adequar os estoques de veículos, considerados excessivos pelas montadoras. Em junho, somavam 415 mil unidades. As paradas de produção começaram no mês passado, o que deve contribuir para reduzir o número de carros nos pátios de montadoras e concessionárias.

A General Motors deu licença remunerada de três semanas para os 750 operários da linha que produz o sedã Classic em São José dos Campos. Esses funcionários estavam em férias coletivas desde 22 de julho e voltariam ao trabalho ontem. Com a manutenção da linha parada, a montadora pretende ajustar a produção à demanda do mercado. Os operários só voltarão ao trabalho no dia 26 de agosto

A indústria automobilística começou a pisar no freio para adequar o excesso de estoques gerado nos últimos meses pelo recorde na produção de veículos. As paradas começaram no mês passado e, espera-se, vão contribuir para dar maior equilíbrio ao nível de carros parados nos pátios de montadoras e concessionárias.

Em São José dos Campos, no interior paulista, a General Motors (GM) deu licença remunerada de três semanas para os 750 operários da linha que produz o sedã Classic. Eles já estavam em férias coletivas desde 22 de julho e voltariam ao trabalho ontem. Contudo, a montadora decidiu manter a linha parada, justificando a decisão à necessidade de realizar um ajuste de produção à demanda do mercado. Os operários, então, ficarão em licença remunerada até o dia 23 de agosto, uma sexta-feira. Só voltarão, portanto, ao trabalho na segunda-feira seguinte, no dia 26 de agosto.

Também até o dia 23, a montadora de origem americana vai realizar um novo programa de demissões voluntárias – válido para todos empregados da fábrica – para reduzir o excesso de mão de obra em São José. A linha de produção de automóveis no complexo industrial, que antes fabricava os já aposentados Corsa, Zafira e Meriva, produz hoje apenas o Classic e deverá ser fechada no fim deste ano.

Outras paralisações de linhas já estavam programadas para a realização das obras de ampliação de capacidade, como aconteceu na segunda quinzena do mês passado nas fábricas da Volkswagen e da Scania em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Pelo mesmo motivo, as linhas da PSA Peugeot Citroën vão parar nas próximas duas semanas em Porto Real, no sul do Rio de Janeiro. Cerca de 2,7 mil operários da fábrica terão férias coletivas entre os dias 12 e 26. Nesse período, o grupo – que realiza no Brasil um programa de investimentos de R$ 3,7 bilhões – vai instalar máquinas e equipamentos para ampliar de 160 mil para 220 mil carros a capacidade de produção anual da fábrica.

São paradas que visam aumento de capacidade, mas que podem contribuir a partir deste mês para normalizar os estoques, que passaram a ser foco de preocupação depois que o volume de veículos parados nos pátios da indústria e das concessionárias subiu para mais de 415 mil unidades em junho, ou o equivalente a 39 dias de venda. O mais saudável, dizem analistas e representantes das revendas, seria um giro próximo a 30 dias.

Hoje, a Anfavea, entidade que abriga as montadoras instaladas no país, anuncia, junto com o balanço de vendas e produção de julho, a situação dos estoques no fim do mês passado. Na sexta-feira, a Fenabrave, que representa as concessionárias, adiantou que os níveis continuam preocupantes, mas informou que algumas montadoras eliminaram jornadas extras de trabalho. Em maio, a atividade da indústria automobilística atingiu seu ponto mais alto na história, com 348,1 mil veículos produzidos, incluindo caminhões e ônibus. O segundo maior volume aconteceu no mês anterior, em abril, quando as montadoras fabricaram 347,1 mil unidades.

Ontem, o presidente da Anfavea, Luiz Moan, evitou antecipar a situação dos estoques, mas disse que o programa de produção previsto para o mês passado foi cumprido. Ao participar de congresso na capital paulista sobre as perspectivas para 2014, Moan, que também é diretor de assuntos institucionais da GM, disse ter certeza de que a produção de veículos vai crescer em um ritmo “muito bom” no ano que vem. Para justificar a expectativa, ele citou o crescimento das vendas domésticas e das exportações, além da diminuição das importações – o que abre mais espaço ao carro fabricado no Brasil.

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Dilma reúne base para tentar acalmar Congresso

O Globo

Numa tentativa de evitar a votação das chamadas pautas-bomba na Câmara dos Deputados e ganhar tempo, a presidente Dilma Rousseff se reuniu ontem com os líderes dos principais partidos aliados e conseguiu adiar, em pelo menos uma semana, a votação do projeto que trata da destinação dos recursos dos royalties do petróleo em Educação e Saúde, que estava prevista para hoje com possibilidade de derrota para o governo. Dilma disse aos parlamentares que quer “melhorar o relacionamento do Planalto com o Legislativo” e marcou para a próxima semana nova reunião para tratar de royalties e da proposta que destina 10% da receita corrente bruta da União para a Saúde.

O novo clima, porém, não mudou, pelo menos até ontem à noite, a decisão do presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), de aprovar até amanhã na Casa o chamado orçamento impositivo.

Reunião durou mais de três horas

Em mais de três horas de encontro, Dilma demonstrou disposição para dialogar e anunciou que estava dando novo tratamento ao empenho das emendas; evitou, porém, discutir o tema mais polêmico e rejeitado pela equipe econômica: o orçamento impositivo para a execução de emendas de parlamentares ao Orçamento da União. Os líderes saíram da reunião avaliando que a conversa foi um avanço e representa uma tentativa de apaziguamento e aproximação de Dilma com sua base:

– Foi uma boa reunião, porque o governo deu clara manifestação de que compreende que o Congresso quer dialogar. A presidente está querendo criar uma rotina de diálogo com sua base. Se isso ocorrer com frequência, vai esclarecer pontos que virariam problema por falta de diálogo. O clima não precisa continuar tenso – disse o líder do PSB na Câmara, deputado Beto Albuquerque (RS).

– Queremos melhorar o relacionamento do Planalto com o Legislativo – disse Dilma, segundo os participantes.

– É uma mudança de método em relação à base. Mas, no caso dos vetos, o governo terá que ir para o convencimento, ou não haverá mudança na Casa – avisou Eduardo Cunha (RJ), líder do PMDB.

As referências às questões das pautas-bomba só ocorreram no final do encontro e por insistência dos líderes. Dilma convocou a reunião para defender o programa Mais Médicos. Houve uma longa exposição do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, seguida de um debate. Dilma chegou a fazer a lista dos que falariam na reunião. Mas não há votação do tema prevista para este mês.

À noite, Henrique Alves foi informado pelo líder do PMDB do resultado da reunião, mas ainda queria votar hoje o orçamento impositivo na comissão especial, e amanhã, no plenário. Mas o líder do PT, deputado José Guimarães (CE), tentará convencer Alves a adiar.

– Como a largada foi dada hoje (ontem), nada melhor do que o entendimento para não votarmos isso amanhã (hoje). Uma semana a mais, uma a menos não faz diferença. Temos muito tempo ainda. O momento é de paciência, calma. Quem estiver nervoso, toma uma caldo de galinha, que não faz mal a ninguém. Para a gente poder construir o entendimento com a base – disse Guimarães, na saída do Planalto.

Mais cedo, na Câmara, Alves dissera:

– Esse toma lá, dá cá (de emendas), de muitos governos, de muitos anos, termina nesta quarta-feira à noite, na Câmara, se depender de mim.

No caso dos royalties, o governo é contra o parecer do relator da proposta, deputado e líder do PDT, André Figuereido (CE), que destina todo o dinheiro do Fundo Social para Educação e Saúde. Só aceita a aplicação dos dividendos do fundo nas duas áreas.

– A presidente pediu mais uma rodada (de negociação), e aceitei. Mas não discutimos conteúdo – disse o relator.

À tarde, antes da reunião, Dilma disse que as divergências entre o Planalto e o Congresso fazem parte da democracia e que não considerava que a base estava “brava”. Perguntada sobre a rebeldia dos aliados em votações, brincou:

– Tenho a impressão que a base só é brava com você (jornalista). Comigo não é brava. Vamos ser democráticos, acho que a diferença de opiniões é possível. Acredito que vamos construir um caminho muito seguro para o Brasil.

Após a reunião, Guimarães e o deputado Henrique Fontana (PT-RS) e a ministra Ideli Salvati (Relações Institucionais) deram entrevista, com o discurso de que a relação com a base está sendo ajeitada.

– O clima está harmônico, cooperativo e de integração – disse Ideli.

Sobre orçamento impositivo, o governo é contra a proposta, mas começa a aceitar o parecer do deputado Edio Lopes (PMDB-RR), que obriga o governo a pagar as emendas individuais dos parlamentares destinadas a ações prioritárias, no limite de 1% da receita corrente líquida, hoje em torno de R$ 6,8 bilhões – uma versão mais branda que a proposta original. Esse valor é quase o mesmo (R$ 6 bilhões) que o governo promete empenhar este ano.

 

Segundo Guimarães, ficou acertado na reunião que medidas importantes só serão enviadas pelo governo ao Congresso após diálogo com os líderes da base. Já os vetos presidenciais começarão a ser votados a partir do dia 20, em sessões do Congresso. Nesse ponto, Dilma admitiu rever a posição em relação ao veto feito à proposta de permitir que os taxistas repassem suas licenças a familiares.