Guatemala: Massacre na comunidade maia kakchikel de Nacahuil, opositora à Mina El Tambor

GUATEMALA.- Na noite de 7 de setembro de 2013, agentes armados entraram na comunidade maia kakchikel, de San José Nacahuil, assassinando 11 pessoas e ferindo gravemente outras 15, entre elas várias crianças. Segundo denuncia a comunidade, os fatos ocorreram após uma campanha de amedrontamento contra os povoados, da qual participou a Polícia Nacional Civil (PNC).

A comunidade, que possui suas próprias autoridades e que desde 2005 é responsável por sua segurança interna – não existia presença policial desde então –, se caracteriza por uma defesa decidida de seu território ante as ameaças das empresas extrativistas, tornando-se parte ativa do movimento de resistência pacífica de La Puya contra a Mina “El Tambor”.

A resistência de La Puya

Os habitantes de San José del Golfo e San Pedro Ayampuc se organizam, desde o ano de 2010, num movimento social de resistência frente aos impactos que identificam e com base nos direitos reconhecidos na Guatemala. Em 2011, teve início a construção da Mina “El Tambor” – projeto mineiro Progreso Siete Derivada – operada pela empresa norte-americana Kappes Kassiday & Asocciates KCA e a guatemalteca Exploraciones Mineras de Guatemala S.A. (EXMINGUA). Este processo se viu paralisado pela resistência pacífica dos populares de ambos municípios.

Desde março de 2021, a ocupação pacífica em La Puya – o nome com o qual se conhece o acampamento estabelecido na entrada da mina – é o principal instrumento que o movimento de resistência desenvolveu frente ao projeto de mineração. Dita ocupação começou no momento em que um vizinho impediu a passagem de um caminhão da mineradora e a ele somaram-se outras pessoas no lugar. Desde então, vizinhos e vizinhas mantém uma presença contínua em La Puya.Sua luta se converteu, em pouco tempo, num caso emblemático de resistência pacífica frente a mineração na Guatemala, conseguindo, até a data, colocar em questão o plano minerador na área e evitar o avanço de trabalhos de exploração com os que não estão de acordo. Uma grande parte da população pertencente aos povoados próximos potencialmente afetados pela mineradora constitui a resistência.

Desde o início a comunidade de San José Nacahuil participa deste movimento, tendo participado em diferentes ações de resistência pacífica (recentemente, impediram o ingresso dos veículos da empresa distribuidora de eletricidade).

O processo de intimidação prévia e os alertas comunitários

Em comunicado, o movimento de resistência pacífica de La Puya alertou que, desde 31 de agosto, os ativistas contra a mineradora estão sendo intimidados pela PNC, sendo comprovada a presença de patrulhas que não possuem jurisdição sobre tais municípios. Ante estes fatos, representantes do movimento buscaram a Procuradoria dos Direitos Humanos (PDH) e apresentaram uma queixa ao Secretário do Diretor da PNC, para pedir explicações, sem que estas instâncias pudessem justificar a presença irregular.

Os ativistas apontam que, a partir de suas experiências de resistência pacífica, puderam perceber “que ações como estas servem de preámbulo para execução de ações repressivas contra a resistência: tentativas de remoções ou bem como ações intimidadoras contra mulheres e homens que fazem parte de La Puya”. No comunicado citado, denunciam que “com estas ações, fica claro que as autoridades encarregadas da segurança pública não têm consciência social e em lugar de otimizar os recursos postos a sua disposição para prevenir crimes, os utilizam para intimidar as comunidades em pleno uso de seus direitos”.

O massacre de 7 de setembro de 2013

Como relata o comunicado emitido pela comunidade e por diferentes organizações sociais, em 7 de setembro, às 22:45 horas, uma patrulha policial entrou na comunidade, “revistando estabelecimento comerciais de alimentos e bebidas alcoólicas, perguntando o nome dos proprietários e exigindo falar com eles. Colocaram contra a parede e registraram todas as pessoas que se encontravam nos estabelecimentos”, numa atitude que não é usual em Nacahuil – cabe lembrar que a segurança interna está nas mãos das autoridades comunitárias, uma vez decidido expulsar a PNC no ano de 2005. Pouco tempo depois, ingressou ao povoado um grupo armado a bordo de um carro não identificado, que disparou indiscriminadamente suas armas nas principais ruas da comunidade, “com maior atenção aos negócios que estavam abertos a essa hora”. O saldo deixado foi de, ao menos, 11 pessoas mortas e 15 gravemente feridas, entre elas duas meninas.

Embora diferentes meios de comunicação, inicialmente, tenham atribuído o massacre a um enfrentamento de grupos, esta versão foi taxativamente negada pelas autoridades comunitárias de Nacahuil, que denunciam a manipulação dos meios, repudiam as declarações do Ministério do Interior e exigem que estes fatos não sirvam de pretexto para militarizar o território. Também recordam que os índices de criminalidade na comunidade reduziram desde que a PNC foi expulsa, em 2005.

Estes eventos ocorreram a poucas semanas do aniversário do massacre de Totonicapán – 4 de outubro de 2012 –, no qual membros do exército assassinaram 8 ativistas indígenas, no marco de um processo de criminalização dos movimentos sociais e de militarização dos territórios indígenas, que levou à declaração de dois estados de sítio para defender os interesses das transnacionais.

Mais informações:

· Boletin “La Puya em Resistência. Fazendo frente à exploração da terra“, de Brigadas Internacionales de Paz (PBI).

· Artigo “Consternação e dor pelo massacre contra populares de San José Nacahuil“, em ComunitariaPress.

· Comunicado Urgente das autoridades comunitárias e as organizações sociais de San José Nacahuil.

Fonte: http://codpi.org/observatorio/184-masacre-en-la-comunidad-maya-kakchikel-de-nacahuil-opositora-a-la-mina-el-tambor

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)