Entrevista: um dos cinco cubanos presos nos EUA por terrorismo revela sua trajetória

Adital

Um homem alto, sorridente e de rosto perfilado. Essa é a cara de René González, de nacionalidade cubana, porém nascido nos Estados Unidos (EUA), um dos ‘Cinco Cubanos’, como ficaram conhecidos os cubanos presos nos EUA, acusados de espionagem internacional. Em uma recente entrevista ao Resumen Latino-Americano, González fala de sua vida e de como chegou aos EUA, até ser preso, acusado, segundo ele, injustamente, de cometer atos de espionagem contra o país norte-americano.

González fala que foi convocado pelo governo cubano para se infiltrar em grupos que cometiam atos de terrorismo contra Cuba, situados nos EUA. “Durante algum tempo, eu tive dúvidas se poderia fazer isso, fingir ser uma pessoa que eu não sou. Mas o sentimento revolucionário e de patriotismo me fez aceitar a empreitada, a qual, em nenhum momento, me foi obrigada. Se eu quisesse, poderia ter negado o pedido e nada me aconteceria”.

Ele partiu de Cuba escondido de todos, inclusive de sua esposa, Olga Salanueva. Viajou ‘sequestrando’ um avião durante um treinamento de paraquedismo. “O meu maior medo era a questão do combustível; eu cheguei aos EUA com o tanque quase vazio (…), ninguém me deu permissão para pousar, simplesmente o fiz, e foi o pior pouso da minha vida, estava muito tenso”.

González explica que não teve dificuldades para entrar no país devido à sua origem estadunidense: “assim que me abordaram, eu entreguei minha certidão de nascimento americana, então entrei sem precisar passar pela migração”.

Nos Estados Unidos, René encontrou sua avó e alguns familiares, que o ajudaram a se manter inicialmente. “Quando cheguei lá (EUA), tratei de tentar arrumar um lugar para ficar, o que não foi difícil devido à minha família ser de lá. Minha avó é uma pessoa com o coração enorme e me recebeu de braços abertos, junto com o resto da minha família”. González conseguiu um emprego em uma siderúrgica, mas sempre pensando em ser piloto nos EUA. “Eu já era piloto em Cuba, porém, para exercer essa profissão nos EUA, eu precisava fazer um curso, que era muito caro, então eu juntava o dinheiro que conseguia pensando apenas em fazer o tal curso, tive vários trabalhos por isso”.

Após conseguir a permissão para pilotar, González conseguiu se infiltrar nos grupos terroristas, eram vários, e muitos deles eram apenas desmembramentos de outros, como o Partido Unidade Nacional Democrática (PUND). “Eles (PUND) foram os que assassinaram um pescador em Caibarien, eles eram uma mescla de atividades de sabotagem, crimes contra Cuba e diretamente metidos com o narcotráfico. Era como uma porta giratória, por um lado entra o dinheiro do narcotráfico, para do outro lado utilizarem esse dinheiro para financiar atividades que causassem danos a Cuba (…) Foi na PUND que eu desmantelei a minha primeira ação de narcotráfico. Eu fui designado para trazer droga de Porto Rico com um faturamento de 25 mil dólares. Nesse momento, eu informei o FBI, que impediu que a transação ocorresse e a PUND acabou ficando sem fundos”.

No dia 24 de fevereiro de 1996, dois aviões do grupo ‘Hermanos al Rescate’, grupo o qual González fez parte, foram derrubados pela força aérea cubana matando seus quatro tripulantes. Por conta disso, além de René González, outros quatro cubanos, Gerardo Hernández, Ramón Labañino, Fernando González e Antonio Guerrero, foram presos acusados de enviar informações à Cuba, o que teria resultado na derrubada dos aviões.

O governo cubano confirmou que eles eram espiões, porém que estavam nos EUA apenas para espionar grupos terroristas e não os EUA. O governo de Fidel Castro alegou que eles haviam sido enviados ao sul da Flórida após vários ataques terroristas a Havana, planejados por Luis Posada Carriles, um terrorista e ex-agente da CIA, a partir dos Estados Unidos.

Apesar das claras faltas de provas contra os cinco Cubanos, a corte os condenou pelo crime de espionagem e de conspiração para cometer assassinatos. O cinco foram sentenciados no total a quatro prisões perpétuas e 77 anos. René ficou preso por 15 anos e, após cumprir a pena, foi solto. Os demais continuam presos apesar da pressão internacional para que sejam libertados.

González afirma na entrevista que não vê seus companheiros desde o dia em que foram presos. “A nossa despedida foi brusca, eles nos tiraram do Centro Federal de Detenções de Miami, algemados e nos levaram para Atlanta, que é um centro de distribuição (…). Lá, é um inferno, além de quente, eles nos colocam todos juntos e vão levando um por um para lugares distintos, se tem sorte, acaba com algum companheiro, se não, como foi meu caso, não os encontra mais”.

Para González, é necessário que se apele a tudo o que for possível, já que se esgotaram todos os meios legais para anulação da sentença “tão injusta”. “Temos que apelar para Washington, para os meios de comunicação, para a Casa Branca, para o Congresso, as Cortes, mas, sobretudo, para Washington. Foi lá que se cozinhou todo esse crime e é lá que ele pode ser resolvido”.

Sentenças

Gerardo Hernández Nordelo: 2 prisões perpétuas e 15 anos

Ramón Labañino Salazar: 1 prisão perpétua e 18 anos

Antonio Guerrero Rodríguez: 1 prisão perpétua e 10 anos

Fernando González Llort: 19 anos

René González Sehwerert: 15 anos

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