“OS EUA APOIAM ISRAEL PARA DESTRUIR A PALESTINA E CRIAR UM ESTADO JUDEU PURO, DE TIPO NAZISTA, SEM PALESTINOS COM POSSIBILIDADE DE VIVER ALI”

“Há uma situação muito caótica em todas as regiões do mundo, com raríssimas exceções. Porém, todavia, fora dos lugares de conflito, os povos não estão considerando os grandes perigos que os governantes ocidentais estão provocando. Há um espaço entre o que está ocorrendo no mundo conflituoso e a vida cotidiana dos residentes na Europa, Estados Unidos e Japão. Por esta razão devemos entrar no tema porque, cedo ou tarde, estes grandes acontecimentos na Palestina, Líbia, Síria, Afeganistão e em todos os outros lugares, terão repercussões. Inclusive na Argentina terão repercussões, um impacto, sobre o que está acontecendo no mundo financeiro e nas contas dos acionistas ocidentais. Em termos gerais, são grandes problemas, grandes confrontos, mas que, todavia, não tiveram o impacto na mentalidade da população, porque não afetaram seu bolso e sua maneira de viver”, disse o sociólogo norte-americano James Petra na CX36 ao analisar a situação de caos em que o império imerso no mundo inteiro. A seguir, transcrevemos a análise que pode ser ouvida aqui:

http://www.ivoox.com/james-petras-28-julio-audios-mp3_rf_3356324_1.html

Efrain Chury Iribarne: James Petras, bom dia. Bem-vindo aos microfones da Radio Centenario.

James Petras: Bom dia. Estava esperando este contato.

EChI: Petras, há muitos temas para discutirmos. Vamos começar: estamos em uma guerra fria?

JP: Eu acredito que estamos entrando em um período de grandes tensões. O mundo arde. Há uma situação muito caótica em todas as regiões do mundo, com raríssimas exceções. Porém, todavia, fora dos lugares de conflito, os povos não estão considerando os grandes perigos que os governantes ocidentais estão provocando.

Há um espaço entre o que está ocorrendo no mundo conflituoso e a vida cotidiana dos residentes na Europa, Estados Unidos e Japão. Por esta razão devemos entrar no tema porque, cedo ou tarde, estes grandes acontecimentos na Palestina, Líbia, Síria, Afeganistão e todos os outros lugares, terão repercussões. Inclusive na Argentina terão repercussões, um impacto sobre o que está acontecendo no mundo financeiro e nas contas dos acionistas ocidentais.

Em termos gerais, são grandes problemas, grandes confrontos, mas que, todavia, não tiveram o impacto na mentalidade da população, porque não afetaram seu bolso e sua maneira de viver.

EChI: Qual é a origem deste caos de que você fala?

JP: Obviamente o centro do que está afetando o mundo atual, esta crise, está diretamente localizado na política militarista ocidental.

Podemos fazer um rápido apanhado do que está ocorrendo.

Em primeiro lugar, Washington organizou um golpe de Estado na Ucrânia, colocou no poder um governo fantoche, que anunciou políticas sumamente reacionárias nesse país, dirigidas particularmente a colocar os cidadãos de idioma russo, em condição de cidadãos secundários. Isso provocou um conflito entre os povos democráticos do Leste e os agressores fantoches de Kiev.

Além disso, temos os fracassos que fomentaram conflitos na África, na Líbia – onde existe uma guerra de todos contra todos, destruindo os grandes avanços do presidente Gaddafi –, no Egito e agora entramos no genocídio de Israel, produto de 50 anos de financiamento e apoio militar e diplomático dos Estados Unidos.

O genocídio em Gaza, o assassinato indiscriminado do governo judeu de Tel Aviv, provocou enorme choque entre os povos em todo o mundo, a tal ponto que a grande maioria dos cidadãos considera Israel como a principal ameaça à paz mundial. Porém, Israel não leva em conta as críticas de nenhuma parte porque estão assegurados pelo apoio dos poderosos grupos judeus sionistas da Inglaterra, Estados Unidos, etc. que sempre vai apoiá-lo ante qualquer crime de lesa humanidade, qualquer violação das leis de guerra e qualquer ato de criminalidade do Processo de Nuremberg (1).

Creio que é o grande tema que está explodindo em todas as partes do mundo e não se pode evitar.

Israel lançou milhares de toneladas de bombas sobre áreas povoadas do povo palestino, mataram – segundo dados de hoje de manhã – 1.100 palestinos, ferindo cerca de dez mil; destruíram todos os locais de trabalho, fábricas; espaços educativos – escolas arrasadas – e religiosos – santuários, igrejas; é um estilo nazista, com o respaldo de todos os mais prestigiosos judeus sionistas do mundo. Não há nenhuma organização sionista de massas que tenha criticado Israel.

Agora, existem vozes de judeus críticos, existem pequenos grupos que criticam e existe uma porcentagem importante da nova geração de judeus – de menos de 30 anos – que questiona Israel e diz que, inclusive, não é mais judia: “se isso é o que representa ser judeu, não quero mais ser parte disso”, dizem.

Esses são sinais positivos, mas com um alto custo contra o povo palestino. Esse é o grande problema.

No entanto, temos o conflito na Síria, onde as forças mais extremistas islâmicas também têm o apoio secreto dos países ocidentais para tombar o governo. Enquanto isso, no Iraque os extremistas islâmicos sunitas estão atacando o governo nacionalista de Bashar Al Assad.

Este estilo de fomentar conflitos em todos os lugares criou esta situação de tensão. Não é apenas um conflito entre a Rússia e os Estados Unidos. Há conflitos entre as forças democráticas e o mundo ocidental na Ucrânia. Falo de conflitos violentos. Hoje em dia recebemos informação da Ucrânia, onde existem mais de 1.200 mortos, 3.500 feridos, cem mil refugiados, produto do governo pró-ocidental agressivo que está atirando bombas sobre territórios povoados.

Depois, temos outro conflito quando o governo norte-americano, dando apoio aos fundos oportunistas, atacando e tentando forçar o governo argentino na declaração de moratória. É um conflito político. Os que falam de negociações entre o governo argentino e os fundos oportunistas se equivocam. Os fundos oportunistas e o juiz, o processo jurídico, tudo está corrompido. É uma expressão de um conflito político, é necessário contextualizar, entre (Barack) Obama e (Cristina Fernández de) Kirchner. E a possibilidade de conseguir a capitulação da Argentina é para desprestigiar o governo de centro, ou de esquerda, e facilitar a ascensão de um governo de direita entreguista, no modelo do que existiu nos anos 90 com Menem e, depois, com De la Rúa. Isso é o que há por trás das pressões, desta confrontação que está, agora, em processo aqui em Nova York, onde estão sentados buscando uma solução. Porém, os mercados em Nova York dizem que há 50% de possibilidade de um acordo de última hora e existem outros setores que já estão se preparando para a moratória e os tremores afetarão o mercado financeiro.

Tudo isto indica que não estamos ante uma simples guerra fria tradicional, como a de antes: a URSS contra EUA e a OTAN. Agora temos um conflito entre países ocidentais com toda uma gama de novas forças emergentes, que representam um grau de independência ou um esforço de criar um mundo bipolar.

E não mencionamos a China, outro problema e outro lugar de grande conflito avançando, com os EUA organizando desesperadamente aliados na Ásia para bloquear a China. Hoje o Departamento de Comércio impõem novas tarifas às importações de material solar da China, uma tarifa de 160%. É uma provocação. Não digo que os solares sejam grande parte do comércio, mas é um indício da política dirigida a provocar a China para que tome medidas em represália.

Creio que esta é outra fonte da nova guerra.

Em suma, os EUA apoiam Israel, provocando um grande confronto com o povo palestino, para destruir a Palestina e criar um Estado judeu puro, de tipo nazista, sem palestino com possibilidade de viver ali. Outros lugares, Oriente Médio, África do Norte, Líbia, Síria, Iraque, Afeganistão, outras guerras frias, Rússia, Ucrânia acusada de coisas absolutamente fabricadas e os meios de comunicação aqui – devo dizer – têm mudado dramaticamente, antes permitiam algum debate, mas agora não existe debate algum. Os meios de comunicação mais prestigiados são braços políticos e propagandísticos do governo. O Financial Times, o New York Time, o Washington Post, The Wall Street Journal, toda a imprensa, e sem falar de outros meios de comunicação. Qualquer prova que a Rússia mostre, fotos aéreas mostrando que os mísseis ucranianos estão dirigidos aos aviões que passam por cima, não aparecem nos jornais. No entanto, os EUA não apresentam nenhuma prova, simplesmente saem falando da responsabilidade russa. Além disso, a imprensa daqui não exige provas. É uma coisa insólita neste país o fato de que hoje não haja nenhuma fonte independente do governo. E qualquer um que fale sobre estas coisas na imprensa é expulso. Há uma jornalista de um canal de televisão importante que comentou sobre quando os israelenses brincaram por informar sobre os assassinatos de civis palestinos, chamando-os de ‘lixo’ (2). E por dizer ‘lixo’ aos israelitas, a grande emissora norte-americana a transferiu. Em outras palavras, foi um miniexpurgo, porém serviu de aviso a todos os jornalistas de que não existe a menor possibilidade de desviar-se da linha reta imposta pelo governo norte-americano.

EChI: Se acertam os detalhes para a chegada dos presos de Guantánamo ao Uruguai. Restam muitas prisões como essa nos EUA?

JP: Existem prisões clandestinas em muitas partes do mundo e existem muitos dos chamados centros de detenção para os ‘ilegais’, ou seja, pessoas que entram no país com algum problema de documentação. Há milhares e milhares de pessoas sem documentos detidas.

Então, temos presos políticos há um bom tempo. Inclusive há o caso de um grande dirigente indígena que passou mais de trinta anos na prisão acusado falsamente de matar um oficial da polícia.

Temos presos que estão sofrendo pelo simples fato de terem sido encontrados com posse de 1grama de maconha e permanecem na prisão há 5 anos.

Existem muitos tipos de presos aqui, presos políticos, imigrantes, que sofrem todas as torturas que você pode imaginar e não apenas castigos físicos, mas castigos psicológicos. Por exemplo, existem prisões que se chamam “o poço”, onde estão encarcerados em pequenas celas onde quase dá para esticar o corpo e nada mais. E ali podem passar meses, apenas por terem se queixado do tratamento que lhes é dado ou da comida podre que recebem. Além disso, há muito poucos que podem intervir, algum advogado ou algum defensor dos direitos civis. Porém, a imensa maioria não possui defensores públicos. Se não têm dinheiro estão perdidos neste inferno que temos.

Acredito que além dos EUA, em países como Arábia Saudita e Egito, temos presos escondidos que não são notificados e ninguém consegue saber onde estão, porque tudo está feito pela Polícia Secreta e as Forças Especiais. Cada mês são raptados e sequestrados indivíduos que desaparecem e ninguém sabe onde estão e nem o motivo dos sequestros. É um Estado terrorista que funciona na clandestinidade.

Então, para responder essa pergunta devemos entrar nos arquivos da Polícia Secreta, o que não é nada fácil.

EChI: Os últimos minutos, como sempre, ficam para que comente outros temas de seu interesse.

JP: Bom, o fato mais importante aqui nos EUA, neste momento, é o tratamento das crianças imigrantes que estão nos centros de detenção, maltratadas, dormindo no chão, que estão frente a uma expulsão em grande escala. Este tratamento desumano é produto de uma política profundamente hostil aos imigrantes mexicanos centro-americanos. E Obama tenta envolver os governantes da América Central, o governo marionete de Honduras, o governo direitista da Guatemala, o governo de pseudoesquerda de El Salvador. Todos estão em colaboração com Obama para tentar uma forma de devolver as crianças. Porém, por que devolver? Saíram da América Central porque existem grandes problemas econômicos, violência, gangues, repressão, existe uma falta de perspectivas para a vida cotidiana. Isso é algo comum em Honduras, tanto sob o governo de direita como nos governos de centro-esquerda. E estes três patetas atuando em colaboração com Washington não levantam sua voz para dizer que os responsáveis são os EUA, pelas guerras que lançaram na América Central, desarticulando suas economias, impondo o neoliberalismo e forçando-os a tentar reorientar o povo. Não podem simplesmente devolver os migrantes porque vão voltar a buscar uma saída, já que nestes países não existem possibilidades, não existe emprego, não existem investimentos que geram uma forma de viver decentemente.

Esta problemática não entra no debate do Congresso norte-americano, ninguém recorda os 75.000 mortos em El Salvador nos anos 80 e 90; ninguém fala dos 200.000 guatemaltecos assassinados pelas forças contrainsurgentes norte-americanas; ninguém fala das dezenas de milhares de hondurenhos deslocados pelo golpe de Estado dos EUA em 2009; ninguém fala das causas estruturais fundamentais pelas quais as pessoas têm que sair; e porque as pessoas desesperadas mandam suas crianças para que busquem uma maneira de entrar nos EUA e buscar seus parentes para que vivam, pelo menos, de forma minimamente segura. Ninguém fala disto. Aqui se debate sobre quanto dinheiro é preciso para expulsar os imigrantes, quantos policiais mais precisam colocar nas fronteiras, quantos centros de detenção mais precisam construir. O debate é sobre dinheiro e número de policiais, não sobre os grandes temas estruturais que enumeramos.

É um país moralmente na bancarrota, politicamente reacionário e onde os cidadãos são ignorantes das realidades que enfrentam na vida cotidiana.

EChI: Petras, parabéns por esta análise. Muito obrigado. Reencontramo-nos na segunda-feira.

JP: Sim. Apesar do mundo ser um caos, ainda não atingiu algumas terras, pelos menos lugares tão específicos como o Uruguai, onde, nas zonas da Rocha, esta manhã, as pessoas entraram no mar 20 km da costa. Diz-se que a pesca de corvina anda muito boa.

Um abraço.

(*) Escute ao vivo às segundas-feiras, às 11:30 horas (hora local), a audição de James Petras no CX36, Radio Centenario, de Montevidéu (Uruguai) para todo o mundo através dewww.radio36.com.uy

Notas de redação:

(1) Os Julgamentos de Nuremberg ou, também, Processos de Nuremberg, foram um conjunto de processos jurisdicionais empreendidos por iniciativa das nações aliadas vencedoras ao final da Segunda Guerra Mundial, nos quais se determinaram e sancionaram as responsabilidades de dirigentes, funcionários e colaboradores do regime nacional-socialista de Adolf Hitler nos diferentes crimes e abusos contra a Humanidade cometidos em nome do III Reich alemão, a partir de 1° de setembro de 1939 até a queda do regime alemão em maio de 1945.

(2) Jornalista da CNN que chamou de lixo um grupo de judeus em Israel é transferida. A CNN transferiu a correspondente Diana Magnay, lotada na Faixa de Gaza, depois de publicar um twitt em que chamava de lixo um grupo de judeus que ameaçaram sua equipe, se dizendo algo que não era. “Ela lamenta profundamente a linguagem que utilizou, que se dirigia diretamente aos tinha atacado nossa equipe”, disse uma porta-voz da CNN.

Fonte: http://www.radio36.com.uy/entrevistas/2014/07/28/petras.html

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)