Por trás da morte de Nisman existe “uma tentativa de golpe de Estado”

O ex-juiz da Corte Suprema fez esta afirmação na Televisión Pública, no marco de um especial sobre a morte de Nisman, do qual participa junto de outros juristas de renome.

O ex-juiz da Corte Suprema da Nação, Raúl Eugenio Zaffaroni, manifestou que a morte do promotor Alberto Nisman é “uma tentativa de golpe de Estado de alguma maneira, uma tentativa seria de desestabilização. Não é nova. Sacar um morto não é nada novo”.

Em declarações à Televisión Pública, o prestigiado criminalista afirmou existirem duas hipóteses: “Ou bem fez isto como um jogo, um péssimo holofote para tentar armar um escândalo, e este rapaz se encontrava apenas com algum problema de personalidade e se suicidou. Ou bem é uma coisa mais terrível, onde primeiro o usaram e depois o mataram. Ainda hoje eu me inclino pela primeira. A segunda me parece terrivelmente tenebrosa. Talvez o inconsciente esteja me dizendo que não é essa”.

Nesse contexto, o jurista Julio Maier expressou: “Um delito não é qualquer coisa. Hoje a política faz da justiça penal uma cura para todo problema que exista. Há apenas a possibilidade de denúncia quando começa, é o que nós chamamos de tentativa”.

“Não me imagino como é possível cometer um crime com uma relação”, disse Maier, que acrescentou: “Começar a cometer um delito por um tratado, a verdade é que me comoveu porque não pude entendê-lo, sobretudo, porque a denúncia era dirigida à autoridade máxima”.

Zaffaroni levantou suas dúvidas porque Nisman “descreve uma conduta que não é crime”, já que “os atos preparatórios não são delito” e o denunciado “não chega ao grau de tentativa”.

“Alguém o determinou, alguém deu a informação falsa”, disse o jurista sobre os motivos que levaram Nisman a fazer a denúncia em janeiro. “Ninguém, em 24 horas, escreve 300 folhas”, assim como “não é certo que isso tenha sido determinado” por uma possível saída para a causa, pois “poderia tê-lo jeito como cidadão”.

Nesse marco, o ex-juiz da Corte disse: “Aí existe algo estranho. Eu creio na boa fé do senhor Nisman”.

De sua parte, o presidente da Câmara Penal de Juízo às Juntas, León Arslanian, apontou: “a denúncia está órfã de elementos comprobatórios sérios para ser considerada, para ser considerada como provas nos termos de credibilidade de um Código Processual”.

“É um relato que está muito mais relacionada com o gênero do ensaio que com o jurídico, que devem ter escritos dessa natureza”, destacou Arlslanián, que analisou: “O que poderíamos chamar de provas incorporadas ao expediente são nada mais que escutas telefônicas levadas a cabo por uma agência de inteligência, como é a ex-SIDE”.

O prestigiado criminalista reclamou que o escritório de escutas da Secretaria de Inteligência deveria ser passado à Corte Suprema de Justiça da Nação e recordou que o juiz da causa Amia, Rodolfo Canicoba Corral, expressou que “as escutas que ele dispôs tiveram uma finalidade distinta da razão pela qual ele as concedeu ou foram feitas de modo irregular à margem da causa, do expediente, em uma sorte de investigação feita em paralelo”.

Consultado sobre a afirmação de Zaffaroni acerca de que a morte de Nisman é parte de uma tentativa de golpe de Estado, Arslanián respondeu: “É muito difícil saber se a finalidade perseguida era essa. Porém, é claro que o fato em si estava destinado a gerar uma forte crise de confiança no governo e em sua eficácia para conduzir o país. Eu acredito que essa é, verdadeiramente, uma ação de natureza política, que visa minar a credibilidade do governo”.

“Nestes termos, me aproximo do que disse Raúl com relação às implicâncias políticas do fato”, assegurou o ex-funcionário do Juízo às Juntas.

“O meu entendimento sobre o golpe de Estado talvez seja um conceito cultural mais parecido com outros tipos de fatos que, por sorte, há 30 anos não ocorrem mais por aqui. Assim, torna-se muito difícil pensá-lo no sentido de golpe de Estado. No entanto, é certo que com o jogo que está se dando neste país, pretende-se, de alguma maneira, ganhar algo com isto, desautorizar a autoridade da Presidenta da República antes do tempo”, contestou Maier, ante a mesma consulta, em que considerou ter se buscado “tentar comover”.

“Julio me imputava o conceito de golpe de Estado. Cuidado, o colonialismo possui distintos momentos, o golpe de Estado na era do neocolonialismo era sacar o Exército e ocupar a Casa de Governo. Agora, nesta fase avançada do colonialismo chamada globalização, são diferentes os golpes de Estado, são desestabilização de governo como o que se faz fundamentalmente através de meios massivos de comunicação”, disse Zaffaroni.

Nesse sentido, o ex-juiz da Corte recordou que “no ano de 1955, os Estados Unidos terminaram a Guerra da Coreia. Quando começaram a desocupar o território, começaram a ocupar a América Latina, desarmando todos os governos mais ou menos populares que existiam no momento”.

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=IGuSUPizVRA

Fonte: http://www.telam.com.ar/notas/201501/93077-zaffaroni-muerte-de-nisman-golpe-de-estado.html

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)