Porto Rico: o fracasso da colônia

imagemResumen Latinoamericano/Periódico Claridad, 2 de julho de 2015 – Após a publicação do chamado Informe Krueger, a mais recente e devastadora descrição da situação econômica e fiscal do Porto Rico, ninguém, exceto os alienados e politiqueiros, deve ter dúvida acerca do fracasso retumbante da experiência colonial dos Estados Unidos em nosso país.

Por 117 anos, o governo estadunidense e seus cúmplices tentam desmentir as históricas denúncias sobre nossa condição colonial, feitas pelo movimento independente porto-riquenho e nossos aliados internacionais, empenhando-se em mostrar ao mundo o rosto próspero e exitoso de um Porto Rico ao que “generosamente” concederam em 1952 um singular modelo de “governo próprio” com o estabelecimento do Estado Livre Associado (ELA). Porém, não é o ELA unicamente o fracassado aqui, mas o próprio processo colonial mediante o qual o governo dos Estados Unidos estabeleceu seu domínio sobre Porto Rico, começando pelo desembarque de suas tropas pela baía de Guánica.

O Informe Krueger, que é desprovido da retórica oca de tantos informes econômicos, retrata despojadamente a verdadeira situação de Porto Rico, um país sem poder político para sair por si próprio da pior crise econômica e fiscal de sua história, em virtude de um modelo colonial esgotado, de um Congresso e um Governo dos Estados Unidos que, mediante a cláusula, territorial têm a última palavra sobre nossos assuntos mais importantes. Porém, agora nos olham com indiferença e se negam a assumir a responsabilidade sobre o desastre colonial que criaram. Agora, continuamos à mercê do mesmo imperialismo estadunidense que, após militarizar e contaminar com bombas o melhor de nossa terra e águas territoriais; de explorar nossas melhores pastagens sob seu monopólio canavieiro para depois abandoná-los e forçar nossa primeira grande migração; de converter o trabalho de nossa gente em mão de obra barata para suas indústrias leves e pesadas, e agora para seus armazéns, com salários que não permitem uma família cobrir suas necessidades básicas; de converter nosso solo e aquíferos em aterros de seus resíduos petrolíferos e farmacêuticos; de impulsionar o desenvolvimento desmedido que pretendeu nos transformar em uma peça de “real estate”; de nos converter em um mercado cativo para sua mercadoria barata, sem querer tributar os impostos em nosso país, e de que em uma ganância incontrolável seu sistema financeiro tenha promovido o endividamento do País, por cima de nossas capacidades, pretende agora ignorar e nos deixar sozinhos neste beco sem saída, com a migração massiva de nossas gerações em idade produtiva como marca do passado, presente e futuro de nossa tragédia coletiva.

O que é ainda pior, porque ruma à essência mesma de como se pode minar o caráter e a dignidade de um povo colonizado. Esse mesmo governo e esse mesmo imperialismo, em seu empenho por negar-se a enfrentar o fracasso de sua gestão no Porto Rico, promoveu a pior dependência entre nossa gente, uma dependência que desencoraja o trabalho porque, como assinala o próprio Informe Krueger, um trabalhador que ganha o salário mínimo no Porto Rico e tem uma família para manter, receberia $400 mais por mês para ficar em sua casa sem trabalhar, vivendo das transferências de programas assistenciais – as chamadas “ajudas” – do Governo dos Estados Unidos.

A própria natureza da relação de poder entre uma metrópole e um território colonizado torna impossível que existam colônias vitoriosas. O propósito da dominação colonial é precisamente explorar os recursos e os habitantes das colônias para benefício da metrópole e de seus interesses econômicos dominantes. O sucesso não é possível pela relação de opressão na qual o poder colonial impõe e controla as regras do jogo e se nega a reparar os prejuízos causados pelo colonizador, a menos que sejam expostos à vergonha pública por suas arbitrariedades. Assim, o vimos durante o século XX com o advento da independência de muitos territórios coloniais. Todos foram explorados, espoliados e deixados na miséria por suas respectivas metrópoles. Um exemplo emblemático e dramático, dada a vastidão de seu território e a magnitude de seus recursos naturais, é a Índia, nação que demorou quase um século para começar a se recuperar dos estragos do colonialismo britânico.

A crise que os Estados Unidos incubaram e lançaram sobre Porto Rico chegou a sua máxima expressão. A consciência e organização de nosso povo dependerão que não possam evitar a responsabilidade de reparar os muitos prejuízos sofridos por nossa nação durante estes 117 anos. E a maior reparação será reconhecer, voluntariamente ou não, o direito do povo porto-riquenho a sua autodeterminação e independência, o que nos permitirá reunir as ferramentas necessárias para superar o fracasso colonial e direcionar o País por um caminho melhor.

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2015/07/02/puerto-rico-el-fracaso-de-la-colonia/

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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