A Casa Branca impassível diante da revelação de segredos

A Casa Branca ficou em silêncio diante do vazamento de documentos do Wikileaks sobre a guerra do Iraque em meio a chamados internacionais para que os Estados Unidos digam por que a vista grossa diante das torturas sistemáticas no país.

Os relatórios militares e de inteligência divulgados indicam que as forças norte-americanas não prestaram atenção a provas fidedignas de que as forças iraquianas torturavam e matavam seus presos quando combatiam uma insurgência violenta.

Os documentos revelados no maior vazamento de informação secreta da história dos Estados Unidos sugerem que o número de iraquianos mortos nos anos de violência sectária e criminosa depois da invasão norte-americana de 2003 foi muito superior ao reconhecido.

Quase 400.000 supostos casos de guerra incluem mortes desconhecidas ou não reconhecidas até o presente que, segundo um grupo independente, não somariam menos de 15.000.

O New York Times assinalou que ignorar a maioria dos casos de abusos equivale a “indiferença institucional”.

O Times mencionou que a situação é particularmente significativa, dado que o plano de retirada das tropas norte-americanas do Iraque se assentou na passagem das funções de segurança à polícia e o Exército local iraquianas.

O relator especial da ONU sobre a tortura, Manfrede Nowak, e a organização de direitos humanos Anistia Internacional instaram o presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, a abrir uma investigação sobre a participação de forças norte-americanas em abusos de direitos no Iraque.

Em Bagdá, o primeiro ministro iraquiano acusou o Wikileaks de difundir os documentos para sabotar sua relação.

O escritório do primeiro ministro Nuri Maliki disse que a difusão dos documentos poderia obedecer a motivações políticas.

Al Maliki, de etnia xiita, luta há sete meses para conservar seu posto, depois que as eleições nacionais de março não apresentaram um ganhador claro.

Segundo a declaração, os documentos não contêm provas de caráter abusivo aos detentos durante o período de Al Maliki à frente do governo iraquiano.

Os relatórios de guerra saíram à luz apesar da insistência do Petâgono de que sua difusão poria em risco as tropas dos Estados Unidos e de seus sócios militares.

Embora pareçam autênticos, não foi possível confirmar sua origem de maneira independente, e o Wikileaks se recusou a revelar detalhes.

Os 391.831 documentos, que vão desde princípios de 2004 a primeiro de janeiro de 2010.

Registram milhares de batalhas com os insurgentes e atentados à bomba na margem dos caminhos, assim como falhas de equipe e tiroteios por parte de empreiteiros civis. O Pentágono se negou a confirmar a autenticidade dos documentos divulgados anteriormente pelo WikiLeaks, mas empregou uma centena de analistas para revisá-los e, em nenhum momento indicou que houvesse erros no seu conteúdo.

Em Londres, o WikiLeaks anunciou no sábado a próxima difusão, de 15.000 documentos secretos adicionais sobre a guerra no Afeganistão

O grupo publicou previamente milhares de documentos sobre a guerra no Afeganistão. O WikiLeaks disse que reteve a difusão de 15.000 arquivos adicionais sobre o Afeganistão devido a seu conteúdo.

Kristinn Hrafnsson, porta-voz do WikiLeaks, disse que os documentos foram devidamente investigados e aparecerão em breve.

Acrescentou que os documentos sobre o Iraque foram editados para ocultar os nomes de pessoas e “não contêm informação prejudicial para os indivíduos”.

A documentação sobre o Iraque descreve todo o panorama de um país em guerra: tiroteios em reservas militares, mercenários que abrem fogo contra iraquianos e abusos brutais contra prisioneiros com água fervente, metais em brasa, choques elétricos e mangueiras.

A enorme coleção de documentos confidenciais mostra um Iraque dividido pelas tensões sectárias e pressionado por vizinhos intrometidos, e oferece indícios de que o país poderia cair no caos uma vez que as forças norte-americanas se retirem. Os relatórios publicados, que vão desde inícios de 2004 até primeiro de janeiro deste ano, ajudam a entender por que o Iraque não consegue criar um estado unificado e independente.

Parecem respaldar a visão de alguns expertes que sugerem que os Estados Unidos mantenham milhares de soldados no Iraque além de sua data programada de partida em 2011, para que o país tenha tempo de estabilizar-se.

Número de mortes no Iraque é superior ao número revelado

O grupo publicou aproximadamente 77.000 documentos da inteligência norte-americana assim como 400.000 supostos textos secretos sobre a guerra no Afeganistão.

O WikiLeaks informou que tinha proporcionado versões sem editar os relatórios, semanas antes, a várias organizações noticiosas, inclusive o The New York Times, Le Monde, The Guardian e Der Spiegel. Deu ao The Associated Press e a outros meios informativos o acesso a bases de dados redigidos algumas horas antes da divulgação.

Funcionários norte-americanos disseram na sexta-feira que trabalhavam contra o relógio para limitar o dano que causaria a publicação no site que se dedica a vazar documentos, enquanto o principal comandante da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, disse à imprensa que temia que a revelação de documentos em massa pusesse vidas em perigo.

Qualquer tipo de publicação causará “uma situação muito desafortunada”, disse Rasmussen, sexta-feira em Berlim, depois de uma reunião com a chanceler alemã Angela Merkel.

“Não posso entrar em detalhes sobre as conseqüências exatas que isto teria para a segurança, mas em geral posso dizer que estes vazamentos podem ter um impacto de segurança muito negativo para as pessoas envolvidas”, acrescentou.

Diferentemente do caso anterior em que o WikiLeaks divulgou aproximadamente 77.000 documentos sobre as guerras no Afeganistão e no Iraque, desta vez o site publicou nomes. A força-tarefa informou ao Comando Central de Estados Unidos quais são os nomes de iraquianos e outros que poderiam causar riscos de segurança caso fossem conhecidos, disseram funcionários

A anterior divulgação de documentos no WikiLeaks, em julho, enfureceu o Pentágono, que acusou o grupo de irresponsabilidade. Fogh Rasmussen disse, na sexta-feira, que os vazamentos “podem colocar soldados e civis em risco”.

(Com informação da AFP e AP)

Traduzido por: Valeria Lima