A Revolta Comunista de 1935

imagemDiferentemente do que tem sido repetidamente afirmado pelos setores reacionários da sociedade brasileira há oito décadas, a revolta armada que explodiu em novembro de 1935 em algumas cidades do país, com destaque para a insurreição popular em Natal, Rio Grande do Norte, não foi um golpe comunista maquinado em Moscou com a finalidade de sovietizar o país. A revolta aconteceu em reação ao crescimento das forças fascistas no Brasil e ao fechamento da Aliança Nacional Libertadora (ANL), movimento político plural, que tinha objetivos nacionais e democráticos, anti-imperialistas e antilatifundiários.

A ANL foi instituída em 30 de março de 1935, em ato público realizado no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro. Agregou em torno de si personalidades, organizações de trabalhadores, partidos e movimentos de corte revolucionário, democrático e progressista e sua construção contou com a participação ativa dos comunistas, tendo em Luiz Carlos Prestes, militante do PCB desde 1933, um de seus principais dirigentes, aclamado como presidente de honra.

Seu programa popular revolucionário continha reivindicações concretas das classes populares e camadas médias: não reconhecimento e não pagamento da dívida externa; denúncia dos tratados desiguais assinados com os países imperialistas; nacionalização dos serviços públicos essenciais e das empresas imperialistas; jornada máxima de oito horas; seguro social; aposentadorias; aumento de salários; isonomia salarial e garantia de salário mínimo; fim do trabalho escravo; eliminação dos latifúndios; amplas liberdades democráticas; supressão dos privilégios de cor e raça; total liberdade religiosa com a separação entre Igreja e Estado; oposição às guerras imperialistas; estreitamento de relações com as demais nações latino-americanas; solidariedade com todas as classes e povos oprimidos do mundo.
Em meio a um contexto internacional de ascensão do fascismo e de crescimento do Partido Integralista no Brasil, o governo de Vargas fez aprovar a Lei de Segurança Nacional, que permitiu a repressão em larga escala do movimento operário, dos comunistas e seus aliados nas lutas populares. Em julho de 1935, Luiz Carlos Prestes divulgou manifesto conclamando o povo e os trabalhadores a reagirem contra a ameaça integralista e o governo Vargas e a lutar por um poder popular nacional revolucionário. Em resposta, a ANL foi fechada e seus militantes perseguidos. Dirigentes do PCB, militantes e líderes da ANL – muitos deles veteranos das lutas tenentistas de 1922 e 1924 — se engajaram então na preparação de uma insurreição armada.

Entretanto, os acontecimentos se precipitaram. No Rio Grande do Norte, uma mobilização de trabalhadores contra o governo do Estado resultou na destituição do governador e na formação de um governo nacional libertador. Em seguida, a liderança clandestina da ANL desencadeou revoltas militares em Recife e no Rio de Janeiro. Mal organizado e sem apoio popular, o movimento foi derrotado, e uma onda repressiva se abateu contra os trabalhadores, os setores populares e a intelectualidade progressista, culminando com a instauração do Estado Novo, regime de forte influência fascista, a partir de 1937.

Apesar de sua derrota e de seus erros, a ANL nos legou um exemplo de dedicação às causas dos trabalhadores e do povo, demonstrando que o caminho para a derrota das forças da reação e do imperialismo passa pela organização, mobilização e unificação da classe trabalhadora e dos setores populares.

1935
Jacinta Passos

Tenso como rede de nervos
pressentindo ah! novembro
de esperança e precipício.
Fruto peco.
Novembro de sangue e de heróis.
Grito de assombro morto na garganta,
soluço seco dor sem nome. Ferido.
De morte ferido. Como um animal ferido.
Luta de entranhas e dentes. Natal.
Sangue. Praia Vermelha.
Sangue.
Sangue. É quase um fio
escorrendo
sangrento
tenaz
por dentro dos cárceres,
nas ilhas
e nos corações que a esperança guardaram.
(Do livro Poemas políticos, Rio de Janeiro: Livraria-Editora Casa do Estudante do Brasil, 1951)