Congo: eleições e mais ingerências
Carlos Lopes Pereira
ODIARIO.INFO
Os EUA e a UE veem a África com os olhos do colonialismo. As declarações da Comissária Federica Mogherini são um grosseiro exemplo de menosprezo e de tentativa de ingerência nas próximas eleições no Congo. Enquanto não derrotarem o colonialismo na sua forma atual, não haverá futuro para os povos africanos.
Na República Democrática do Congo, decorre a campanha eleitoral para as eleições presidenciais, legislativas e provinciais de 23 de dezembro.
O presidente da Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI), Corneille Nangaa, manifestou a esperança de que a campanha, que se prolonga até à antevéspera da votação, continue sem violência, como aconteceu até agora. Mais de 40 milhões de congoleses estão inscritos nos cadernos eleitorais e terão de escolher nas urnas entre 19 candidatos à presidência do país, 15.355 candidatos aos 500 lugares no parlamento e 19.640 candidatos às 26 assembleias provinciais.
O atual presidente, Joseph Kabila, não concorre à reeleição, por impedimento constitucional, que proíbe a candidatura a um terceiro mandato. O candidato da Frente Comum pelo Congo, apoiada por Kabila, é Emmanuel Shadary, antigo ministro do Interior, apontado como o favorito.
Para a eleição presidencial, a oposição congolesa apresenta-se dividida. O maior partido, a União para a Democracia e o Progresso Social (UDPS) avança com o seu líder, Félix Tshisekedi, apoiado por Vital Kamerhe, da União pela Nação Congolesa, que se retirou da corrida, tendo ambos criado a aliança Rumo à Mudança.
Outro candidato que desistiu foi Freddy Matungulu, do partido Nosso Congo, para apoiar Martin Fayulu, do movimento Compromisso pela Cidadania e o Desenvolvimento. Fayulu é apoiado por dois influentes políticos, ambos excluídos da eleição por problemas com a justiça: Pierre Bemba, do Movimento de Libertação do Congo, e Moise Katumbi, do partido Juntos.
A CENI convidou para acompanhar o processo eleitoral observadores da União Africana, da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral e da Organização Internacional da Francofonia. Ao contrário do que aconteceu em eleições anteriores, não foram convidados observadores da União Europeia nem da Fundação Carter, dos Estados Unidos.
Um responsável da CENI explicou à revista Jeune Afrique que «o relatório da Fundação Carter sobre as eleições de 2011 quase provocou uma guerra no país» e que a organização norte-americana tinha dado provas de «falta de profissionalismo». Quanto à União Europeia, aplicou sanções contra 15 personalidades congolesas por «atentados aos direitos humanos», após o final do segundo mandato de Kabila, em dezembro de 2016, e do adiamento das eleições.
Na semana passada, a responsável da União Europeia para as relações exteriores, Federica Mogherini, declarou em Bruxelas que o futuro compromisso com as novas autoridades congolesas democraticamente eleitas dependerá da «qualidade das eleições» do próximo mês. Em tom imperial, a diplomata impôs condições: «A União Europeia seguirá atentamente o desenrolar das eleições na República Democrática do Congo, que devem ser inclusivas, transparentes, credíveis e pacíficas, e disso dependerá o seu futuro engajamento no desenvolvimento daquele país africano».
É um indício claro de que, sejam quais forem os resultados eleitorais – sobretudo se não forem favoráveis aos interesses de Washington e Bruxelas –, a República Democrática do Congo, país com enormes riquezas naturais, continuará a sofrer pressões, ingerências e até agressões militares das potências imperialistas –, uma constante desde a sua independência em 1960.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2348, 29.11.2018
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