Editorial: ousar lutar, ousar vencer!

imagemO ano de 2015 foi muito ruim para os trabalhadores, que, além de enfrentarem a alta constante do custo de vida, viram seus empregos encolherem, salários reduzidos e direitos atacados, para que os bancos e grandes empresários mantivessem suas margens de lucros em meio ao avanço da crise mundial do capitalismo, cujos reflexos mais intensos foram sentidos pelos brasileiros.

O governo do PT-PMDB, reeleito em 2014 com um discurso voltado a convencer o eleitorado de que somente sua permanência à frente do Estado evitaria retrocessos nas políticas sociais, aprofunda as concessões à burguesia para se equilibrar no poder a todo custo, ao ter sido emparedado pela campanha da direita em favor do impedimento da Presidente, que ganhou força com a ampliação da crise econômica e das denúncias de corrupção. Quem sofre são os trabalhadores e as camadas mais pobres da população, nas costas de quem recai todo o peso da crise: desemprego, atingindo a taxa de 10%, queda dos salários também em cerca de 10%, restrição nas regras do seguro-desemprego e do abono salarial, piores condições de vida, com cortes nos programas sociais e a precarização geral dos serviços públicos, a exemplo do caos que atinge os transportes urbanos e a saúde pública nos Estados.

Enquanto isso, os bancos lucram de forma indecente. Foram quase R$ 500 bilhões em juros sobre a dívida pública pagos pelo governo federal em 2015.

Desde o primeiro governo do PT já foram gastos quase 3 trilhões de reais com juros. A dívida pública interna, de janeiro de 1995, logo após a implantação do Plano Real, até o segundo semestre do ano passado, foi multiplicada 24 vezes, comprovando que o modelo neoliberal consolidado no governo de FHC (PSDB) não foi tocado pelo PT, que manteve e ampliou os ganhos do capital financeiro, além de adotar medidas para favorecer o agronegócio, as empreiteiras e grandes empresas capitalistas. Estas ganharam de presente, de 2011 para cá, pacotes de renúncia fiscal na ordem de R$ 470 bilhões, além dos empréstimos concedidos pelo BNDES aos monopólios com taxas de juros reais negativas e outras benesses, como a redução dos custos com salários e direitos sociais, através da falsamente chamada Política de Proteção ao Emprego, programa instituído pelo segundo governo Dilma.

E vem mais por aí: o novo ministro da Fazenda, com todo aval de Dilma, reafirmou compromisso com os ajustes fiscais e anunciou nova reforma da previdência, com aumento brutal na idade mínima para aposentadoria. Além disso, o governo já comunicou novo pacote de privatizações e planeja “flexibilizar” os direitos trabalhistas, fazendo com que “o negociado prevaleça sobre o legislado”, jogando a CLT na lata do lixo. Fica claro, uma vez mais, que as contradições entre PT, base aliada e a oposição de direita não são de classe. Na hora de proteger os interesses capitalistas, estão todos unidos.
Em contrapartida, neste início de 2016, sobressai a reação dos trabalhadores, dos setores populares e da juventude ao quadro adverso. Explodem os protestos contra o aumento das tarifas de ônibus, em que os governos respondem com a costumeira violência policial; greves começam a pipocar contra demissões nas empresas; servidores estaduais se mobilizam contra parcelamento de salários; comunidades lutam por terra e moradia em vários pontos do país. O caminho da unidade e da luta se anuncia como a única saída possível para o enfrentamento aos ataques desferidos pelos capitalistas e pelos governos burgueses contra os direitos dos trabalhadores. Ousar lutar, ousar vencer!

(O PODER POPULAR Nº 8)