“Nosso samba é raça, na luta de classes…”

imagemFundado em 2009 no Rio de Janeiro, como uma iniciativa da UJC com militantes do PCB, o “Comuna que Pariu!”, parafraseando um poema de Ferreira Gullar, não se transformou no maior bloco do Brasil, sequer do Rio, mas se tornou uma força cultural considerável que, não apenas durante o Carnaval, se apresenta como uma forte arma da crítica.

Em 2015, o Comuna cantou “Lugar de mulher é onde ela quiser”, fazendo um carnaval épico, reunindo mais de cinco mil foliões, muitos dos quais militantes de diversos movimentos sociais, populares, sindicais e organizações do campo da esquerda. Dois mil deles seguiram em marcha pela Lapa na segunda-feira da folia. O samba embalou carnavais e lutas em todo o país.

Neste Carnaval de 2016, “nosso samba é raça na luta de classes”, denunciando as manifestações do racismo no cotidiano do povo brasileiro. Mesmo sendo um bloco que tem no carnaval seu momento de síntese, não poupa a festa de uma necessária crítica, uma festa camuflada de democrática, mas que é um reflexo das contradições de classes e reproduz todo um conjunto de opressões e preconceitos que existem em nossa sociedade: “Nosso samba é na raça. Quizomba arruaça. Catando latinha num canto da praça. Mordendo mordaça … No cativeiro, no porão … No convés, na remoção”.

O Comuna que Pariu!, que noutros carnavais já criticou a lei da anistia, bradou “Somos todos sem terra” e gritou que o petróleo tem que ser nosso; homenageou os trabalhadores da cidade e Niemeyer; protestou contra a copa da FIFA e, junto com as mulheres, cantou que liberdade é o que se quer, chama a atenção para a questão do racismo, conectando o combate ao preconceito com a luta de classes: “Nosso samba é raça na luta de classe… escancara sem disfarce. Você notou que esses versos têm cor? A cor do negro trabalhador.”

O samba reverencia a memória de Minervino, Solano e Claudino, históricos militantes comunistas, homenageia Clementina de Jesus, lembra a figura de Claudia, morta pela PM e arrastada na viatura pelas ruas do Rio, pede justiça a Amarildo, pedreiro desaparecido pela ação de uma UPP. Denuncia o racismo diário e o extermínio do negro em todas as periferias do país. Com Rafael Braga, preso pela polícia do Rio durante as manifestações de 2013 por portar um produto de limpeza, repudia a maneira como a justiça burguesa trata pobres, negros e trabalhadores.

O Comuna vai sacudir o coreto, sambando enquanto se luta, lutando enquanto se samba, fazendo da poesia, da música e do samba ferramentas a serviço da luta de classes. Afinal, ainda é preciso nivelar a vida em alto astral, e para tal, é preciso rumar ao Socialismo. Vamos que vamos com o Comuna em mais um carnaval e mais um ano de lutas!


Comuna Que Pariu! 2016 – Na raça, contra o racismo.

Compositores: Marina Iris, Nina Rosa, Manu Trindade, Victor Neves, Rafael Maieiro e Belle Lopes

Nosso samba é na raça
Quizomba arruaça
Catando latinha num canto da praça
Mordendo mordaça
No cativeiro, no porão
No convés, na remoção
Adivinha aí, quem chegou na praia escravizado (de 474)
Adivinha a carne mais barata do mercado
Diz quem foi o braço desse Estado
E ainda é…
Resistência popular!

Valeu, Zumbi e Minervino
De Cláudia a Claudino
Rafael Braga, Solano e Quelé
Quilombando na Maré

A fibra é África
Fábrica
Pátria alguma
Barco pro fundo
Do mar
Mais azul do mundo
Nosso samba é raça na luta de classe
Escancara sem disfarce
Você notou que esses versos têm cor?

A cor do negro trabalhador (3x)

Comuna? É nóis!
Batucada da Maluca mostra os dentes
Finca o pé, levanta a voz
Cadê o Amarildo? Presente!

(O PODER POPULAR Nº 8)