Alexandra Kollontai, pioneira do feminismo classista

imagemAlexandra Kollontai, figura histórica do movimento revolucionário mundial, destacou-se nas lutas das trabalhadoras russas por seus direitos, contra a exploração capitalista, o conservadorismo e o machismo. Seus pontos de vista acerca do amor livre, para além da realização dos desejos sexuais, compreendiam a plena capacidade da mulher e o direito de escolher seu companheiro. Por isso era contra o casamento e a instituição da família. Segundo ela, caberia ao futuro estado socialista e não aos pais a tarefa de educar as crianças. Foi autora de grande parte da legislação socialista elaborada nos primeiros anos da República Soviética.

Alexandra Mikhailovna Domontovich nasceu, em 31 de março de 1872, numa rica família ucraniana. Casou-se, aos 21 anos, com seu primo de terceiro grau Vladimir Kollontai. Em 1894 iniciou sua militância política, como professora do ensino noturno para trabalhadores de São Petersburgo, que a levou a trabalhar com a Cruz Vermelha Política, organização criada para ajudar prisioneiros políticos na Rússia Czarista. Em 1898, abandonou o casamento por causa, segundo ela, da “tirania do amor” estabelecida pelo marido e foi estudar em Zurique. Retornando à Rússia, começou sua atuação clandestina no Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR).

Participou ativamente da Revolução de 1905, mas ao discordar dos bolcheviques quanto ao boicote às eleições para a Duma em 1906, aderiu à fração menchevique. Forçada ao exílio em 1908, permaneceu fora da Rússia até 1917, militando no Partido Social Democrata Alemão (SPD) e viajando para vários países. Quando estourou a Revolução de Fevereiro, estava na Noruega. Regressando à Rússia, aderiu com entusiasmo às Teses de Abril de Lenin, que rompiam com a estratégia anterior do Partido Bolchevique e abriam caminho à insurreição vitoriosa de Outubro. Desempenhou papel decisivo na adesão da Esquadra do Báltico aos bolcheviques. Pela primeira vez, uma mulher dirigia-se aos marinheiros: a sua oratória conquistou a Armada.

Editou o jornal A Operária e organizou o primeiro Congresso das Mulheres Operárias. Em outubro de 1917, tomou parte na decisão de promover o levante armado contra o governo e atuou diretamente no processo revolucionário. Foi a única mulher a ter um cargo no primeiro escalão do governo, tornando-se Comissária do Povo do Bem Estar Social e participando ativamente da elaboração das novas leis do Estado soviético sobre os direitos da mulher, o casamento e a família, a mais avançada legislação em favor dos direitos da mulher em toda a história mundial. Renunciou ao ministério por discordar do Tratado de Brest-Litovsk, mas manteve intensa agenda política, participando do I Congresso da Internacional Comunista e dirigindo o Departamento de Mulheres do Partido Comunista (Zhenotdel).

No 8º Congresso dos Sovietes da Rússia, juntou-se à Oposição Operária, por entender que havia uma crescente burocratização do Estado Soviético. No período de Stalin, viveu de fato no exílio como diplomata, servindo nas embaixadas da Noruega e da Suécia, no México, na Liga das Nações e negociando o tratado de paz com a Finlândia em 1940. Entre 1946 e 1952, ano de sua morte, foi assessora do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Deixou significativa produção teórica no campo dos direitos da mulher e das relações sociais, a exemplo do trecho abaixo, de O Comunismo e a Família (1920):

“Ao invés do matrimônio indissolúvel, baseado na servidão da mulher, veremos nascer a união livre fortalecida pelo amor e o respeito mútuo dos membros do Estado Operário, iguais em seus direitos e em suas obrigações. Ao invés da família de tipo individual e egoísta, se levantará uma grande família universal de trabalhadores, na qual todos eles, homens e mulheres, serão, antes de tudo, trabalhadores e camaradas. (…) Esta é a consigna da Sociedade Comunista”.

O PODER POPULAR Nº 11