Orlando Bonfim Júnior: uma voz comunista calada pela ditadura
Orlando Rosa Bonfim Júnior nasceu em Santa Teresa, Espírito Santo, em 14 de janeiro de 1915, filho de Maria Gasparini Bonfim e Orlando Rosa Bonfim, primeiro prefeito eleito da cidade. Recebeu educação elementar e básica em sua cidade natal e na capital (Vitória), transferindo-se mais tarde para Belo Horizonte, onde realizou seus estudos superiores na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Exerceu a advocacia na capital mineira defendendo, muitas vezes gratuitamente, os trabalhadores e seus sindicatos nas disputas trabalhistas. Ao defender os operários da Mina do Morro, em Conselheiro Lafaiete (MG) durante uma greve que se estendeu por quarenta e três dias, foi alvo de arremetidas arbitrárias da polícia, abrigando-se nas residências dos grevistas e compartilhando de suas experiências cotidianas.
Em 1943, foi um dos signatários do Manifesto dos Mineiros, iniciativa que ajudou a desagregar as bases de sustentação do Estado Novo. Nesta época, também atuou na grande imprensa mineira, tendo sido secretário de redação do jornal O Estado de Minas.
Ainda na década de 1940, ingressou nas fileiras do Partido Comunista Brasileiro (PCB), elegendo-se vereador em Belo Horizonte, nas eleições municipais de 1946. Com a cassação do registro do PCB em 1947 e a extinção dos mandatos de seus parlamentares em 1948, passou a combinar suas atividades profissionais legais com a militância clandestina. Em 1958, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde, no ano seguinte, integrou o corpo editorial do jornal legal do PCB, Novos Rumos, juntamente com Mário Alves.
De 1959 até o golpe de 1964, foi redator chefe do principal veículo de imprensa dos comunistas brasileiros. Através de artigos e, principalmente, dos editoriais, Orlando Bonfim traduziu a orientação política da direção do Partido para a militância, amigos, simpatizantes e a opinião pública em geral. Usando uma linguagem concisa e direta e realizando, com maestria, a adaptação das diretrizes programáticas do partido aos movimentos da conjuntura, produziu um patrimônio jornalístico e político de valor apreciável. Após o golpe, assumiu a direção da imprensa ilegal dos comunistas, contribuindo, por meio do jornal Voz Operária, na orientação dos militantes comunistas e aliados na difícil luta contra o regime militar.
A relevância de sua atividade foi percebida pelos serviços de inteligência do poder ditatorial. Norteados pela doutrina da chamada “guerra contrarrevolucionária”, que reduzia a política à guerra, equiparando ações de agitação e propaganda com movimentos militares, a cúpula da ditadura sentenciou ao aniquilamento as estruturas político-organizativas do PCB e seus respectivos dirigentes. Orlando Bonfim Jr. foi sequestrado no dia 08 de outubro de 1975, quando se dirigia a um encontro político no bairro carioca de Vila Isabel. Seu desaparecimento foi comunicado, anonimamente, a seus familiares no mesmo dia. De imediato, a Associação Brasileira de Imprensa impetrou um mandado de segurança junto ao Superior Tribunal Militar, sem qualquer resultado. Dias depois, um advogado contratado pela família encaminhou um pedido de habeas corpus a alguns tribunais e auditorias militares, não obtendo retorno.
No dia 27 de novembro de 1975, uma ligação anônima para o jornal O Estado de São Paulo e um telex enviado à sucursal carioca da Folha de São Paulo anunciaram a morte de Orlando Bonfim Júnior. Em novembro de 1992, um ex-agente do Doi-Codi de São Paulo, em entrevista a uma publicação de grande circulação nacional, relatou que Bonfim Jr. fora sequestrado, torturado, executado e esquartejado por aquele órgão, sendo seus restos mortais atirados no rio Avaré, próximo à rodovia dos Bandeirantes.
Em 1995, o Estado brasileiro, através de um anexo à Lei 9140/95, reconheceu sua responsabilidade na prisão, morte e desaparecimento de Orlando Bonfim Júnior. Seu corpo até hoje não foi localizado e entregue a seus familiares para sepultamento.