Claudino José da Silva: negro, operário e comunista
Claudino José da Silva nasceu numa fazenda em Natividade (RJ), a 23 de julho de 1902. Sua mãe, Maximiana Maria da Glória, morreu em 1915. Enlouquecido pelo luto, seu pai, Querino José Alfredo, morreu três anos depois. Órfão, Claudino se viu na obrigação de abandonar os estudos primários, tornando-se trabalhador rural nas fazendas de sua região natal.
Transferiu-se para Niterói, então capital do estado do Rio de Janeiro, onde trabalhou como aprendiz de carpinteiro e integrou a diretoria do Centro dos Carpinas e Classes Anexas de Mar e Terra e participou da Liga Operária da Construção Civil de Niterói. Na sede da Liga, assistiu a palestras de Octávio Brandão, Laura Brandão e Astrojildo Pereira, tornando-se um grande admirador de Lênin e da Revolução Russa.
Filiou-se ao PCB em 1928. Foi dirigente do comitê zonal do partido em Niterói e, em 1929, ingressou na Estrada de Ferro Leopoldina, envolvendo-se nas lutas da categoria. Em 1931, foi preso em decorrência de sua atividade política. Posto em liberdade, voltou a atuar no PCB e no movimento operário. Neste mesmo ano, deixou a Leopoldina e seguiu para Recife, a fim de participar do Congresso da União dos Trabalhadores de Pernambuco na condição de delegado eleito pela Conferência Geral dos Trabalhadores do Brasil. Preso em Recife por sua atuação em reuniões sindicais, mudou-se para João Pessoa ao sair da prisão e continuou sua militância no PCB. Diversas vezes preso e torturado, ficou seriamente doente. Restabelecido, foi para Minas Gerais, onde atuou na reorganização do Partido durante os anos 1935 e 1936.
Preso pela repressão em 1936, sua ativa militância na denúncia do racismo interno e do expansionismo colonialista e imperialista contra os povos africanos não lhe garantiu o apoio de todas as lideranças negras do Brasil de então. Presidente da Frente Negra de Minas Gerais, foi atacado pelos dirigentes da Frente Negra Brasileira (FNB), vinculados ao integralismo, que consideravam o comunismo uma “doutrina exótica e inadaptável ao Brasil”.
Claudino permaneceu preso até 1938. Voltou para Minas Gerais e retomou sua militância no PCB, pelo que foi novamente preso. Solto mais uma vez, atuou clandestinamente no PCB durante o Estado Novo, voltando à prisão em 1940. Em 1943, integrou o comitê de organização da 2ª Conferência Nacional do PCB, a Conferência da Mantiqueira, realizada clandestinamente em 1943, na qual foi eleito membro do diretório nacional do PCB, responsável pelos trabalhos da agremiação no Norte e Nordeste do país. Com a desagregação do Estado Novo (1937-1945) e a legalização do Partido, tornou-se Secretário Político do Comitê Estadual do Rio de Janeiro e foi reconduzido ao Comitê Central.
Em dezembro de 1945, foi o único representante negro, eleito pelo antigo Estado do Rio de Janeiro, na Assembleia Nacional Constituinte. Diferenciando-se das demais em função, principalmente, da origem social de seus integrantes, a bancada comunista incomodou os parlamentares burgueses e foi responsável por apresentar propostas avançadas em favor direitos dos trabalhadores e da população pobre.
Após a promulgação da nova Constituição, em setembro de 1946, Claudino exerceu seu mandato ordinário na Câmara Federal até a cassação, em 1948, decorrente da suspensão do registro do PCB em 1947. Na clandestinidade, foi preso pichando a frase “Salve Luiz Carlos Prestes!” em um muro da cidade de Niterói, em 1950. Foi condenado a um ano de prisão pela auditoria da 5ª região militar, em 27 de junho de 1968, por distribuir material subversivo em Joinville.
Pouco se sabe sobre a sua vida ou militância política nos anos subsequentes. Faleceu em 12 de fevereiro de 1985, aos 82 anos de idade, e foi velado no saguão da Assembleia Legislativa do estado do Rio de Janeiro, por solicitação de Luiz Carlos Prestes.