Avançar na reorganização da classe trabalhadora, sem conciliação!

imagemO PODER POPULAR Nº 23

O ano de 2017 tem sido atravessado por um calendário de lutas que se intensifica cada vez mais. A realização da Greve Geral em 28 de abril teve uma importância bastante expressiva tanto no sentido da mobilização da classe, que chegou a 40 milhões de trabalhadores paralisados, como na perda de R$5 bilhões de lucros para a burguesia neste dia. Na jornada de lutas para barrar as contrarreformas e pelo Fora Temer, a marcha Ocupe Brasília foi grandiosa, com a participação de cerca de 150 mil pessoas na Esplanada. Para além do quantitativo de pessoas, o destaque maior das lutas deste ano é o seu caráter classista, nas pautas que criam condições para a unidade de ação e também a capacidade que estas mobilizações têm de desestabilizar o regime burguês em meio à crise política que o país atravessa.

Mas é preciso reconhecer que estamos ainda caminhando em um terreno pouco firme, pois a pauta defensiva que cria condições para a unidade na resistência – barrar as contrarreformas da previdência e trabalhista, terceirização e Fora Temer – se fragiliza quando apontamos perspectivas para uma pauta ofensiva da classe. Na reflexão necessária para a conjuntura atual é preciso projetar os desdobramentos da possível queda do governo Temer. Se há um clamor entre setores da esquerda pelas “eleições diretas já” como alternativa para a crise, é sempre bom lembrar que os recentes processos institucionais reafirmaram o caráter de classe do Estado burguês, em que predomina o estelionato eleitoral capitaneado por grandes corporações empresariais, as quais, através dos investimentos nas campanhas, definem o gestor dos interesses da burguesia no Estado brasileiro.

Portanto, ao mesmo tempo em que devemos empreender os esforços necessários a fim de preservar a unidade de ação, não devemos alimentar ilusões com a democracia burguesa. O sistema político brasileiro é um verdadeiro balcão de negócios da burguesia. A mudança de presidente da república, seja por meio de eleição indireta ou de eleições diretas nas mesmas regras existentes, dará continuidade às perspectivas que beneficiam a burguesia em detrimento dos interesses da classe trabalhadora. Tanto o programa neoliberal clássico quanto a perpectiva social-liberal operada pelos governos do PT representam opções ameaçadoras às reais necessidades dos trabalhadores e das trabalhadoras.

A grande maioria da população tem demonstrado sua aversão à institucionalidade burguesa e vem canalizando essa indignação em ações de rua e nas lutas. Em meio à abertura de um novo ciclo de lutas sociais, ainda que de caráter embrionário, é fundamental intensificar os processos de reorganização da classe. Três aspectos da conjuntura ajudam a perceber a viabilidade desta perspectiva: a) a constituição de comitês/frentes/fóruns populares contra as reformas e pela construção da Greve Geral tem dado importantes passos para a organização das ações do movimento sindical e popular; b) as bases das entidades pressionam as burocracias sindicais para construir as lutas de forma combativa; c) o avanço do campo da esquerda revolucionária em ocupações e eleições sindicais e estudantis vem conquistando espaços e derrotando as burocracias conciliatórias. Mas estes ainda são passos embrionários. É preciso avançar muito mais no processo de reorganização da classe e combater as direções pelegas, sempre dispostas a negociar o inegociável, conforme se viu no dia 30 de junho, quando as centrais sindicais se retiraram da mobilização para a Greve Geral, pensando conseguir uma ou outra mudança no texto da reforma trabalhista (principalmente em relação ao imposto sindical).

Nesse momento de retomada das lutas sociais, é necessário agir no sentido da mudança da correlação de forças e na passagem da agenda de resistência para uma ofensiva da classe contra o regime burguês. A construção do Encontro Nacional da Classe Trabalhadora é fundamental para estabelecer um programa que unifique os setores classistas, dispostos a derrotar os grupos reacionários e superar a conciliação de classe. É preciso estabelecer uma forma organizativa nacional que dê encaminhamento às lutas sociais e estabeleça as agendas de ações para elevar o patamar de enfrentamento e de consciência da classe. A derrota sofrida com a aprovação da contrarreforma trabalhista no Congresso Nacional somente poderá ser revertida com muita luta e organização!

Fora Temer e as Contrarreformas!
Unir as lutas para emancipar a classe trabalhadora!