Arcelina Mochel, mulher comunista: “Nossa luta só cessará quando conquistarmos a nossa liberdade”
Arcelina Rodrigues Mochel foi um dos mais destacados quadros políticos do PCB na década de 1940 e 1950, por sua militância à frente do movimento de mulheres, das lutas populares e da imprensa de esquerda. Eleita para a Câmara Municipal do Distrito Federal, com a expressiva votação de 3.704 votos nas eleições de 19 de janeiro de 1947, foi líder da bancada comunista e presidente da Comissão de Administração e Assistência Social da Câmara dos Vereadores. Atuou de forma consequente na defesa dos interesses da população trabalhadora, como nas lutas em favor de famílias desabrigadas pelas chuvas em comunidades operárias do Rio.
Filha de Ercília Rodrigues e José Augusto da Silva Mochel, oficial da Polícia Militar do Maranhão descendente de alemães, nasceu em São Luís (MA) em 27 de outubro de 1918. Os oito irmãos ficaram órfãos cedo, mas todos, homens e mulheres, dedicaram-se aos estudos e fizeram faculdade, caso raro na época.
Ainda estudante da Faculdade de Direito do Maranhão, aos 19 anos, Arcelina ocupou interinamente, de forma pioneira, o cargo de promotora pública nas comarcas de São Bento e Coroatá. Formada em Direito em 1938, passou em primeiro lugar em concurso público para promotor, mas seu nome foi preterido em favor do segundo colocado. No final de 1943, mudou-se para o Rio de Janeiro, então capital da República.
Participou ativamente da luta pelas liberdades democráticas e pelo fim da ditadura do Estado Novo. Dona de excelente oratória, abraçou a causa da libertação feminina, tendo sido uma das fundadoras, em 1947, do jornal Momento Feminino, sustentado basicamente pelas militantes comunistas. O periódico, que circulou nacionalmente durante dez anos, pregava a cidadania feminina e divulgava a luta contra a carestia e em defesa da paz.
Com a cassação dos mandatos dos deputados, senadores e vereadores eleitos pela legenda do PCB em 1948, forte repressão abateu-se sobre o partido, obrigando que seus militantes mantivessem acesa a chama da luta na clandestinidade. Arcelina passou a privilegiar o movimento pelos direitos femininos, contribuindo para a criação de organizações comunitárias de mulheres nos bairros do Rio de Janeiro, comitês que se disseminaram em todo o país, demonstrando a força das reivindicações das mulheres naquela época.
Em maio de 1949, Arcelina liderou a fundação da Federação de Mulheres do Brasil, entidade que congregou organizações de mulheres de 11 estados brasileiros. Na condição de primeira secretária-geral, viajou o Brasil para divulgar as bandeiras da Federação e participou de vários congressos na Europa, sendo sempre muito aplaudida por seus discursos vibrantes.
Em resposta ao massivo movimento de mulheres contra a alta dos preços, o governo de Getúlio Vargas criou, no início da década de 1950, a Superintendência Nacional do Abastecimento (Sunab) para fiscalizar os aumentos abusivos. No mesmo período, Arcelina e as militantes feministas do PCB tiveram grande participação na campanha do “Petróleo é Nosso!”, na luta pela anistia aos presos políticos de 1945 e no movimento contra a Lei de Segurança Nacional. Em junho de 1956, integrou a delegação brasileira na Conferência Mundial das Trabalhadoras, em Budapeste, na Hungria.
As ações desencadeadas pelo golpe empresarial-militar de 1964, somadas a problemas familiares e de saúde, forçaram o seu afastamento da militância partidária, mas ela foi solidária a amigos perseguidos, abrigando muitos deles em sua casa. Foi casada e teve seis filhos com Masao Goto, cientista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), cassado pela ditadura militar no famoso episódio conhecido como Massacre de Manguinhos.
Vítima de um aneurisma cerebral, Arcelina faleceu no Rio de Janeiro, em agosto de 1974.