PCB: Mitos e realidade
Luís Fernandes*
Infelizmente, a conjuntura radicaliza o anticomunismo reacionário, liberal ou, até mesmo, de esquerda. Somando a isso, o quadro de polarização política no Brasil apresenta um baixo nível nas candidaturas, uma miséria ideológica grande em todos os espectros políticos. O que vale é a aparência, lacração nas redes sociais, fake news, etc. Diante disso, escrevo para amigos, familiares e cidadãos em geral, pelo menos aqueles dispostos a ouvir, dialogar, discordar e estabelecer um bom debate na perspectiva de superar as fake news e estigmatização sobre a atuação do PCB nas eleições.
1 – O PCB é bacana, mas é um partido ultrapassado, caduco e sem renovação?
O PCB é o partido mais antigo do Brasil, fundado em 1922. Uma bela história de lutas e conquistas de direitos sociais, democráticos e culturais para o povo brasileiro. Também erramos e acertamos muito; no auge da crise do movimento comunista o partido quase foi liquidado em 1992. Hoje o PCB, em virtude do extermínio de comunistas na ditadura e alguns erros políticos, é composto em sua maioria por jovens, muitas mulheres, negros e vem, pouco a pouco, reconstruindo sua influência junto a diversas camadas da classe trabalhadora. É um trabalho árduo e de longo prazo, mas já colhemos resultados. A juventude do PCB é a juventude de esquerda que mais cresce no país em números absolutos e influência social. Nessas eleições, proporcionalmente, somos o partido que mais lançou candidaturas indígenas e um dos que mais lançou negros. Contamos com diversas LGBTs em nossas fileiras, nos oxigenamos sem flexibilizar nossos princípios, a referência marxista e a perspectiva socialista.
2 – Votar no PCB é praticamente anular o voto. É um partido sem densidade eleitoral?
Sim, o PCB ainda é um partido sem grande expressão eleitoral. Em sua reconstrução priorizamos nos tornarmos um partido ideológico, com um claro projeto para o nosso país e não nos tornarmos mais um partido alinhado a essa ordem. Hoje o PCB é um dos poucos partidos que faz alianças coerentes com o seu programa em todo o país, possui militantes (voluntários) que constroem a custo de muita luta o partido em seu cotidiano e voltamos a ter mais quadros inseridos em diversas lutas, entidades, movimentos e em meios intelectuais. Nossos militantes não são carreiristas e individualistas, são engajados a um projeto político nacional, popular e socialista. Sendo assim, sim, nestas eleições temos chances de eleger candidaturas. Será muito bom para o país, os trabalhadores e para a esquerda em geral contar com parlamentares do PCB. Nenhum monopólio político e ideológico fez bem para a história da esquerda brasileira.
3 – O PCB é um partido autoritário e simpático a “ditaduras”?
Principalmente por ter sido alinhado à antiga União Soviética, o muro de Berlim e todos os erros do socialismo soviético caíram nas costas do PCB. É compreensível essa consequência, no entanto, até mesmo para se manter vivo e oxigenado nosso partido faz um profundo exame crítico de sua história e todas as experiências socialistas. Somos o único partido da esquerda brasileira que apresentou um inicial balanço sobre as experiências socialista do século XX. Sabem por quê? Socialismo para nós não é um chavão. É coisa séria. Acreditamos que essa transição é necessária para a humanidade. Por isso estudamos muito, fazemos autocríticas sérias e reivindicamos os grandes acertos. Para além disso, ao longo da história do Brasil, fomos o partido mais combatido pelas ditaduras. Fomos, no Brasil, a principal escola de quadros políticos do século XX. Mais do que um partido político, fomos um instrumento importante de divulgação e democratização da cultura em nosso país. Num país historicamente pautado pelo escravismo, exclusão das massas populares da política e com constantes golpes de estado e ditaduras, o PCB sempre esteve ao lado dos trabalhadores e trabalhadoras e das liberdades democráticas.
*Membro da Comissão Política Nacional do PCB