PCB: Resistência e Memória
Muita emoção no auditório lotado no 7º andar da ABI na descomemoração dos 50 anos do Golpe de 64, ocorrido na sexta-feira, 28 de março. O público foi recebido no hall de entrada do auditório com uma exposição de fotos em um painel contextualizando o período e, no auditório, os slides recompunham o clima da época.
O Ato “PCB: Resistência e Memória” foi aberto por Dinarco Reis Filho, presidente da Fundação Dinarco Reis, que lembrou os anos de convivência e juventude combativa com Maurício Azêdo, o grande homenageado da noite. Ivan Pinheiro, secretário geral do PCB, presidiu a mesa, apresentando os palestrantes. Zuleide Faria de Melo fez seu depoimento sobre as agruras daqueles tempos e afirmou a necessidade de se continuar lutando contra o imperialismo – belicista e destruídos da humanidade – nos tempos atuais.
José Paulo Netto fez uma análise do processo histórico que desembocou no golpe de 1964, lembrando que a derrubada do governo Jango foi realizada por meio de uma articulação de classe envolvendo a burguesia associada de forma subordinada ao capital internacional, cujo projeto era aprofundar o capitalismo monopolista no país, para o que era preciso estancar o avanço das lutas populares em curso. Apontou os equívocos cometidos pelo PCB e a maioria na esquerda no pré-64, fazendo a ressalva de que é difícil perceber as falhas no transcorrer da própria história: “É muito fácil apontar erros depois da história passada”. Ressaltou o papel protagonista dos comunistas na organização da ampla frente que resistiu à ditadura, razão pela qual 13 dirigentes do PCB (dez dos quais membros do Comitê Central) foram assassinados em meados dos anos 1970, depois que as organizações que optaram pela luta armada haviam sido praticamente eliminadas.
Após a fala do camarada José Paulo Neto, militantes da União da Juventude Comunista (UJC) entraram no auditório e prestaram emocionante homenagem a cada um dos integrantes do Comitê Central assassinado, em uma performance inesperada.
Os advogados Modesto da Silveira e Marcelo Cerqueira, destacados defensores de presos políticos que foram eleitos deputados federais em 1982 com apoio dos comunistas, lembraram o sofrimento daqueles que foram abatidos pela máquina mortífera do fascismo brasileiro, a exemplo de David Capistrano, morto com requintes de crueldade.
Marly Diniz, em nome da FDR, lembrou a combatividade de Maurício Azêdo, seus tempos de militância e atuação à frente da imprensa do PCB e que, mesmo após haver sido preso e torturado, continuou cobrando persistentemente a responsabilidade do Estado pelos crimes cometidos. Lembrou ainda o período em que esteve na presidência da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), quando, em diversos momentos, apoiou os atos públicos organizados pelo PCB, em especial a comemoração dos 90 anos do Partido, em 2012.
Dinarco Reis Filho e Ivan Pinheiro entregaram a Medalha Dinarco Reis a Marilka, viúva do homenageado, que, profundamente emocionada, leu trechos de um texto produzido pelo próprio Maurício, lembrando, com detalhes, a prisão e as torturas sofridas por ele. Sua filha leu um documento que seu pai deixou antes de morrer e que reafirma o compromisso político de Maurício Azedo com as transformações revolucionárias na América Latina e em todo o mundo.