Segundo Turno: quem será vice do PMDB?

Segundo Turno: quem será vice do PMDB?
“… outro dia escutei um cozinheiro que reuniu as aves. Galinhas, gansos, faisões e patos. Escutei o que o cozinheiro dizia, me parecia interessante e queria contar o que escutei. O cozinheiro perguntava com que tempero (as aves) queriam ser comidas. Uma das aves, creio que uma humilde galinha, disse: ‘nós não queremos ser comidas de nenhuma maneira’. O cozinheiro esclareceu: ‘isso está fora de questão’. Me pareceu interessante a reunião porque isso é uma metáfora do mundo. O mundo está organizado de tal maneira que temos o ‘direito’ de eleger o tempero com o qual seremos comidos…”[1]

O debate em torno do segundo turno não pode começar pelo embelezamento ou satanização de uma ou outra candidatura.

Os defensores de Aécio pretendem “combater a corrupção”. Mas cada uma das candidaturas tem sua própria coleção de escândalos.

Os defensores de Dilma pretendem evitar as privatizações, mas foram os governos do PT que privatizaram o Pré-Sal, os aeroportos etc.

Os defensores de Aécio pretendem salvar a Petrobrás, mas foi o PSDB que doou a Vale do Rio Doce!

Os defensores de Dilma pretedem evitar a redução de direitos, mas foi precisamente o PT que conseguiu arquitetar o ACE, fazendo inveja ao PSDB. Lembremos que foi o PT que realizou a reforma da Previdência.

Durante as mobilizações de junho 2013, em São Paulo, ficou evidente a afinidade real entre PSDB e PT, Alckmin e Haddad agiram energicamente para reprimir violentamente as manifestações!

Por outro lado, a patética disputa pela paternidade de programas e reformas, também denota a unidade de projeto. O Bolsa Família e a Reforma Universitária são duas ações propostas pelo Banco Mundial, que é uma instituição publica e notoriamente à serviço do capitalismo. No Brasil, não por acaso, PT e PSDB se engalfinham pela “paternidade” do Bolsa Família.

Neste campeonato da incoerência, onde a classe trabalhadora já foi derrotada eleitoralmente, as duas versões do mesmo projeto empresarial se esforçam para fabricar diferenças artificiais, com o objetivo de ocultar o conjunto da obra!

O Presidencialismo de Coalizão e O PMDB…

Em 2002 o PT optou por não realizar um governo sustentado pela mobilização popular organizada, preferindo o Presidencialismo de Coalizão.

No Presidencialismo de Coalizão, que se caracteriza pela sustentação política do governo baseada no parlamento sem mobilização popular organizada, quem dá as cartas são os financiadores de campanha. O financiamento determina os parlamentares eleitos. Para conseguir a maioria no parlamento é necessário negociar com a direita e todas as demais expressões políticas controladas pelos grandes empresários.

O PMDB foi o principal aliado dos governos tanto do PSDB como do PT. Nenhum partido governa, no Presidencialismo de Coalizão, sem acordo com o PMDB!

O PMDB é o Partido da Ordem (nos termos de Marx) mais estável, no Brasil. Aparentemente o PMDB é vice na chapa do PT, mas estará no próximo governo, seja ele qual for, com enorme capacidade de influência. Fica mais realista apresentar como no título, onde o vencedor do segundo turno é que será o vice do PMDB.

O balanço dos governos do PSDB e do PT permite encontrar uma unidade essencial entre ambos, com diferenças superficiais. São variações complementares do mesmo projeto, que se alternam na gestão do Estado. As diferenças superficiais ajudam a confundir a população, o que consiste numa funcionalidade altamente benéfica para este esquema.

A cruzada contra a “direita” e o desenvolvimento do capitalismo

Nem Aécio nem Dilma nos livrarão da direita!

A aliança com o PMDB, decorrência do Presidencialismo de Coalizão antecipa isso.

Como pode ser observado na prática tanto do PSDB quanto do PT, além de NÃO combaterem a Direita, estes governos a fortalecem, seja pelas alianças, seja pela desmoralização da Esquerda produzida pelo PT (que ainda está associado a ela).

É tragicômico supor que o PMDB vai “combater a direita” ou permitir que isso acontença.

O PMDB não governa apenas para si, expressa o poder de uma classe social, a burguesia (ou frações dela).

Como o Congresso será mais conservador a partir de 2015, a coalizão tenderá mais à Direita.

Para piorar, um possível “ajuste” econômico para salvaguardar interesses capitalistas tende a afetar negativamente a classe trabalhadora e as camadas médias.

Combater a Direita como objetivo principal pode conduzir à armadilha de não combater a classe burguesa propriamente dita. Tal armadilha, como acontece nos governos do PT, ajuda a produzir resultados péssimos:

  1. fortalecimento da Direita;
  2. fortalecimento da classe capitalista (da qual a Direita é uma expressão);
  3. enfraquecimento político das classes exploradas e oprimidas.

É necessário combater a classe dos grandes empresários e não uma das suas expressões políticas particulares.

O Presidencialismo de Coalizão é inútil para combater a Direita. Só serve para fortalecer a burguesia.

É temerário supor que a direção do PT não saiba disso. A retórica do “combate à Direita” é uma arma utilizada para garantir o “voto útil”, para constranger a esquerda, para manter a coesão interna etc.

Fazendo justiça à sua formulação estratégica, o PT não é contrário ao capitalismo, pois vê no seu desenvolvimento a solução dos problemas criados pelo próprio modo de produção.

Por isso, o PCB acertadamente chamou o voto nulo no segundo turno das eleições presidenciais em 2014[2].

Para fazer um Governo Popular, só com sustentação no movimento popular organizado e mobilizado, só com o povo na rua.

A solução é continuar trabalhando arduamente para construir o Poder Popular!

*Dario da Silva é membro do Comitê Central do PCB e mestrando em Patrimônio Cultural na UFSM.

Fonte: http://dariodasilva.wordpress.com/2014/10/14/segundo-turno-quem-sera-o-vice-do-pmdb/


1. Eduardo Galeano. La memoria del fuoco. Il terrorismo come sistema. Piacenza, Italia.

2. “Nem Aécio nem Dilma: PCB seguirá na luta pelo Poder Popular e pelo Socialismo” <http://pcb.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=7868>