Guatemala. Entrevista com o candidato presidencial da Esquerda Guatemalteca: Miguel A. Sandoval “El ZURDO”

imagemResumen Latinoamericano/ ABP Noticias/ 07 de julho de 2015.- ABP.- Quem é Miguel Ángel Sandoval?

Minha atuação na luta revolucionária vem desde a juventude, no movimento estudantil. Posteriormente, fiz parte dos grupos insurrecionais e, finalmente, participei do processo de negociação que culminou com a assinatura da paz em 1996. Desde a assinatura da paz até a presente data, escrevo em jornais de circulação nacional e acompanho as lutas sociais.

Pela aliança URNG-WINAQ, me apresento como candidato presidencial em inúmeras assembleias nacionais e acompanhado pelo candidato a vice-presidente, Mario Ellington, primeiro garífuna (população afrodescendente) que aspira esse cargo. Isso fala melhor que os discursos: somos um projeto inclusivo, que luta pelos direitos dos povos oprimidos, marginalizados, diversos, que habitam o território da Guatemala.

Além disso, a base de nossas propostas se encontra nos compromissos de paz que foram engavetados por vários governos, porém que agora, milhares de pessoas, ainda sem reivindicar os acordos em si, proclamam seus compromissos como as necessidades atuais para o país. É o caso da reforma política, a depuração do organismo jurídico ou a lei de serviço civil, pilares dos acordos. Também existe uma proposta de desenvolvimento rural, nacionalização de alguns recursos estratégicos e a demanda do Bem Viver.

Qual é a situação da Guatemala no âmbito econômico, político e social e sua proposta?

Atualmente, a Guatemala vive uma crise política que possui origem na corrupção governamental. É de tal natureza que na instituição encarregada dos impostos se descobriu uma rede de corrupção sem precedentes na história nacional. Os cálculos não são oficiais, porém a partir deles é possível deduzir que a informação divulgada por meios de comunicação e pelas denúncias da CICIG (Comissão Internacional Contra a Impunidade na Guatemala) permite afirmar que, ao menos, 25% dos impostos recolhidos a nível nacional ia para as redes de corrupção. Isto nos diz que um quarto do orçamento nacional, em um país onde a saúde, educação, infraestrutura ou segurança se queixam de falta de recursos…!

Ao caso da SAT somam-se, em 3 meses, a corrupção do IGSS (Instituto Guatemalteco de Seguridade Social) e a prisão de sua junta diretora. A captura de vários funcionários da Polícia Nacional Civil, a renúncia de vários ministros, como o do Governo, Meio Ambiente, Minas e Energia. Em torno de 50 detidos e sujeitos a processo penal. E falta muito por fazer. Assim, vários juízes e magistrados se encontram submetidos a processos de impeachment por propiciar a impunidade e, recentemente, um ex-vice-presidente do Congresso foi acusado de corrupção. São produzidas inspeções nos escritórios do Congresso da República por conta da ligação com os presos.

Em suma, é a derrocada institucional… E isso é terreno fértil para as mobilizações sociais.

O mais grave disso é que a rede infectada da administração fiscal tinha seu principal reduto os escritórios da vice-presidência da República. É a razão que explica que a vice-presidenta tenha renunciado e esteja hoje passando por um processo penal.

Esta situação é que gera as mobilizações sociais mais nutridas da história recente. No ato onde fui proclamado candidato presidencial da URNG-MAÍZ, afirmei que as mesmas só tinham comparação com as de 1920, 1944 ou 1962, só que agora se fazem de maneira pacífica, democrática, com muita imaginação. Estes protestos se iniciaram em 25 de abril e até a presente data não diminuíram. Há dias que são menores, porém o clima nacional é o de exigência do fim da corrupção…

Assim, existe um processo de impeachment contra o presidente da República, pois ele está ligado a eventos de corrupção. Sua única defesa tem na “defesa” da institucionalidade o ponto forte, o qual é na verdade uma falácia, pois se existe alguém que se encarregou de destruir a institucionalidade com a corrupção e a impunidade foi o atual governo, da presidência aos demais cargos.

As eleições estão previstas para 6 de setembro, porém uma enorme quantidade de setores consideram que não existem condições para que se levem a cabo. É uma disputa entre a velha ordem e o que se propõem a partir das ruas.

O clima de ingovernabilidade é alto, ainda que por sorte, sem excessos repressivos, o que pode ser atribuído à presença dos EUA, que sabe que os excessos podem aprofundar os ânimos da população, e à vigilância da comunidade internacional, que observa uma situação anômala do ponto de vista da soberania, que não é desejável, mas hoje constitui a realidade que vivemos nesta época de crise.

Finalmente, parece que a situação guatemalteca gerou em Honduras uma espécie de réplica, sempre contra a corrupção, como de costume, com suas especificidades. Isto permite afirmar que na região centro-americana é possível estar iniciando um novo ciclo de lutas populares após anos de relativa calma. As questões de fundo permanecem sem modificações e essa é a razão das mostras de impaciência nas mobilizações.

Sobre outras áreas do continente, creio que a situação cubana de negociação para uma normalização com os EUA deveria ser um marco para o continente e, por isso, não parecem positivas as pressões, de clara origem norte-americana contra o processo bolivariano da Venezuela. Na Venezuela, não só se busca incentivar a oposição interna, como criar conflitos regionais com seus países vizinhos. Creio que é o momento de instalar a sensatez em nossas relações bilaterais e multilaterais para poder alcançar um clima de paz que a todos nos é de vital importância.

Não posso deixar de expressar minhas felicitações acerca do processo de paz de Havana entre as FARC e o governo colombiano, que talvez culmine, apesar de todas as provocações militaristas, em um processo de paz firme e democrática para o bem do povo colombiano.

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2015/07/07/guatemala-entrevista-al-candidato-presidencial-de-la-izquierda-guatemalteca-miguel-a-sandoval-el-zurdo/

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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