Camarada Elson Costa, presente!
Elson Costa nasceu em 26 de agosto de 1913, na cidade de Prata, Minas Gerais. Foi militante do Partido Comunista (PCB) desde os 17 anos até completar 61 anos, idade que tinha quando foi sequestrado por agentes da ditadura. Iniciou sua militância em Uberlândia, onde liderou uma greve de caminhoneiros. Trabalhou na divulgação do jornal A Classe Operária, integrou o Comitê Central e era o responsável pelo setor de Agitação e Propaganda quando foi preso em 1975. Como indicou o seu sobrinho José Miguel em depoimento à Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, desde os anos do Estado Novo, Elson já atravessara períodos de prisões e torturas pelo aparato repressivo do Estado.
Com o golpe de 1964, teve seus direitos políticos cassados e passou a atuar na clandestinidade com outro nome. Em 1966, foi condenado a dois anos de reclusão pela Justiça Militar. Cumpriu a pena em Curitiba e, após ser solto, voltou à clandestinidade. Na manhã do dia 15 de janeiro de 1975, foi preso no bar ao lado de sua casa, onde tinha ido tomar café. Alguns vizinhos tentaram protestar contra a ordem de prisão dada por seis homens que chegaram numa veraneio, pois, para eles, quem estava sendo preso era o aposentado Manoel de Souza Gomes, que vivia na Rua Timbiras, 199, bairro de Santo Amaro, em São Paulo. O crime foi noticiado como tendo sido o sequestro de um rico comerciante da região.
Elson foi levado para um centro clandestino da repressão ligado ao DOI-CODI/SP, onde foi submetido a todo tipo de tortura. Seu corpo foi banhado em álcool, queimado e afogado no rio Avaré, segundo os depoimentos prestados à revista VEJA, em 18/11/1992, por Marival Dias Chaves do Canto, ex-sargento e agente dos órgãos de informação do Exército, que relatou terríveis e esclarecedores fatos sobre a barbárie cometida nos porões da ditadura. Segundo ele, um dos centros clandestinos usados para execuções foi uma casa onde funcionava antes a boate Querosene, alugada pelo Exército durante dois anos na cidade de Itapevi, município da Grande São Paulo. A boate foi transformada em centro de torturas e assassinatos, por onde passaram militantes do PCB cujos corpos foram depois jogados num rio, sob a ponte localizada na estrada que liga Avaré, no interior de São Paulo, à Rodovia Castelo Branco. Nas palavras do ex-agente, “existe ali um cemitério debaixo d’água”.
O camarada Dinarco Reis Filho lembra quando conheceu Elson Costa:
“Meu pai, Dinarco Reis, tinha recebido a tarefa do Partido para, junto com Elson Costa e Orlando Bonfim, organizar o jornal Tribuna do Povo em Belo Horizonte. Elson me chamou a atenção pelo modo de vestir, com o paletó pendurado no dedo da mão esquerda e jogado por cima do ombro, de camisa social de punho duplo, sem abotoadura. Na sua casa fomos apresentados a uma das figuras mais meigas que conheci, que falava baixo e manso, sua esposa Aglaé. Ela o chamava pelo apelido carinhoso de Mané, com o qual passamos também a chamá-lo. A última vez que o vi foi quando eu tinha marcado um encontro com um membro do Partido na Petrobrás. O Elson apareceu e me disse que tinha um encontro com um camarada, que estava com pouco dinheiro e não tinha lugar para dormir. Depois de encontrar o petroleiro, dei ao ‘Mané’ parte da grana e a chave do meu apartamento em Niterói. Depois fiquei sabendo de sua prisão através do meu pai. Sabia que iriam desaparecer com ele, como já tinham feito com outros presos da Ditadura.”