Mais tropas alemãs e espanholas no Mali*

imagemCarlos Lopes Pereira

A presença imperialista e neocolonial na África subsariana amplia-se. A acção dos bandos terroristas fornece uma justificação imediata para esse processo, numa articulação tão evidente que dificilmente se poderá considerar acidental. E essa crescente presença militar não tem reflexos na diminuição da violência.

Aumenta a presença e intervenção de tropas estrangeiras no Mali, contudo impotentes para travar a actividade dos grupos radicais islâmicos armados.

O recente ataque a um hotel em Bamako, com captura de reféns, bem como a operação de resgate e as investigações que se seguiram, evidenciam a crescente ingerência militar ocidental naquele país africano.

Há ainda dúvidas sobre o que se passou exactamente na sexta-feira, 20, no luxuoso Radisson Blu da capital maliana. O procurador que dirige o inquérito declarou que morreram 22 pessoas, incluindo dois atacantes. «Todos os testemunhos apontam para apenas dois terroristas», assegurou Boubacar Samaké. As primeiras notícias após o atentado, que envolveu 140 hóspedes de diversas nacionalidades e 30 empregados, referiam um maior número de vítimas e de assaltantes.

Segundo o inquiridor, os autores do atentado «beneficiaram de cumplicidades para entrar no hotel» e para «cometer o crime». Outras fontes, dos serviços secretos malianos, citadas pela revista Jeune Afrique, indicam que os atacantes eram «estrangeiros», de língua inglesa, e que teriam sido auxiliados por cúmplices locais, pelo menos três, procurados agora pela polícia.

A acção foi reivindicada pelo grupo Al-Murabitune, liderado pelo argelino Mokhtar Belmokhtar, com a «participação» da Al-Qaeda do Maghreb Islâmico (Aqmi). Uma outra organização, do centro do Mali, a Frente de Libertação de Macina (FLM), assumiu também a autoria do assalto, «com a colaboração do Ansar Dine», chefiado por Iyad Ag Ghaly. As autoridades não excluem uma convergência entre vários bandos mas admitem que a dupla reivindicação vise sobretudo confundir os investigadores.

O tunisino Mongi Hamdi, chefe da missão das Nações Unidas no Mali (Minusma), um contingente de 10 mil homens, reconheceu que «os terroristas estão bem implantados no Mali, apesar de todos os esforços» para os combater, desde a intervenção militar francesa, em Janeiro de 2013. Nessa altura, o Movimento Nacional de Libertação do Azawad (MNLA), de nacionalistas tuaregues, tinha proclamado a independência do Norte do Mali. Aliou-se de início a grupos de radicais islâmicos, como o Ansar Dine, o Aqmi e o Movimento para a Unidade e a Jihad na África Ocidental (Mujao), todos eles ainda activos.

Apesar da maciça presença de tropas ocidentais no Mali, as acções jihadistas multiplicaram-se nos últimos meses.

Em Março, um homem causou cinco mortos, num assalto a tiro ao bar-restaurante La Terrasse, no centro de Bamako, frequentado por expatriados e ocidentais de passagem. Em Maio, uma residência da Minusma foi alvo de tentativa de invasão. Dias depois, um comboio de tropas da ONU foi metralhado à saída do aeroporto, tendo morrido um capacete azul. Em Junho e Agosto, fora da capital, registaram-se ataques nas cidades de Misseni e Sévare, com várias baixas. Os serviços de segurança malianos afirmam ter impedido outros atentados.

Tropas especiais estado-unidenses

No inquérito sobre os acontecimentos no Radisson, participam peritos franceses e da ONU ao lado das autoridades malianas. Mas o envolvimento estrangeiro no caso é anterior e mais amplo.

Na operação de resgate dos reféns, ao longo de mais de sete horas, participaram tropas especiais do Mali, da Minusma, de França e dos Estados Unidos.

Os franceses despacharam de Paris para Bamako 40 elementos das forças antiterroristas e deslocaram tropas estacionadas no Burkina Faso. A França tem na zona um forte dispositivo militar, de três mil soldados, com quartel-general em N’Djamena, capital do Chade, para defender os seus interesses neocoloniais na zona do Sahara e do Sahel. Além disso, possui na região bases e tropas no Senegal, na Costa do Marfim, no Níger e no Gabão.

Os Estados Unidos, soube-se agora, mantinham em operações no Norte do Mali «um pequeno grupo de forças de segurança», que ajudou a resgatar cidadãos norte-americanos do hotel – a informação foi confirmada pelo general David Rodriguez, chefe do Africom, o comando militar estado-unidense para África.

Já depois dos atentados de 13 de Novembro em Paris, dirigentes da Alemanha e de Espanha disponibilizaram-se para «ajudar» a França a combater o terrorismo. Madrid ofereceu-se para substituir parcialmente as tropas francesas no Mali e na República Centro-Africana. Angela Merkel está pronta para aumentar o contingente de soldados alemães no Mali, onde a União Europeia dispõe já de uma missão de meio milhar de especialistas militares, a pretexto de formar e treinar as forças armadas malianas.

*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2191, 26.11.2015

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