PCPE: as eleições para o parlamento europeu
Consideração crítica acerca da realidade expressa pelos resultados das eleições para o Parlamento Europeu de 9 de junho
Partido Comunista dos Povos de Espanha – PCPE
Uma primeira frase que poderia resumir o que descreveremos mais adiante seria que, apesar da gravidade da situação política, econômica e social que os povos da Europa vivem, a gestão da sua realidade – dos seus interesses e necessidades – eles seguem confiando em seus algozes. A incapacidade de um setor majoritário da população identificar os responsáveis por uma realidade marcada pela guerra – aqui e agora – e por uma crescente desvalorização da força de trabalho, que se traduz num exército inesgotável de trabalhadores pobres, especialmente mulheres trabalhadoras, jovens e migrantes, para quem é impossível sobreviver garantindo o pagamento das despesas que decorrem da reprodução da sua força de trabalho (habitação, alimentação, transporte, saúde e abastecimentos), permite que o domínio criminoso das nossas vidas ainda permaneça sustentado num amplo consenso social.
Divididas em várias frações que representam as diferentes expressões do capital, praticamente todas as múltiplas propostas do pantone multicolorido do arco parlamentar, que vão desde a extrema direita neofascista até qualquer uma das facções da social-democracia, propõem a mesma coisa para nós. Todos eles, ao aceitarem os marcos do capitalismo e da UE como únicos possíveis, assumem ser os gestores que impõem disciplinadamente todas as exigências do ajuste fiscal, das privatizações e da economia de guerra, que a agenda dos monopólios e do grande capital exige na Europa.
Essa é a realidade da Ditadura do Capital, desta falsa democracia de um sistema que, na sua decadência, já não tem nada de positivo para oferecer ao povo. Uma realidade que pode ser extrapolada para o Reino da Espanha, onde, por trás das diversas cortinas de fumaça que marcaram a campanha eleitoral (basicamente corrupção e anistia), existe um acordo absoluto quanto ao desenvolvimento efetivo das políticas impostas pela Comissão Europeia para garantir o pagamento da dívida e a manutenção dos crescentes gastos militares impostos pela OTAN para a continuidade da guerra na Ucrânia.
Não ouvimos nada sobre o fim da moratória fiscal, nem sobre a assinatura do Acordo de Colaboração Militar com o regime fascista de Kiev…, menos ainda sobre a garantia de pagamento dos 70 bilhões de euros que devem ser devolvidos aos Fundos de Próxima Geração, através do Sistema Público de Previdência, ou a mais que possível mobilização de tropas recrutadas para a frente de guerra, se necessário. No entanto, a individualização da dominação ideológica, que de forma cada vez mais aperfeiçoada, se exerce através dos múltiplos meios de propaganda que inundam o nosso cotidiano, anulam a nossa privacidade e rompem os espaços comunitários que nos unem como classe, faz com que ainda não haja resposta contundente aos seus planos de desmantelar direitos e liberdades.
Independentemente dos votos de uns e de outros e do avanço da direita política e do recuo das opções reformistas, o necessário para barrar a onda reacionária profundamente anticomunista que gangrena a sociedade e superar a decadência política e ideológica do pós-modernismo, é recuperar os espaços de luta e organização do povo. Reconstruir as estruturas de intervenção e participação social para voltar a colocar a comunidade e a classe acima da individualidade e da meta-realidade do algoritmo que nos domina e brutaliza, é a única coisa que nos permitirá derrotar este período de retrocessos em que a ideologia de dominação do capital nos coloca.
A prioridade absoluta é promover a organização protagônica do sujeito revolucionário – do povo trabalhador – em cada um dos espaços a partir dos quais seja possível enfrentar a contradição capital/trabalho e qualquer uma das múltiplas opressões que se expressam nesta sociedade. Tudo se ganha lutando de forma organizada e tudo se perderá se não lutarmos.
Consequentemente, não há confiança no jogo parlamentar e na possibilidade de colocar neste marco qualquer alternativa favorável ao povo, a não ser que consiga responder a uma dinâmica de pressão e de mobilização prévia. Somente na capacidade de o povo derrotar o inimigo de classe reside a firmeza do nosso compromisso político em continuar a trabalhar para uma mudança de ciclo que – uma vez aprendidas as lições do passado e sabendo onde acabou aquela ilusão que encheu as praças – fundamente a sua força unicamente na organização do povo.
Só na força telúrica de um povo organizado, que se mobiliza para a defesa exclusiva dos seus interesses e necessidades, existe a possibilidade de sair deste cenário de pobreza, destruição e morte em que o único consenso social que se gera nesta sociedade seja que as gerações seguintes viverão de modo pior que as atuais se tudo continuar como está até agora. O nosso compromisso é estar aí desenvolvendo o papel de vanguarda que nos corresponde, assumindo a responsabilidade de transmitir o programa revolucionário aos setores mais avançados e conscientes do povo, para transformar qualquer luta operária e popular num conflito político com o Estado.
Hoje é absolutamente prioritário colocar mais uma vez o comunismo, o Partido Comunista, o PCPE e o PCPC na Catalunha -, no centro do desenvolvimento da luta de classes. A partir deste propósito de trabalho político que constrói uma recuperação crescente do protagonismo da luta de classes e da militância comunista entre as massas, é por onde vamos realizar a necessária análise autocrítica do nosso trabalho eleitoral. Uma consideração que, para além dos números, deve abordar a multiplicidade de fatores internos e externos que influenciaram este resultado.
Uma análise que, da mesma forma, deve situar-se na consideração do nível de consciência das diversas classes sociais relativamente ao parlamentarismo e às suas consequências quanto à participação eleitoral. Uma avaliação profunda, que não pode ficar em impressões superficiais, que procuram justificar a incapacidade de intervir numa reivindicação do abstencionismo atual, em grande parte apolítico e falta de consciência, como possível base para a mudança revolucionária.
Depois das eleições, o trabalho de massas, principalmente entre os setores mais conscientes e avançados do movimento operário, deve ser o elemento central na nossa política de alianças para construir referências organizacionais a partir das quais possamos enfrentar a guerra imperialista e a ditadura do capital.
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)