Violência histórica contra os Guarani Kaiowá
PCB/Comitê Regional-MS
Nos últimos anos, a etnia Guarani Kaiowá vem ganhando amplo destaque nos cenários nacional e internacional. Essa situação ocorre devido ao violento processo de expulsão de suas terras, acirrado ao longo da história. De forma mais sistemática, esse processo aprofundou-se no começo do século XX, a partir de políticas de Estado voltadas a “povoar” o território e “civilizar” os indígenas. Buscava-se povoar todo o Oeste brasileiro, visando à construção e consolidação de uma ampla frente agrícola. Em sua grande maioria, os descendentes de europeus do Sul do país foram os maiores beneficiados. Guiado por uma concepção positivista, o Estado brasileiro entendia as populações indígenas como sujeitos bárbaros e anti-civilização. Com a intenção de criar uma noção de nacionalidade no país, segundo esta concepção, era necessário retirá-las da “pré-história”. A forma encontrada para tal objetivo foi a criação do sistema de aldeamento.
No sul do Mato Grosso do Sul, esse processo de confinamento dos indígenas foi intenso, e a etnia Guarani Kaiowá foi uma das mais atingidas. Seus membros rapidamente foram perdendo as terras, ao passo que eram forçados a viver em territórios definidos pelo Estado. Suas terras, a partir de meados do século XX, passaram a ser destinadas aos não-índios, política responsável pela criação de um cenário de crescente pauperização dos Guarani Kaiowá. A perda forçada das terras e o confinamento de uma população cada vez maior geraram graves problemas para sua organização social. Atualmente, a reserva indígena de Dourados/MS conta com aproximadamente 17 mil habitantes, sendo a maioria de Guarani Kaiowá. Os problemas encontrados nesse “grande bairro” de Dourados são os mesmos de qualquer periferia em cidades grandes. Faltam saneamento básico, acesso à saúde, educação, sobram violência, tráfico de drogas, alcoolismo, alto índice de suicídio, entre outras situações. Aliado a tudo isso, uma forte percepção racista dos não-índios sobre esse grupo étnico-social insere os Guarani Kaiowá numa condição profunda de subalternidade.
Nas últimas décadas, os ataques aos indígenas do MS passaram a ser ainda mais sangrentos. Com o surgimento e o fortalecimento do agronegócio, a violência contra os indígenas se tornou uma ação organizada social e politicamente. Atualmente, o agronegócio se impõe como uma poderosa estrutura econômica e social voltada a massacrar a população indígena do Estado, a segunda maior do país. Com seus interesses enraizados nas várias esferas de poder (Estado, cultura, sociedade civil e economia), o agronegócio busca destruir qualquer tipo de garantia concreta de sobrevivência da humanidade dos Guarani Kaiowá.
Diante de tal contexto, esse grupo étnico-social vem, nos últimos anos, intensificando a luta pela retomada dos seus territórios (tekoha). Os militantes do PCB/MS colocam-se inteiramente ao lado dos Guarani Kaiowá. Juntamente com eles, o PCB/MS está convencido de que o agronegócio, expressão bem acabada do capitalismo monopolista no campo, é o principal obstáculo para a construção de uma sociedade que expresse os interesses dos indígenas e de toda a classe trabalhadora.