José Montenegro de Lima: a juventude comunista enfrenta a ditadura

imagemNo ano de 1975, quando o Partido Comunista Brasileiro (PCB) sofria o forte ataque desferido pelos órgãos da repressão, coube a José Montenegro de Lima a responsabilidade de retomar a produção do Voz Operária, jornal mensal comunista, um dos principais alvos da caçada feita pela ditadura, que acabara de desmantelar as gráficas do Partido. Instalado em São Paulo, usou um mimeógrafo destinado à elaboração de questionários de pesquisa de mercado para imprimir as edições da Voz Operária de fevereiro, março e abril daquele ano, últimos exemplares produzidos no Brasil.

Magrão, como era conhecido o dirigente da Juventude Comunista, por ser franzino e ter quase dois metros de altura, desafiou as forças da reação um mês depois de o ministro da Justiça, Armando Falcão, ter noticiado com júbilo, em cadeia nacional de televisão, a queda da estrutura gráfica do PCB. Preso em 29 de setembro daquele ano, Montenegro foi conduzido para um sítio em Araçariguama, no interior de São Paulo, um porão de torturas clandestino mantido pelo Exército Brasileiro. Torturado e morto com uma injeção para sacrificar cavalos, seu corpo foi atirado nas águas do Rio Novo, em Avaré, mesmo destino de outros militantes assassinados pela ditadura.

José Montenegro de Lima nasceu no município cearense de Itapipoca, em 27 de outubro de 1943, filho mais velho do pedreiro Francisco Montenegro de Andrade – o Chico Vermelho, agitador das candidaturas do PCB em 1945 – e de Maria dos Santos Montenegro, dona de uma barraca em que servia comida para sustentar seus 12 rebentos. Foi estudar no ginásio industrial de Fortaleza, hoje Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, onde fez o curso de técnico em Construção de Estradas e começou a participar do movimento estudantil. Já militante do PCB, em 1963 ajudou a fundar a União dos Estudantes Técnicos do Ceará e foi eleito para a União Nacional dos Estudantes Técnicos Industriais (UNETI), durante o V Congresso da entidade, acontecido em Fortaleza. Transferiu-se então para a Escola Técnica Nacional do Maracanã, hoje Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET), passando a residir no Rio de Janeiro.

Com o golpe de 1964, Montenegro foi indiciado no Inquérito Policial Militar da UNE, que envolveu mais de mil estudantes. Em 1966, foi para Moscou estudar na escola de quadros do Instituto Superior de Estudos Sociais mantido pelo Partido Comunista da União Soviética (PCUS). Dois anos depois, retornou ao Rio de Janeiro, assumindo a organização da Secretaria Juvenil, vinculada ao Comitê Central sob responsabilidade da dirigente Zuleika Alembert. Enviado para São Paulo, incumbiu-se do trabalho de reestruturação do Comitê Universitário paulista, dizimado pela repressão, coordenando ainda a ação dos comunistas no movimento secundarista e junto a movimentos culturais formados nos moldes do extinto CPC da UNE.

Em 1973, comandou a delegação brasileira, composta por representantes de várias organizações, como a Ação Libertadora Nacional (ALN) e a Ação Popular (AP), para o Festival Mundial da Juventude Democrática promovido pela FMJD em Berlim Oriental. Carismático e respeitado pela capacidade de ouvir e conversar com quem pensava diferente dele, nem os tempos duros de clandestinidade lhe tiraram a característica de boêmio e apaixonado pela vida: em 1974, por exemplo, pulava o carnaval em Salvador, como conta o amigo Orlando Marretti Sobrinho.

O bravo militante comunista, que se destacou por sua disciplina, coragem, senso crítico e coletivo, foi homenageado durante Ato Político do VI Congresso da União da Juventude Comunista (UJC), realizado em julho de 2012, quando o PCB, a UJC e a Fundação Dinarco Reis entregaram a Medalha Dinarco Reis a seu irmão mais novo, Francisco Montenegro de Lima.

Recentemente, o Ministério Público Federal denunciou o ex-chefe do DOI-CODI Audir Santos Maciel por homicídio duplamente qualificado e ocultação do cadáver de José Montenegro, crimes imprescritíveis e impassíveis de anistia. Que se faça justiça, enfim!

Camarada Montenegro, presente, hoje e sempre!

(O PODER POPULAR Nº 8)