Os destruidores da Líbia agora são “pela Líbia”

imagemManlio Dinucci

ODIARIO.INFO

A Itália participou ativamente, há sete anos, da destruição da Líbia pelos EUA/OTAN. O Estado líbio foi destruído e pilhado, e a sua destruição deu origem a uma onda de refugiados que, em boa parte, procura atingir as costas da Itália. É provavelmente essa a razão “humanitária” que leva os que participaram desse crime monstruoso a promover agora uma “conferência” sobre a questão.

Um crescente da lua (símbolo do islamismo) desenhado como um hemisfério estilizado que, flanqueado por uma estrela e pelas palavras “for/with Libya” (por/com a Líbia) representa um mundo que se quer colocar ao lado da Líbia: eis o logotipo da “Conferência pela Líbia” organizada pelo governo italiano, como o evidencia a bandeira tricolor na parte inferior do crescente/hemisfério.

A Conferência internacional realizou-se em 12-13 de Novembro em Palermo, nesta Sicília que há sete anos foi a principal base de lançamento da guerra com a qual a OTAN, sob comando EUA, demoliu o Estado líbio. Essa guerra iniciava-se através do financiamento e armamento de setores tribais e de grupos islâmicos hostis ao governo de Trípoli e da infiltração no país de forças especiais, entre as quais milhares de comandos do Qatar camuflados em “rebeldes líbios.” Depois, em março de 2011, era lançado o ataque aeronaval EUA/OTAN que durou 7 meses. A aviação efetuaria 30 mil missões, das quais 10 mil atacantes, utilizando mais de 40 mil bombas e mísseis.

Por vontade de um vasto agregado político que ia da direita à esquerda, a Itália participou na guerra não apenas com a sua aeronáutica e marinha, mas também colocando à disposição das forças EA/OTAN 7 bases aéreas: Trapani, Sigonella, Pantelleria, Gioia del Colle, Amendola, Decimomannu e Aviano.

Com esta guerra de 2011 a OTAN demoliu este Estado que, na margem sul do Mediterrâneo em face da Itália, tinha atingido, embora com significativas desigualdades internas, “altos níveis de crescimento econômico e de desenvolvimento humano” (tal como documentava o próprio Banco Mundial em 2010), superiores aos dos outros países africanos. Era testemunho disso o fato de terem encontrado trabalho na Líbia cerca de dois milhões de imigrantes, na sua maioria africanos. Ao mesmo tempo a Líbia teria, com os seus fundos soberanos, tornado possível o nascimento na África de organismos econômicos independentes e de uma moeda africana.

Os EUA e a França – como provam as mensagens de correio eletrônico da secretária de Estado Hillary Clinton – tinham-se posto de acordo para bloquear o plano de Kadhafi de criar uma moeda africana, alternativa ao dólar e ao franco CFA imposto pela França a 14 ex-colônias africanas.

Após a demolição do Estado e o assassínio de Kadhafi, na caótica situação que se seguiu, teve início tanto no plano interno como no plano internacional uma luta feroz pela repartição de um enorme espólio: as reservas petrolíferas – as maiores de África – e de gás natural; o imenso lençol núbio de água fóssil, esse ouro branco em perspectiva de se tornar mais precioso do que o ouro negro; o próprio território líbio, de primeira importância geoestratégica; os fundos soberanos de cerca de 150 milhares de milhões de dólares investidos no estrangeiro pelo Estado líbio, “congelados” em 2011 nos maiores bancos europeus e norte-americanos, roubados, por outras palavras. Por exemplo, de 16 milhares de milhões de fundos líbios, bloqueados no Euroclear Bank na Bélgica e no Luxemburgo, desapareceram mais de 10. “Desde 2013 – documenta a RTBF (radiotelevisão belga francófona) – centenas de milhões de euros provenientes desses fundos foram enviados para a Líbia para financiar a guerra civil que provocou uma grave crise migratória.”

Numerosos imigrantes africanos na Líbia foram aprisionados e torturados pelas milícias islâmicas. A Líbia tornou-se a principal via de tráfego, nas mãos dos traficantes e operadores internacionais, de um fluxo migratório caótico que em cada ano provocou mais vítimas no Mediterrâneo do que as bombas da OTAN em 2011.

Não se pode ignorar, como fizeram os organizadores da contra-cimeira de Palermo, que na origem desta tragédia humana está a guerra EUA/OTAN que, há 7 anos, demoliu um Estado inteiro na África.

Fonte: https://ilmanifesto.it/i-distruttori-della-libia-ora-per-la-libia/

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