Nota da Associação de Médicos Egressos da Escola Latinoamericana de Medicina – ELAM/CUBA
A Associação das Médicas e Médicos Egressos da Escola Latino Americana de Medicina, em Cuba, expressa o mais profundo repúdio às irresponsáveis declarações do presidente eleito no Brasil, Jair Bolsonaro, que nos últimos meses tem atacado de forma inconsequente e desnecessária a cooperação dos médicos cubanos no Programa Mais Médicos para o Brasil (PMMB). Declarações essas que em nada contribuem para a boa relação entre os povos, gerando um clima hostil, resultando na soberana decisão do governo cubano de interromper sua participação no Programa.
O desrespeito do futuro presidente aos acordos entre nações, sustentados por convênios legalmente firmados, envolvendo instituições seculares como a Organização Pan Americana da Saúde (OPS/OMS), terá um impacto colossal na realidade sanitária do nosso povo, com milhões de pessoas desassistidas, ao custo de milhares de vidas ceifadas.
Nós médicos e médicas, graduados da ELAM, participamos ativamente do PMMB, desde a sua concepção. Hoje, mais de mil brasileiros formados em Cuba, prestam assistência em diversas regiões do país, seja por meio do Programa ou não, em locais de difícil acesso, periferias de grandes cidades, em diversas especialidades, sempre munidos dos mais nobres princípios éticos e morais, levando ciência e consciência a todos os cantos do país.
Somos solidários aos colegas médicos cubanos que heroicamente prestam assistência à população brasileira, nos mais recônditos confins do nosso país, lugares que nunca havia estado um médico antes. Nestes cinco anos de trabalho, em torno de 20 mil médicos e médicas cubanos participaram do PMMB, atenderam a mais de 113 milhões de brasileiros em cerca de 3600 municípios, sendo muitas vezes o único médico da cidade, sendo responsáveis por mais de 75 % de todos os profissionais médicos que atendem zonas indígenas espalhados pelo país. Nas grandes cidades, atuam nos locais de maiores riscos e vulnerabilidades, sempre levando conforto, carinho e amor.
Cuba tomou uma decisão à altura de seu povo, pois não se curva e jamais se curvará. Um povo que vive uma revolução verdadeira e enfrenta ataques e mentiras há décadas, sempre em uma constante batalha de ideias. Mesmo com todas as dificuldades, tornou-se uma reconhecida potência em saúde, com uma trajetória de cooperação internacional de mais de 50 anos, em mais de 150 países.
Desse tecido é feito esse povo e esses profissionais sairão do Brasil de cabeça erguida, mostrando ao mundo um verdadeiro exemplo de internacionalismo solidário, que nós brasileiros levaremos décadas para entender, e que tanto falta faz nestes tempos de crise civilizatória.
Obrigado aos cubanos e cubanas que deram o melhor de si nestes anos de Programa e nos ajudaram a alcançar melhorias nunca antes imagináveis, como a redução de mortalidade infantil e materna e a diminuição de internações sensíveis à Atenção Primaria, garantindo atendimento efetivo, humanizado e digno à população brasileira.
Agradecemos ao povo cubano que bravamente nos colocou a disposição seus melhores médicos, os mais experientes, buscando dar aos brasileiros uma Atenção Médica digna e de qualidade.
Nos colocamos à disposição de Cuba e dos nossos colegas galenos no que for necessário, na resistência, lutando com garra e coragem por um Brasil mais justo e solidário.
Quando o tema é saúde, um país como Cuba deve se respeitar, não se deve impor ideologias frente às necessidades básicas da população, principalmente os mais necessitados.
Brasília, 15 de Novembro de 2018
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