Fidel: o Heitor que venceu
Por: O Poder Popular · 13 de Agosto de 2024 ·
Lucas Silva – Jornalista do Poder Popular-Nova Friburgo e editor da Rede Marxista
Neste 13 de Agosto de 2024 celebramos os 98 anos de nascimento do grande estadista revolucionário e internacionalista cubano Fidel Castro Ruz. Fidel foi um dos líderes políticos mais importantes e influentes do século XX.
Suas palavras e ações serviram de exemplo a povos e organizações revolucionárias de todo mundo, especialmente nos países periféricos (ou sul global, como está na moda hoje em dia). Liderando a política internacionalista do país socialista caribenho, Fidel sempre teve papel de destaque como estadista, defendendo as causas mais avançadas de seu tempo.
É impossível falar da importância de Fidel para o terceiro mundo sem lembrar do seu combate tenaz contra a política imperialista de endividamento dos países pobres, o seu firme apoio a emancipação do povo palestino contra a ocupação sionista, a aliança militar contra as tropas do apartheid da África do Sul, o envio de dezenas de milhares de médicos e professores para os países mais necessitados, entre várias outras ações.
Sua solidariedade aos povos e as organizações populares e revolucionárias foi uma de suas marcas registradas, sendo um dos protagonistas do movimento de não alinhados (ao qual foi presidente por duas vezes) e da conferência tricontinental dos povos da África, Ásia e América Latina de 1966, articulações que contribuíram com grande parte das lutas anticoloniais e revolucionárias do século passado.
Em Cuba como bem destaca um artigo publicado na Prensa Latina: tornou-se uma lenda viva desde a sua chegada triunfante a Havana, em 8 de janeiro de 1959, liderando a guerrilha que derrotou o regime de Fulgêncio Batista (1952-1958). Com o seu pensamento e obra, este processo revolucionário transcendeu as fronteiras da nação cubana.
Para isso contribuíram o gênio e a sagacidade política do líder, espinha dorsal da unidade do povo face à hostilidade permanente das sucessivas administrações dos Estados Unidos, que, em retaliação, aplicou desde então um bloqueio estrito à ilha.
O mundo reconhece o estrategista militar cubano contra os bandidos nas montanhas Escambray (centro), os agressores mercenários em Playa Girón (Baía dos Porcos, 1961) e durante a Crise de Outubro, ou Crise dos Mísseis, em 1962.
Enfrentou a brutal política de asfixia econômica fruto do embargo estadunidense (mesmo Cuba conseguindo a façanha de aprovar na assembleia geral da ONU dezenas de vezes ao longo das décadas, o fim dos embargos com amplíssima maioria), grandes pressões políticas internacionais e venceu de maneira espetacular as 638 tentativas de assassinato por parte da CIA.
O grande jornalista português Miguel Urbano Rodrigues escreveu aquele que considero o mais belo texto sobre o exemplo inspirador de Fidel, chamado “Fidel, um Aquiles comunista”. Cometerei a ousadia de discordar do camarada Miguel Urbano.
A discordância não é pela homenagem em si, mais do que merecida, mas sim com a figura escolhida para homenagear Fidel.
Podemos fazer uma análise fria ou apaixonada, mas Fidel está muito longe de ter sido um Aquiles comunista. O herói principal da Ilíada era egoísta, impulsivo, extremamente arrogante, cometendo atrocidades e atos mesquinhos por interesses particulares ao longo da obra, lutando por glória pessoal a serviço de uma potência invasora e com ambições imperiais.
Fidel na verdade está muito mais próximo do grande herói troiano Heitor, personagem com grande firmeza de espírito, capaz de morrer pelo seu povo mesmo não tendo provocado a guerra, com capacidade excepcional de liderar e inspirar suas tropas. Foi um herói devoto a sua pátria e responsável com seu povo, sabendo respeitar os oponentes e demonstrando compaixão com os caídos em batalha, entrando em combate somente quando necessário.
Na Ilíada, Heitor foi o maior guerreiro troiano e Aquiles o principal combatente grego, ambos possuindo excelência no campo de batalha, força e grande coragem. Na ilíada venceu o semideus Aquiles. Apesar das adversidades Heitor buscou superar os próprios limites, mesmo diante das fraquezas e dos medos, para não ser subjugado pelas forças místicas da natureza, dos deuses e dos invasores gregos, recusando a escravidão. Na Ilíada, Heitor perdeu.
No século XX, Fidel, produto da combatividade e resiliência do povo trabalhador cubano aliado à ciência do marxismo-leninismo, venceu. Venceu, inspirou e continua a inspirar gerações de revolucionários, militantes e trabalhadores de todo mundo, como a liderança que ousou enfrentar o maior império e a maior máquina de guerra do século XX, e ainda assim conseguiu construir poder popular, conseguiu construir uma sociedade cujos índices sociais chegam perto das potências mais desenvolvidas do capitalismo (mesmo com os imensos embargos) nas áreas de saúde, educação, serviços públicos, expectativa de vida e etc.
Assim como Heitor, Fidel foi um patriota profundamente comprometido com a emancipação de sua nação, mergulhado e ao mesmo tempo fruto das lutas históricas do povo cubano. Fidel dava exemplo, chegou a pegar em armas para combater as tentativas de invasão de seu país, jamais ostentou ou usufruiu de regalias e riquezas. Foi sensível, atento e solidário as lutas contra as opressões, como o racismo, o patriarcado e mais recentemente o apoio as lutas LGBT. Encarnou os valores heróicos de um povo e de uma classe (o proletariado), serviu para liderar, liderou para servir, disseminando a força das ideias contra as armas das forças imperiais.
Fidel foi o Heitor que venceu, liderando a Tróia socialista que repeliu diversos cavalos invasores, exportando médicos e professores em vez de armas…
Compartilho com vocês duas citações do comandante que ilustram seu espírito revolucionário e internacionalista:
Trecho do Discurso no encontro com a União Nacional de Estudantes em Belo Horizonte, 1999
“Se procuramos verdades, a vocês, qualquer que forem as suas filosofias políticas, ou partidos, posso dizer-lhes que há várias perguntas e várias respostas que são necessárias esclarecer embora seja para desmascarar hipócritas, para destruir hipocrisias e para que o mundo possa tomar consciência das realidades de hoje, que serão nossas armas para conseguir esse mundo ao qual vocês aspiram.
Ouvi falar do Brasil e da união dos brasileiros para conseguir a pátria brasileira com a qual sonham, e digo que estes não são tempos de pensar na própria pátria; há que pensar em termos da pátria latino-americana e caribenha, essa que está representada aqui também através da OCLAE.
Estão a chegar os tempos de pensar na pátria mundial; estão a chegar os tempos de pensar no mundo, porque este mundo, inexoravelmente , está globalizado, comandado por uma superpotência única e em prol dum mundo unipolar, não para salvá-lo, mas sim para destruí-lo; não para trazer a justiça que todos necessitamos, mas sim para nos escravizar ainda mais se for possível, para nos humilhar ainda mais, para destruir os nossos sonhos que são indestrutíveis, para destruir as nossas culturas que devemos preservar e multiplicar, pois a união não significa o fim das culturas. União, integração e justiça significa a possibilidade de preservar todo o que amamos. Cultura, pátria que jamais deixaria de existir, embora estejamos todos unidos e integrados.
Sonhamos com um mundo que não esteja dirigido por uma falsa monocultura universal, mas sim com um mundo onde subsistam e se desenvolvam todas as culturas[…]
Trecho do artigo Holocausto Palestino em Gaza
“O genocídio dos nazistas contra os judeus provocou o ódio de todos os povos da terra. Por que o governo desse país [Israel] pensa que o mundo será insensível a este macabro genocídio que hoje está cometendo contra o povo palestino? Acaso se espera que ignore quanta cumplicidade existe por parte do governo norte-americano neste vergonhoso massacre?”
Fidel Vive!
Fidel Por Siempre!
Referências:
https://opoderpopular.com.br/fidel-um-aquiles-comunista/
https://www.marxists.org/portugues/castro/index.htm
https://www.marxists.org/portugues/castro/1999/07/01.htm
https://www.marxists.org/portugues/castro/2014/08/04.htm
https://www.marxists.org/portugues/castro/2015/05/07.htm
https://www.brasildefato.com.br/2023/01/03/ha-57-anos-movimentos-populares-realizaram-a-i-conferencia-tricontinental-relembre-encontro
O não-alinhamento de Cuba: uma política internacional por paz e socialismo
Clique para acessar o Williany%20Fab%C3%ADola%20Lima%20de%20Oliveira.pdf
https://impactum-journals.uc.pt/bec/article/view/64_2
http://www.fidelcastro.cu/pt-pt
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