Milhares nas ruas contra o desmonte da Previdência
Brasil de Fato
José Eduardo Bernardes
No dia nacional de Luta em defesa da Previdência, manifestações ao redor do país reuniram milhares de pessoas durante toda a sexta-feira (22). Os atos foram organizados por dez centrais sindicais e pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo e são uma resposta à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 6/2019, enviada em janeiro ao Congresso Nacional pelo governo Jair Bolsonaro (PSL).
Sindicalistas e ativistas querem barrar o avanço da PEC e criar força social para uma greve geral nos próximos meses.
No Rio de Janeiro (RJ), o ato reuniu cerca de 30 mil pessoas na região da Candelária, centro da cidade. A professora Sarah Ragaglia, 41, foi na manifestação com a filha Atena, de 1 ano. Ela considera a PEC uma “covardia”, principalmente, para nova geração que vai ter que começar a trabalhar cada vez mais cedo em prejuízo dos estudos. “A tendência é a gente fazer com que os jovens ingressem cada vez mais cedo no mercado de trabalho, sem estimular uma formação mais especializada, sem estimular o estudo”, lamentou.
Gabriella Sena, 22, é estudante do sexto período de enfermagem e também foi ao protesto. Ela lembrou que a proposta do governo prejudica ainda mais as mulheres. Como o curso de enfermagem é majoritariamente feminino, caso a proposta do governo seja aprovada, o impacto na área será ainda maior. “Lutar contra a reforma da previdência é lutar a por todos os direitos e também pela saúde”, explicou a estudante.
Um relatório do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que a desigualdade que mulheres enfrentam no mercado de trabalho deve ser analisada junto com a reforma. Mulheres ganham menos que homens, são a maioria dos desempregados, trabalham sem carteira assinada, e além disso trabalham mais horas por semana.
Em São Paulo (SP), cerca de 60 mil pessoas estiveram presente no ato na Avenida Paulista. Lucas Arcanho é professor da rede estadual. Para ele, a população está pagando por algo que não deveria. “Nós não temos que pagar a conta. Nós vimos que muitas empresas foram perdoadas de suas dívidas com a previdência. Nós acreditamos que as empresas deveriam pagar as suas contas e não cobrá-las do povo, mas essa política liberal tende a massacrar o povo e fazer que o povo pague a conta do estado”, protestou.
Francisco Leite Duarte tem 72 anos e já é aposentado. Mesmo assim, esteve presente no protesto porque acredita que, além dos prejuízos pra nova geração, a reforma pode impactar o reajuste no valor que ele já recebe. “Eu estou na luta, brigando pra mim, pelos meus filhos e pelo meu neto. É uma luta contínua. E eu vou lutar, enquanto eu puder lutar, eu vou estar lutando”.
Maria Zilda é auxiliar de serviços gerais e tem 58 anos. Ela afirma que, com a nova idade proposta para aposentadoria, muita gente não chegue a se aposentar. Apesar disso, está otimista e acredita na possibilidade dos protestos barrarem a implementação da PEC. “Todo mundo unido temos [chance] sim, agora um sozinho não, mas todo mundo unido com certeza teremos”, reforçou.
Em Florianópolis (SC), em ato que reuniu dezenas de pessoas, mesmo debaixo de chuva, Edileuza Fortuna, diretora da Intersindical da cidade, também está esperançosa. “A gente tá iniciando uma nova jornada. A gente já derrotou a reforma do Temer e a gente vai derrubar essa reforma”, disse. Ela também aproveitou para convocar trabalhadores de todo o país a conversarem com suas famílias e grupos de convívio para falar sobre os problemas da PEC proposta pelo governo.
Já em Recife (PE), cerca de 10 mil pessoas se reuniram na tradicional Praça do Derby. Marilourdes Moreira, professora, foi protestar pelo direito à Previdência Social. Ela estaria próxima de receber a aposentadoria, mas, com a reforma, teme não conseguir. “Essa proposta não pode passar da forma que está”.
Em Fortaleza (CE), o ato reuniu aproximadamente 30 mil pessoas.
De manhã
Vários atos começaram já pela manhã. Em Salvador (BA), cerca de 10 mil manifestante saíram em passeata contra a destruição da previdência brasileira. Em Curitiba (PR), a manifestação começou às 9 horas da manhã. Já em Goiânia (GO), logo cedo uma carreata ocupou o estacionamento do Estádio Serra Dourada e seguiu para BR-153.
Além das capitais, centenas de municípios do interior tiveram atos contra a reforma da Previdência.
Edição: Aline Carrijo