EM RESPEITO A VOCÊ, A RESPEITO DO IMPEACHMENT: O PSOL DIRÁ NÃO, PROPONDO CAMINHOS

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(Chico Alencar)

Nota dos Editores: “Nesta análise de conjuntura de Chico Alencar, ressalvamos a preocupação do PCB com a proposta de uma reforma política nesta correlação de forças desfavorável. Recente iniciativa como essa, na Câmara dos Deputados, aprovou uma cláusula de barreira, lamentavelmente com voto do próprio PSOL. (Secretariado Nacional do PCB)

1 – As forças que se articulam para derrubar o governo Dilma – o grande patronato, a mídia hegemônica, o agronegócio e o ‘mercado’, que até ontem lhe davam sustentação – buscam apenas seus próprios interesses. Isso se torna ainda mais perceptível quando temos em vista cerca de R$ 11 milhões gastos pela FIESP para promover o impeachment junto aos jornais de maior circulação no país, com anúncios que ocuparam diversas páginas desses veículos. É certo que esses setores poderosos navegam na grande insatisfação popular, nutrida sobretudo pela crise econômica. Aspiram, em eventual governo Michel Temer, um novo pacto de elites, com anunciado ataque aos movimentos sociais, via ‘ajuste duro’ e repressão ampliada.

2 – A oposição parlamentar conservadora, liderada pelo deputado-réu Eduardo Cunha, constitui o intestino grosso da pequena política, do toma-lá-dá-cá que o PSDB abençoa: PMDB, DEM e um conluio com o que há de pior na vida partidária nacional – fisiologismo que, aliás, o PT também cortejou. E ainda corteja, com a tentativa de recomposição de sua base pelo oferecimento dos cargos deixados vagos pelo PMDB.

3 – Os tempos são de cinismo explícito: corruptos ‘indignados’ com a corrupção, legalistas louvando transgressões à lei, bancada da bala pregando que ‘paz só sem Dilma’. E dependentes de grupos econômicos escondendo, com discurso de ocasião, sua voluntária e antiga servidão.

4 – A linha sucessória presidencial brasileira vai do mal ao pior: após Dilma, Michel Temer, Cunha e Renan – todos do ‘impoluto’ PMDB. Com a ascensão de Temer, Cunha se tornaria o vice-presidente da República de fato.

5 – Somos contra o impeachment porque não se pode praticar o ato mais drástico de nossa ordem constitucional pelas frágeis razões de “decretos orçamentários indevidos”. Ou de “pedaladas fiscais”, condenadas, até aqui, por um órgão auxiliar do Congresso, e por este sequer examinadas. Se impopularidade fosse razão de impeachment, sobrariam poucos governantes no Brasil.

6 – Vamos continuar fazendo oposição às políticas de um governo eleito pelo voto popular. As campanhas milionárias, que as regras do jogo permitiam, alcançaram todas as principais candidaturas.

7 – Há um acordo de desidratação da Lava-Jato, para que ela não chegue a vários grandes parceiros dos conluios, denunciados por Delcídio, o réu confesso, e visíveis na “Lista da Odebrecht” (que Moro colocou sob sigilo): o próprio Temer, Aécio e centenas de agentes públicos e financiadores, em relação orgânica com todos os grandes partidos.

8 -A Lava-Jato, nossa Mãos Limpas, pode ficar maneta, se não forem contidas as arbitrariedades de alguns de seus protagonistas, que parecem acreditar no papel salvífico de ‘heróis justiceiros e vingadores’. A importante Operação não pode ser seletiva e manipulada.

9 – Uma nova ordem democrática é urgente e necessária. Fora de alterações profundas na relação Estado-Sociedade, fundadas no controle social e na transparência, teremos mais um rearranjo das elites, que nada transformará. “Mudanças” para que tudo fique como está são recorrentes em nossa História.

10 – No ponto a que chegamos, nenhuma saída que não seja protagonizada pelo povo trará as mudanças e a ética na política, tão desejadas. É preciso encontrar caminhos que devolvam à soberania popular seu poder decisório. A atual crise vem desnudando um sistema político degradado e exaurido. Crise é, também, oportunidade e não podemos perder a chance de obter conquistas a partir dela. Dentre estas, uma reforma política profunda, que inclua propostas como a do referendo revogatório e de limites austeros aos gastos das campanhas, só livres do financiamento empresarial por decisão recente do STF.