Os objetivos dos comunistas do PCB
Imagem: Adaptação da bandeira da Revolta dos Alfaiates/Conjuração Baiana
Lucas Silva – Jornalista no Poder Popular e membro do Comitê Central do PCB
Em memória do grande revolucionário de 1935 e militante comunista Giocondo Gerbasi Alves Dias.
O Partido Comunista Brasileiro está caminhando para completar 102 anos de existência, sendo mais de sessenta anos de involuntária e brutal clandestinidade, um quadro que foi alterado somente nos últimos trinta e poucos anos.
A longa ilegalidade que nosso partido sofreu demonstra o duro e limitado caminho da democracia (burguesa) brasileira. Uma democracia que convive tranquilamente com uma série de genocídios como o feminicídio, o genocídio da população negra, LGBT, povos indígenas/originários e quilombolas. Uma democracia que é extremamente violenta com ativistas políticos e sociais e com jornalistas. Uma democracia tão frágil, que mesmo ganhando rios e mais rios de dinheiro (“nunca antes na história desse país…”), as classes dominantes brasileiras em conluio com as forças imperialistas (principalmente a articulação OTAN/Wall Street/Vale do Silício/Tel Aviv), não conseguem ficar mais de duas décadas sem aplicar algum tipo de golpe.
E com toda a carga política e ideológica acarretada pelo fim da URSS e de várias experiências socialistas, somada a ascensão política-econômica da República Popular da China ao status de potência e a intensa propaganda negativa do Bolsonarismo, as pessoas se perguntam quais os objetivos dos comunistas?
Os objetivos dos comunistas do PCB são claros, nítidos e inequívocos: lutar para estabelecer no Brasil, através do poder popular no rumo do socialismo, a sociedade sem classes, ou seja, sem opressão e exploração do ser humano. Como marxistas, sabemos que não há “modelos” desta sociedade ou receita de bolo: apesar de respeitarmos e reivindicarmos os legados positivos das revoluções soviéticas, chinesa, cubana, coreana, vietnamita, entre outras, são as nossas particularidades nacionais, os nossos traços culturais, a nossa história (do Quilombo dos Palmares, da revolta dos alfaiates, da cabanagem, da Aliança Nacional Libertadora, do movimento da legalidade de 1961 e etc.) é que determinarão o novo Brasil que queremos construir.
Todavia, quando se coloca a questão dos objetivos dos comunistas do PCB, as pessoas nos questionam: que garantias possuem as propostas dos comunistas? Cansadas do jogo político burguês (a famosa “politicagem”) – onde os princípios, na maior parte dos casos, só existem como retórica – amplas parcelas da classe trabalhadora e das camadas médias exigem algo mais que belos projetos para o futuro.
Ora, a resposta que temos a dar, aqui, é um exame da história efetiva do PCB. Basta observar a trajetória centenária do partido, para termos uma noção das garantias requeridas. Na esmagadora maioria dos movimentos sócio-políticos decisivos do último século brasileiro, o PCB esteve defendendo os interesses gerais do proletariado. Nunca patrocinamos nenhum regime de força. Sempre estivemos na luta pelos direitos sociais dos trabalhadores. E sempre que as instituições democráticas foram golpeadas, nós fomos os primeiros a ser sacrificados – não por acaso.
Ademais, antecipamos e reivindicamos várias bandeiras de interesse popular. Foi assim quando defendemos nos anos 20 e 30, as perspectivas de industrialização com soberania nacional e voltada para o bem estar do povo trabalhador, e a consolidação de um movimento sindical com independência perante o estado e os patrões. Foi assim quando lançamos o operário Minervino de Oliveira à candidatura presidencial de 1930, a primeira candidatura negra da nossa história. Foi assim quando nos mobilizamos pela criação da Petrobrás com a defesa do monopólio estatal do petróleo.
Foi assim quando a primeira lei de liberdade religiosa foi aprovada na Constituição de 1946 por iniciativa dos comunistas. Foi assim quando lideramos o CGT nas lutas que conquistaram o 13° salário em 1963. Foi assim quando participamos ativamente das lutas que criaram o SUS, entre várias batalhas e conquistas.
É claro que, ao longo dos mais de cem anos de intervenção política, cometemos erros. Não foram poucos. Mas, mesmo em nossos equívocos, jamais deixamos de representar os setores mais conscientes e dinâmicos da sociedade brasileira. O nosso princípio de solidariedade internacionalista nunca colidiu com o nosso perfil genuinamente brasileiro. Esse é um dos traços distintivos do PCB: o seu radical compromisso com que é brasileiro, revolucionário e popular.
Na etapa atual da crise orgânica do capitalismo brasileiro, prosseguindo com as diretrizes gerais traçadas por nosso XVI Congresso, defendemos uma política de frente única proletária em torno de um programa classista, que seja fruto de um ou mais Encontros Nacionais da Classe Trabalhadora, cujos eixos são a ampliação das liberdades democráticas e a defesa dos direitos sociais, governe quem governe. Para isso a reorganização da classe trabalhadora é tarefa central.
A partir da nossa perspectiva de classe, não desejamos privilégios na dinâmica do processo revolucionário brasileiro, nem acreditamos ser portadores de verdades acabadas ou donas da vontade popular. Tampouco acreditamos em atalhos ou em caminhos fáceis (como alguns pensam ser as redes sociais ou a institucionalidade burguesa/eleições), que substituam o fundamental trabalho de base cotidiano junto as massas trabalhadoras.
Estamos convencidos de que a única alternativa viável para o país é a Revolução Brasileira, cujo fim é a transição socialista e cuja base é o poder popular. A forma como o Bloco Revolucionário do Proletariado (conjunto de partidos, sindicatos e movimentos populares) realizará essa revolução dependerá do comportamento efetivo dos atores políticos no teatro de operações das lutas de classes. Para alcançar este objetivo desde já defendemos as mais amplas liberdades democráticas e reformas estruturais, articulando e dialogando com todas as forças comprometidas com o fim da exploração e opressão das massas populares. Também não temos, por outro lado, ilusões de qualquer espécie: a tarefa que nos propomos não será realizada amanhã e não está livre de acidentes. Inclusive, nossas próximas conferências e congressos debaterão exaustivamente todos esses problemas. Nosso compromisso é com a construção do Poder Popular até nossas moléculas, lutando pelo povo e com o povo trabalhador do Monte Caburaí ao Chuí, da Ponta do Seixas a nascente do Rio Moá.