75 anos da rendição nazista em Stalingrado

Há 75 anos, começou batalha histórica que predestinou derrota da Alemanha nazistaEm 2 de fevereiro de 1943, há 75 anos, era selada a sorte do nazismo na Segunda Guerra Mundial. As tropas nazistas se rendiam ao Exército Vermelho nesta heroica cidade soviética, onde os combates começaram em 17 de julho de 1942, e se deram casa a casa, no mais decisivo enfrentamento de todo o conflito. A partir da rendição em Stalingrado, iniciou-se o desmoronamento do nazismo, a vitória da democracia, da Humanidade, e da liberdade: as tropas soviéticas, em sua irresistível ofensiva, só parariam em Berlim, em 1945, sepultando a peste nazifascista, Hitler, o pretendido “Reich” de mil anos.

Seguem, abaixo, o famoso poema de Drummond, publicado em “A rosa do povo” e, na sequência, matéria publicada originalmente em Sputinik News.

CARTA A STALINGRADO (CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)

Stalingrado…
Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas
outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora,
e o hálito selvagem da liberdade
dilata os seus peitos, Stalingrado,
seus peitos que estalam e caem,
enquanto outros, vingadores, se elevam.

A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.
Os telegramas de Moscou repetem Homero.
Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novo
que nós, na escuridão, ignorávamos.
Fomos encontrá-lo em ti, cidade destruída,
na paz de tuas ruas mortas mas não conformadas,
no teu arquejo de vida mais forte que o estouro das bombas,
na tua fria vontade de resistir.

Saber que resistes.
Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes.
Que quando abrimos o jornal pela manhã teu nome (em ouro oculto) estará firme no alto da página.
Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu a pena.
Saber que vigias, Stalingrado,
sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos pensamentos distantes
dá um enorme alento à alma desesperada
e ao coração que duvida.

Stalingrado, miserável monte de escombros, entretanto resplandecente!
As belas cidades do mundo contemplam-te em pasmo e silêncio.
Débeis em face do teu pavoroso poder,
mesquinhas no seu esplendor de mármores salvos e rios não profanados,
as pobres e prudentes cidades, outrora gloriosas, entregues sem luta,
aprendem contigo o gesto de fogo.
Também elas podem esperar.

Stalingrado, quantas esperanças!
Que flores, que cristais e músicas o teu nome nos derrama!
Que felicidade brota de tuas casas!
De umas apenas resta a escada cheia de corpos;
de outras o cano de gás, a torneira, uma bacia de criança.
Não há mais livros para ler nem teatros funcionando nem trabalho nas fábricas,
todos morreram, estropiaram-se, os últimos defendem pedaços negros de parede,
mas a vida em ti é prodigiosa e pulula como insetos ao sol,
ó minha louca Stalingrado!

A tamanha distância procuro, indago, cheiro destroços sangrentos,
apalpo as formas desmanteladas de teu corpo,
caminho solitariamente em tuas ruas onde há mãos soltas e relógios partidos,
sinto-te como uma criatura humana, e que és tu, Stalingrado, senão isto?
Uma criatura que não quer morrer e combate,
contra o céu, a água, o metal, a criatura combate,
contra milhões de braços e engenhos mecânicos a criatura combate,
contra o frio, a fome, a noite, contra a morte a criatura combate,
e vence.

As cidades podem vencer, Stalingrado!
Penso na vitória das cidades, que por enquanto é apenas uma fumaça subindo do Volga.
Penso no colar de cidades, que se amarão e se defenderão contra tudo.
Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres,
a grande Cidade de amanhã erguerá a sua Ordem.


Uma das cenas da batalha de StalingradoA batalha histórica que predestinou derrota da Alemanha nazista

Uma derrota maciça dos exércitos alemão, italiano e romeno, o maior cerco de unidades da Wermacht e novo ponto de contagem na Segunda Guerra Mundial – tudo isso tem a ver com contraofensiva das forças soviéticas perto da cidade de Stalingrado que começou precisamente há 75 anos.

SputnikNews

A contraofensiva se realizou entre 19 de novembro de 1942 e 2 de fevereiro de 1943, terminando com o cerco e a liquidação do agrupamento alemão de 300 milhares de homens comandado por Friedrich Paulus. Foi lá, nas estepes cobertas de neve, perto das margens do rio Volga, que a máquina militar dos nazistas sofreu o mais duro golpe na sua história e do qual nunca chegou a recuperar totalmente. Após a derrota na batalha de Stalingrado, a Alemanha declarou luto nacional pela primeira vez desde o início da guerra.

Inferno na Terra

O avanço das tropas soviéticas perto de Stalingrado foi precedido por 75 dias da segunda etapa defensiva. Os defensores da cidade de Stalingrado conseguiram resistir a 4 assaltos, pois desde setembro de 1942 as unidades mecanizadas nazistas estiveram pressionando sem parar as posições das tropas soviéticas da região, com a artilharia varrendo da face da terra bairros inteiros.

Contudo, nunca chegaram a tomar o cais do rio Volga e a parte central da cidade, apesar de terem cinco vezes mais forças e poder de fogo.

“Stalingrado é o Inferno na Terra, um Verdun [a batalha mais violenta da Primeira Guerra Mundial, entre os exércitos alemão e francês], um Verdun Vermelho com armamentos novos. Atacamos todos os dias. Se conseguirmos de manhã tomar 20 metros, ao fim do dia os russos já nos rechaçaram de volta”, escreveu na época um dos soldados da Wermacht.

No total, contra as paredes inexpugnáveis de Stalingrado se destroçaram mais de 1.000 tanques alemães, cerca de 1.400 aviões, 2.000 peças de artilharia e morteiros e 700 mil soldados e oficiais da Wehrmacht morreram ou ficaram feridos no campo de batalha.

Operação Urano

Ao fazer uma avaliação rápida da situação, o comando soviético decidiu não dar fôlego ao inimigo e desferir um golpe de resposta devastador. A elaboração do plano da contraofensiva foi chefiada pelo general de exército Georgy Zhukov e pelo coronel-general Aleksandr Vasilevsky. A operação recebeu o nome de código “Urano”.

Do ponto de vista tático, em novembro de 1942 nas cercanias de Stalingrado a Wermacht se encontrava em uma situação pouco vantajosa. Empenhados no assalto, os alemães levaram até à cidade as suas melhores unidades de ataque, defendendo os flancos com as fracas divisões romenas e italianas. Foi precisamente contra eles que a Frente do Sudoeste e a Frente de Stalingrado desferiram seus ataques poderosos a partir de posições diferentes.

“Chocados e pasmados, nós não tirávamos os olhos dos nossos mapas de planejamento”, escrevia um oficial alemão. “As linhas grossas e flechas vermelhas colocadas neles marcavam as direções dos ataques incessantes do inimigo, suas manobras de contorno, zonas onde quebraram nossas posições. Com todos os nossos pressentimentos, nós nem imaginávamos a hipótese de uma tal catástrofe monstruosa!”, exclamava.

Ao enfraquecer os flancos do inimigo, o comando soviético dirigiu os grupos de choque de ambas as Frentes um em direção ao outro.

Em 22 de novembro, o 26º Corpo de Blindados tomou a ponte através do rio Don e ocupou o povoado situado precisamente “atrás das costas” das tropas alemãs. Deste modo, em apenas alguns dias, o grupamento de ataque nazista, com 300 mil soldados, ficou sufocado entre as unidades soviéticas, ficando elas bloqueadas por completo em 30 de novembro.

Efeito de cerco

As tropas alemãs cercadas ocupavam uma área de mais de 1.500 quilômetros quadrados, a frente externa estava a 170-250 km de distância do cerco soviético.

Os soldados e oficiais de Paulus estavam privados de alimentos, munições, medicamentos e combustíveis, em meio a um inverno russo com 30 graus negativos. Morrendo de fome, eles comeram quase todos os cavalos, caçavam cachorros, gatos e aves. Apesar da situação evidentemente desesperada, Berlin continuava mandando “aguentar até o fim e não se renderem”.

Em janeiro e fevereiro de 1943, as tropas da Frente do Don comandadas pelo general Konstantin Rokossovsky dividiram o grupo cercado em várias partes e o eliminaram. O marechal de campo Paulus se rendeu, bem como quase todos os efetivos nazistas, entregando suas armas. Em resultado, 91 mil homens foram feitos prisioneiros, inclusive 2.500 oficiais e 24 generais.

Durante a operação de Stalingrado foram derrotadas o 6º Exército e o 4º Exército Blindado da Alemanha, o 3º e 4º exércitos da Romênia e o 8º Exército da Itália. As perdas totais do inimigo somaram 1,5 milhões de homens.

Assista o vídeo em:

https://br.sputniknews.com/russia/201711199874890-alemanha-nazismo-uniao-sovietica-stalingrado-foto-video/

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