Síria: «areia e morte» ou petróleo e gás?
ODiario.info
As agressões imperialistas no Oriente Médio e na América Latina fazem parte da mesma estratégia de saque e dominação. A dirigente síria recorda-nos que, em ambas as regiões, estão presentes o peso, a intervenção direta e os interesses específicos do sionismo.
Por ocasião da nomeação de Elliott Abrams ao cargo de enviado especial para a Venezuela, gostaria de voltar atrás no tempo, a uma entrevista de 2005 no Ministério das Relações Exteriores dos Estados Unidos, onde tinha ido, na qualidade de ministra dos Emigrantes, conhecer William Burns.
Presente na reunião, Abrams começou a falar comigo das ações hostis da República Árabe da Síria contra as forças invasores americanas no Iraque, descrevendo a quantidade de problemas com que se viam confrontados por causa da determinação síria em os expulsar; nomeadamente, deixando passar através do seu território aqueles que combatiam contra essas forças de ocupação. Respondi que o que dizia nada tinha a ver com a realidade, que as suas fontes lhe tinham provavelmente feito chegar informações muito distantes dos fatos no terreno, e que eu estava lá para lhe dar a conhecer certas verdades sobre o que se passa na nossa região, uma vez que somos nós que lá moramos e estamos em melhor posição para informar sobre a questão.
Na época, a sua resposta pareceu-me estranha. Disse-me ele: «Mas que importa a verdade sobre o que está acontecendo no mundo inteiro? O importante é o conceito e a imagem que afeta o espírito das pessoas. O fato de estarem perto ou longe da verdade é secundário e não muda nada.» Ainda me lembro do que senti naquele preciso momento em que o meu espírito se concentrava sobre a forma de dialogar com uma pessoa que não se preocupava senão com a imagem que fabricava e transmitia a outros, sem nunca se preocupar com a verdade . Recordo também que a minha reunião com William Burns terminou no átrio que levava ao elevador.
Desde então, comparei constantemente a agressão realizada por Israel, seus aliados norte-americanos e, infelizmente, os seus aliados árabes contra os nossos países e nossos povos, com os múltiplos conceitos difundidos no Ocidente. Foi assim que, dia após dia, adquiri efetivamente a convicção de que o mundo colonialista, liderado pelo sionismo internacional através da sua hegemonia financeira e midiática sobre o conjunto dos regimes ocidentais, incluindo os Estados Unidos, concentra os seus esforços na fabricação de uma “imagem” que difunde sem atribuir a menor importância ao fato de ela ser parcial ou totalmente afastada da realidade.
Daí a guerra criminosa em toda a sua dimensão terrorista aos níveis militar, midiático e econômico contra os nossos países, supostamente em nome da liberdade, da democracia, dos direitos humanos, da proteção de civis e outras imagens fabricadas segundo os conceitos de Abrams e seus semelhantes neossionistas.
Uma guerra cujo objetivo manifestamente essencial desde a invasão do Iraque, a destruição da Líbia, as manobras em curso para destruir a Síria e o Iêmen, é a mudança de regimes existentes a fim de os subordinar ao senhor sionista, que colocou os Estados Unidos e outros regimes ocidentais a serviço dos seus objetivos de controlar ou saquear as riquezas naturais dos povos e instalar os tipos de governança que garantam a supremacia de Israel, mesmo nos casos em que isso prejudica os seus próprios interesses.
Portanto, a maioria das guerras e golpes de Estado ou equivalentes atualmente em curso em diferentes países assentam numa regra simples e fácil de entender: por detrás da fachada dos Estados Unidos, a única soberania que conta neste mundo pertence ao senhor sionista. Só ele tem o direito de modificar as orientações políticas de uns e outros no sentido dos seus próprios interesses, como se Deus lhe tivesse dado a Terra em herança e o direito de dela dispor como entenderem.
A partir daí, podemos claramente entender por que é que os “coligados” combatem certos dirigentes e poupam outros, o critério dominante sendo a obediência: aquele que se inclina pode continuar a governar o país enquanto eles estiverem satisfeitos; para aquele que coloca a soberania do seu país e do seu povo sob suas opções e as suas riquezas nacionais, será fácil fabricar “conceitos” e “imagens” que justificam uma guerra contra ele, contra o seu país e o seu povo.
O exemplo concreto do dito anteriormente encontra-se nas múltiplas agressões contra o povo sírio, agressões principalmente realizadas por Israel, dissimuladas por detrás de uma fachada norte-americana. Um exemplo perfeitamente comparável com as ações dos EUA na Venezuela, a fim de controlar as maiores reservas de petróleo do mundo e as fabulosas riquezas de um país que consideram parte do seu quintal. Mas se a Síria – qualificada por Donald Trump de país de “areia e morte,” coisa que não é de modo nenhum – exigiu uma tal mobilização para dividir e ocupar algumas das suas regiões, a Venezuela é certamente mais importante, não apenas devido às suas enormes riquezas suscitando tantas cobiças, mas também porque o eventual controle das suas orientações políticas garantiria a sua influência, sobre a América do Sul em primeiro lugar, depois sobre os restantes países.
A Síria e a Venezuela são dois exemplos demonstrando como os Estados Unidos e o Ocidente em geral não respeitam nem a soberania dos Estados, nem na ordem mundial saída da Segunda Guerra Mundial, nem as convenções internacionais adotadas desde então. Agora trabalham abertamente, dia e noite, para privar os Estados da liberdade de escolha, esperando privá-los dos seus recursos naturais e transformá-los em vassalos submetidos ao diktat ocidental que garante a cobertura da entidade sionista.
*Bouthaïna Chaabane é conselheira em política e comunicação do Presidente Bachar al-Assad
Fonte: https://www.legrandsoir.info/syrie-sable-et-mort-ou-petrole-et-gaz-al-watan