PCB presente nas homenagens a Marighella
Jornal O Poder Popular
Atividade realizada na sede do PCB de São Paulo, no último domingo, dia 03/11, com a presença de Manoel Cirylo, ex-guerrilheiro da ALN, Edmilson Costa, Secretário Geral do Partido Comunista Brasileiro, e Milton Pinheiro, membro do Comitê Central do PCB, prestou homenagem em memória dos 50 anos da morte de Carlos Marighella.
No dia seguinte, os dirigentes nacionais do PCB estiveram presentes no ato público que anualmente é realizado na Alameda Casa Branca, na região da Avenida Paulista, para lembrar o cinquentenário da data do assassinato do militante, ocorrido nessa rua durante emboscada promovida pelos agentes da ditadura. De acordo com a versão oficial, Marighella foi morto em um tiroteio entre agentes policiais do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de São Paulo e membros da Ação Libertadora Nacional (ALN), organização que liderava. Na verdade, Marighella tombou nesta data pela cilada covarde da repressão, em 1969, quando comandava a ALN (Ação Libertadora Nacional).
O camarada Milton Pinheiro usou da palavra em nome do PCB para reverenciar a memória do revolucionário: “Trata-se de um dia muito importante para reafirmar a história lendária desse personagem da Revolução Brasileira. Carlos Marighella, ex-deputado federal e dirigente nacional do PCB por mais de três décadas, foi um comandante guerrilheiro que, com seus erros e acertos, nos deixou um legado extraordinário para que possamos continuar na luta em defesa da emancipação da nossa classe e do socialismo. Neste dia, lembramos o momento em que Marighella foi vítima de covarde ataque da parte da repressão. No entanto, não tombaram seus sonhos e ideias. Homens e mulheres, juventude aguerrida e trabalhadores, continuam em marcha para construir, no palmilhar do dia a dia, a esperança do mundo emancipado da exploração do homem pelo homem”.
Leia mais abaixo reportagem do portal da Revista Opera sobre o ato na Alameda Casa Branca.
NOS 50 ANOS DA MORTE DE MARIGHELLA
Em homenagem ao revolucionário comunista, nos 50 anos de seu assassinato, os Instituto Caio Prado Jr. e a Fundação Dinarco Reais lançaram a segunda edição do livro “Escritos de Marighella no PCB”.
Carlos Marighella costuma ser reverenciado pelo seu heroísmo, ao ter abraçado a luta armada contra a ditadura de 1964, após romper com o Partido Comunista Brasileiro (PCB) por discordâncias com a linha tática. É justamente homenageado por ter imolado sua vida em prol da causa revolucionária, assassinado covardemente pela repressão em 1969. Muitos esquecem, porém, que ele passou mais da metade de sua vida política no PCB, onde entrou, pela porta da Juventude Comunista, em 1933, com 21 anos. Por sua militância destemida, cedo assumiu tarefas de dirigente nacional. Era grande tribuno, poeta, agitador, formulador teórico e organizador.
Neste livro, a Fundação Dinarco Reis e o Instituto Caio Prado Jr. oferecem aos leitores 231 páginas de textos de Marighella publicados entre 1946 (quando se destacou como deputado constituinte) e 1966 (quando já havia externado suas divergências com o Partido), quase todos em órgãos da imprensa do PCB. É a maneira encontrada de homenagear este que foi um dos mais importantes dirigentes do Partido Comunista pelo conjunto de sua contribuição à luta pela revolução socialista no Brasil.
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Por nossos mortos nem um minuto de silêncio, toda uma vida de combate!
Comandante Marighella, presente!
Marighella, 50 anos: Guerrilheiro é homenageado onde tombou em São Paulo
por Pedro Marin | Revista Opera
Há 50 anos, na altura do número 800 da Alameda Casa Branca, em São Paulo, era assassinado o inimigo número 1 da ditadura militar no Brasil, Carlos Marighella.
Nesta segunda-feira (4), parentes, amigos, ex-membros da Ação Libertadora Nacional (ALN) e militantes de partidos e movimentos sociais estiveram no local de sua morte para prestar-lhe homenagens. O ato contou também com a presença de Clara Charf, viúva de Marighella, e da neta do guerrilheiro, Maria Marighella.
Em 4 de novembro de 1969, Manoel Cyrillo, ex-combatente da ALN, se encontrava preso. Ele havia participado, no dia 4 de setembro, da captura do embaixador norte-americano, Charles Elbrick, em uma ação que libertou 15 presos políticos em troca da libertação do embaixador: “Foi terrível. Primeiro que nós estávamos ainda no DOPS, ainda estávamos na fase de inquérito. Como ia chegar uma leva de mais de 50 pessoas que foram presas por ocasião da emboscada contra o Marighella, os padres dominicanos, etc. Todo aquele grupo enorme de gente, eles precisavam liberar espaço. Então tiraram todo o pessoal que estava na carceragem do DOPS e mandaram, às pressas, para o Presídio Tiradentes. Na noite do assassinato, os mais provocadores deles, os mais filhos da p*ta, foram lá para ‘contar a novidade’ à base da provocação, querendo abaixar o nosso moral, querendo abater a gente emocionalmente e psicologicamente”, conta. “Tínhamos que acreditar, montaram a foto e apresentaram ela. Não tinha o que discutir, não podíamos se iludir: estava claro. Foi uma perda lamentável, uma baixa violentíssima, mas que tivemos que aceitar. Tinha que continuar a resistência. Passei dez anos em cana, imagine se nos primeiro meses eu resolvesse baquear, me desestruturar. Eu não tinha esse direito, não é verdade? Para enfrentar a cadeia tem que estar inteiro”, lembra ele.
O também ex-combatente da ALN, Aton Fon Filho, estava no Rio de Janeiro, ouvindo o rádio, quando soube da morte de Marighella: “Em primeiro lugar eu não achei que fosse verdade. Mas depois vieram uma sucessão de confirmações, e o impacto foi de muita tristeza, de desespero. Foi um impacto muito grande, porque na verdade o Marighella, já naquele momento, representava não apenas o comando da ALN, como também o comando de todo um processo. Não era à toa que havia sido declarado inimigo público número 1 pela ditadura, porque ele era a pessoa que tinha a visão estratégica, de por onde seguia o caminho revolucionário, onde deveriam ser concentrados os nossos esforços, tudo isso”, conta. “Muitas vezes as pessoas não entendem quando Marighella falava do princípio da autonomia tática; as pessoas muitas vezes dizem ‘cada um fazia o que queria’. Não se tratava disso. Para o Marighella estava claro que ninguém precisava pedir licença para praticar atos revolucionários. Mas quais eram os atos revolucionários? Exatamente aqueles que estava concordes com uma estratégia de luta pela libertação nacional, em defesa da soberania e dos interesses do povo, e também uma estratégia que fosse capaz de acumular forças para enfrentar concretamente a militarização de todos os espaços políticos que a ditadura tinha imposto”, ressaltou. Sobre o crescente resgate da figura e história de Marighella, Fon Filho é enfático: “Quando o povo quer encontrar os caminhos, ele vai ver que a humanidade só se coloca problemas para os quais já existem soluções: e a solução está colocada no pensamento de Carlos Marighella.”
Histórico militante comunista e companheiro de Marighella na ALN, Raphael Martinelli (95 anos) ressaltou a necessidade da disciplina: “O revolucionário tem que ter disciplina. Eu sou culpado disso… o Marighella estar morto, sou culpado também. Porque a organização revolucionária tinha que ter nossos quadros aqui. Ele [Marighella] marcou ponto com fulano, nós teríamos que estar na esquina, fazendo levantamento. Com ‘metranca’, mesmo, para enfrentar os filhos da puta. Olha o que aconteceu! Dispersamos a vigilância e a segurança, e eles mataram ele tranquilamente. Isso é um erro!”
A viúva do fundador da ALN, Clara Charf, falou ao final da homenagem. “Eu tenho sofrido ao mesmo tempo dores e alegrias. Dores porque é impossível não ter dor em saber que a gente perdeu uma figura tão maravilhosa, não só pro Brasil, mas que serviu de exemplo para a América Latina e pro mundo, que foi o Marighella. Mas ao lado disso tem também os jovens de hoje. Eu acho fantástico que toda vez que um jovem aparece protestando, eles mesmo dizem: ‘eu sou como Marighella, eu queria ser como Marighella’. E eu acho que todo lutador pode ser um Marighella: depende da continuidade, da firmeza da luta que ele queira fazer.”