O Partido Comunista Colombiano faz um chamado à conscientização de que a solução política para a paz exige ponto final definitivo no Plano Colômbia
05 de fevereiro de 2016 – Partido Comunista Colombiano
Os aparatos ideológicos e midiáticos do Estado anunciam com alarde a celebração em Washington dos 15 anos do Plano Colômbia. Álvaro Uribe renunciou à comitiva oficial encabeçada pelo presidente Santos, com o pretexto de que o atual processo de paz é o final de dito plano pela entrega do país à guerrilha. Uribe, o máximo executor, se excluiu do banquete como parte de sua campanha contra a paz.
Do ponto de vista da esquerda anti-imperialista não há nada a ser celebrado. O Plano Colômbia é um dos projetos de submissão com perspectiva de anexação mais insólitos da história contemporânea. Trata-se de uma lei dos Estados Unidos de caráter extraterritorial que foi imposta ao país com a anuência dos governantes do bipartidarismo sem o menor escrúpulo em termos de violação da soberania nacional. Cabe a responsabilização principal aos governos de Andrés Pastrana, Álvaro Uribe e Juan Manuel Santos.
O Plano Colômbia significou o aumento e a intensificação da guerra contrainsurgente no país e na região. Mediante as fumigações, a erradicação forçada e os operativos militares se ampliaram os cenários da guerra e se generalizou a perseguição, a delação em troca de dinheiro, o efeito nos cultivos de alimentos no território nacional e em países fronteiriços, a violação da soberania do Equador mediante bombardeio, as detenções extraterritoriais às costas das autoridades legítimas dos vizinhos soberanos. A chamada “segurança democrática” foi a expressão mais violenta, repressiva e antidemocrática da aplicação do Plano Colômbia.
É que o Plano Colômbia foi a carta de intenção mais flagrante de aliança político militar da oligarquia colombiana com o imperialismo para modelar o país segundo os interesses do grande capital transnacional e seu projeto geopolítico. Com o pretexto da ação contra as drogas e de reduzir em 50% a produção de narcóticos, o Plano implicava uma adaptação e institucionalização do modelo econômico e social aos esquemas neoliberais e às linhas do livre comércio agenciadas pelos Estados Unidos. A adequação do sistema judicial, da política antidrogas, a destinação do Exército Nacional e do conjunto das forças militares e da polícia à guerra às drogas sempre supôs a mal intencionada confusão da insurgência com o narcotráfico.
O sentido político profundo do Plano Colômbia é sua vocação contrainsurgente. O Exército concentrado na ação contra as FARC-EP, o ELN, o EPL, a expansão dissimulada da estratégia paramilitar, a militarização estendida de novas regiões, a transferência dos orçamentos de investimento aos comandantes com desconhecimento das autoridades eleitas caracterizam o chamado Plano de Consolidação (2007) como desenvolvimento de uma segunda fase no crescimento da guerra e a geração de uma lógica de “paz territorial” herdeira da guerra (2014).
Os Planos Patriota e Espada de Honra complementaram sem máscara nenhuma a essência antiguerrilheira e o crescente choque dos operativos do aparato militar do Estado com a população civil (camponeses, indígenas, afrodescendentes, moradores) em diferentes “zonas de consolidação”. A presença e inspeção permanente do Comando Sul sobre o desenvolvimento da guerra, incluída sua diretriz de “diálogo em meio à guerra” são formas inaceitáveis de intervencionismo militar e político na vida interna da Colômbia, que desnuda o servilismo de seus governantes.
A implantação do armamentismo e tecnologia, a mercenarização da guerra, a participação de pessoal estadunidense em bombardeios como o da aldeia de Santo Domingo, em Arauca, onde morreram 17 civis ou os abusos dos soldados ianques na violação de menores de idade, entre outros casos, ficam na impunidade porque os que delinquem nessas operações por serem estadunidenses gozam de impunidade diplomática (!), segundo o Tratado Bilateral assinado em 1952 pelo violento governo de Roberto Urdaneta Arbeláez e que permanece vigente, para a vergonha e indignação do país. Pelo menos 50 mil colombianos foram mortos sob a vigência do Plano Colômbia. Entre eles devem contar-se os “falsos positivos” que ainda hoje seguido acontecendo.
O Partido Comunista Colombiano faz um chamado à conscientização de que a solução política para a paz exige ponto final definitivo ao Plano Colômbia. O governo dos Estados Unidos deve indenizar milhares de vítimas sobreviventes dos bombardeios, das fumigações, das remoções e deslocamentos forçados.
Parte essencial da finalização da guerra é colocar fim à ordem contrainsurgente inspirada na Doutrina da Segurança Nacional dos Estados Unidos, alimentado pelo anticomunismo e pelas práticas do terrorismo de Estado. Devem passar em revisão e à denúncia os tratados de assistência militar entre a Colômbia e os Estados Unidos que continuam regendo. Não mais “inimigos internos” como política e prática de perseguição de dissidentes. No mesmo sentido, deve revisar-se e denunciar-se o Tratado de Livre Comércio bilateral que tanto prejuízo traz a pequenos e médios produtores.
Em lugar de um novo Plano Colômbia cuja intencionalidade é atrelar os processos de acordo e pós-acordo no marco da nova doutrina de segurança nacional, que privilegia o olhar agressivo para a China, Rússia, Irã e nossos vizinhos da área andina, Venezuela, Equador, Bolívia e o Caribe, Nicarágua, El Salvador e Cuba, a Colômbia deve olhar com liberdade o mundo e planejar iniciativas de cooperação e ajuda que beneficiem a superação das desigualdades sociais, permitam a recuperação dos bens comuns nas mãos do saqueio capitalista transnacional, a recuperação da potencialidade produtiva do país para gerar emprego e a integração latino-americana nos contextos de Unasul, Mercosul e Celac.
É preciso fundar novas relações com os Estados Unidos em pé de igualdade, com o respeito à soberania da Colômbia e aos povos da América Latina e do Caribe, sem nenhuma forma de intervenção militar e sem planos neocoloniais que violentem nossa livre autodeterminação na busca soberana da paz com justiça social.
Partido Comunista Colombiano
Fonte: http://www.solidnet.org/colombia-colombian-communist-party/colombian-cp-el-partido-comunista-colombiano-hace-un-llamado-a-tomar-conciencia-de-que-la-solucion-politica-para-la-paz-exige-punto-final-definitivo-al-plan-colombia-es
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)