Nota de pesar pelo falecimento de Piedad Córdoba
O Comitê Central do PCB vem a público manifestar seu pesar pelo falecimento, no dia 20 de janeiro de 2024, da ex-senadora Piedad Erneda Córdoba Ruiz, da Colômbia.
Piedad Córdoba nasceu em Medelin em 1955, começou sua militância política no início dos anos 1970, trabalhando pelo reconhecimento dos direitos das mulheres colombianas, pelas chamadas minorias étnicas. Denunciou as arbitrariedades e o desrespeito aos direitos humanos a que os presos políticos na Colômbia eram submetidos durante o período de maior tensão no conflito entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia ( FARC-EP) e os governos que chefiaram o Estado colombiano nos anos 1980.
Eleita senadora pelo Partido Liberal em 1994, Piedad Córdoba se engajou no movimento “Ciudadano Siglo XXI”, que buscou estabelecer uma agenda de diálogos entre as organizações insurgentes e o Governo colombiano, no sentido de distensionar o cenário de extrema militarização e repressão estatal contra as organizações sociais, sobretudo sindicatos e entidades da juventude, sob a argumentação de combate ao “terrorismo”.
Nesse período, a Colômbia chegou a ter mais de 9 mil presos políticos, e as forças paramilitares tiveram carta branca para caçar e assassinar lideranças estudantis, sindicais, indígenas e de outros movimentos sociais que lutavam contra a violência política imposta por um estado que aprofundava a retirada de direitos sociais e usava a repressão como forma de assegurar o poder às frações burguesas associadas ao imperialismo estadunidense e aos cartéis do narcotráfico.
A partir de 2007, Piedad Córdoba liderou, em conjunto com outras organizações sociais e partidos de esquerda, um amplo movimento que visava construir uma plataforma política com vistas a restabelecer conquistas democráticas suprimidas desde os anos 1970.
Esse movimento ficou conhecido mais tarde como Marcha Patriótica, que em setembro de 2012 realizou um grande encontro na cidade de Cartagena, contando com delegações de mais de 30 países, tais como a representação diplomática do ex-presidente Hugo Cháves e a presença de Partidos Comunistas do Brasil, Venezuela, Grécia, Argentina, México, Uruguai, Chile, dentre outros, além das representações da Federação Sindical Mundial (FSM), do MST e de outras entidades do campo sindical e popular de toda a América Latina.
Alguns anos antes, em 2010, sob o governo do ultradireitista Álvaro Uribe, após ação conjunta da CIA e do Governo Colombiano que assassinou Raul Reyes, um dos líderes da FARC-EP, em solo equatoriano, Córdoba foi acusada sem provas de financiamento da guerrilha e teve seu mandato cassado.
Mesmo assim continuou ativa na arena política colombiana até o final da vida, sendo considerada uma das principais lideranças locais na busca pela libertação dos presos políticos colombianos e pela restituição dos direitos políticos de milhares de ativistas e entidades sociais.
Apesar das limitações estratégicas, tendo como limiar de sua luta a defesa dos direitos humanos e das minorias étnicas, o combate ao racismo e ao machismo dentro dos limites da democracia burguesa, destacou-se por seu compromisso com a denúncia da ampliação das bases estadunidenses em solo colombiano, o enfrentamento às arbitrariedades estatais e à escalada de violência contra os movimentos sociais, em especial aqueles se manifestavam em defesa dos direitos e conquistas sociais.
Sua ação foi fundamental para que a luta na Colômbia pudesse atingir um novo patamar, permitindo inclusive restabelecer a participação política dos comunistas e socialistas em atividades diversas na sociedade colombiana, ainda determinada pela herança da repressão de Estado, de conspirações golpistas, perseguições e assassinatos de lideranças populares e outras atrocidades, sob a cumplicidade da CIA e do Pentágono.
O PCB reconhece a importância que a ex-senadora Piedad Córdoba teve na história recente da luta política na Colômbia, como parte de um longo processo de busca pela superação das contradições que alimentam o poder da burguesia latino-americana, o qual se sustenta na miséria e nas desigualdades impostas ao povo trabalhador, desenvolvendo projetos retrógrados, ultraliberais e neofascistas como respostas à dinâmica das tensões da luta de classes no continente.
Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro – PCB