Na lista dos 93 “presos políticos” de Cuba não existem apenas sequestradores e assassinos
Há até gente que viaja… para os EUA!
Lições de manipulação
Quinta-feira, 05 de maio de 2016
A imprensa internacional nos fala da existência de 93 “presos políticos” em Cuba, endossando – sem a menor contestação – uma lista apresentada pelo conhecido “dissidente” Elizardo Sánchez. Agora, façamos o trabalho que estes meios não fizeram: lê-la. Encontraremos uns curiosíssimos “presos políticos”. Edição: Javier Borja.
Na lista dos 93 “presos políticos” de Cuba não existem apenas sequestradores e assassinos. Há até gente que viaja… para os EUA.
José Manzaneda, coordenador de Cubainformación – A imprensa internacional nos fala da existência de 93 “presos políticos” em Cuba, endossando – sem a menor contestação – uma lista apresentada pelo conhecido “dissidente” Elizardo Sánchez (1).
Agora, façamos o trabalho que estes meios não fizeram: lê-la (2).
Vimos que dessas 93 pessoas, 11 nem sequer estão presas. Saíram da prisão no ano de 2010, mediante um acordo entre Cuba, Espanha e a Igreja Católica, e lhes foi aplicada, então, uma “licença extrapenal” (3). Vivem tranquilamente em suas casas, e 10 das 11 viajaram para fora do país, participar de atos contra o Governo cubano e para realizar lobby político a favor das sanções à Ilha (4). Uns curiosos “presos políticos”.
Analizamos as 82 pessoas que – segundo a lista – sim, estariam na prisão: 7 foram condenadas exclusivamente por delitos de tipo “comum”, como furto, venda ilegal ou por negar-se a pagar multas. Uns estranhos “delitos políticos”, sem dúvida.
5 mais foram condenadas por espionagem e revelação de segredos de Estado. Em nenhum país do mundo seriam considerados “presos políticos”.
Outras 61 pessoas estão na prisão por uso da violência em diferentes graus, algumas delas com numerosas mortes em suas costas (5). Sequestro de embarcações ou de aviões, rebelião e infiltração armada a partir dos EUA, sabotagem, motim militar, atentado, ameaças, posse de armas, desordens públicas e prejuízos, são alguns dos delitos (6). Pouco a ver, é claro, com a atividade de “opositores pacíficos condenados (…) por sua atitude ou atividades contestatórias”, tal como lemos em não poucos meios de imprensa (7).
De toda a lista de 93, só restam 9 pessoas com delito de “desacato”, a maioria ainda sem sentença, das quais não se apresenta informação confiável para extrair conclusão nenhuma.
Ou seja: a lista apresentada pelos grandes meios como a prova de que o presidente Raúl Castro mentiu, em 21 de março passado, ao negar a existência de presos políticos em Cuba, é uma absoluta farsa (8) (9) (10).
Agora, repassemos alguns conceitos básicos, como os de “presos políticos” e “presos de consciência”. Não existe uma definição única e clara, por isso tomaremos somente a que emprega a Anistia Internacional.
Uma pessoa “presa de consciência” é – segundo esta organização – aquela presa por motivação política que “não recorreu à violência nem propôs seu uso” (11). Por isso a Anistia Internacional não reconhece, hoje em dia, nenhum “preso de consciência” em Cuba (12).
Esta organização, no entanto, reconhece como “presos políticos” ou “presos por motivação política” todas as pessoas “cuja causa contenha um elemento político significativo”, tenham ou não usado a violência (13). Se utilizarmos esta definição, tanto nos Estados Unidos (14) como no Estado espanhol (15) existiriam mais de 500 presos políticos, de origens ideológicas diferentes, inclusive contrárias. Em contraste, em Cuba existiríam menos de 60.
Os grandes meios, no entanto, transmitem uma mensagem bem distinta: negam a existência de “presos políticos” na Espanha (16) ou nos EUA, porém asseguram sem pestanejar que em Cuba, sim, existem, caracterizando-os, também, como “presos de consciência”, ou seja, pessoas detidas apenas por suas opiniões ou ação política (17).
O Centro Olof Palme de Estocolmo (18) foi uma das primeiras organizações internacionais que repudiou – por sua parcialidade e falta de seriedade – as informações e listas do “dissidente” Elizardo Sánchez e sua Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, uma organização – por certo – financiada pelo Governo dos EUA, tal como se lê em um cabo de 2008 revelado pelo Wikileaks (19).
Contudo, esta continua sendo hoje, a principal fonte informativa empregada pelos grandes meios internacionais no momento de falar sobre a situação dos direitos humanos em Cuba (20) (21).
Por isso, não é de se estranhar que, como ocorreu com a lista do ano de 2011 – repleta de nomes falsos –, os meios convertam em “presos políticos” cubanos futebolistas bolivianos, jogadoras de vôlei do Peru ou pintores espanhóis do século XVIII (22).
Ou, como acontece agora, que até encontramos presos que voam de avião para os EUA.
(2) http://docs.martinoticias.org/es-CU/2016/04/25/a5f203dc-ece2-451b-b7d8-873d102fb614.pdf
(4) http://www.elnuevoherald.com/noticias/mundo/america-latina/cuba-es/article73111272.html
(8) http://www.bbc.com/mundo/noticias/2016/03/160321_cuba_castro_obama_derechos_humanos_ilm
(9) http://internacional.elpais.com/internacional/2016/03/22/america/1458651746_931878.html
(14) http://www.contrainjerencia.com/?p=67793
(16) http://www.elmundo.es/opinion/2016/04/26/571e636cca474147218b467d.html
(17) http://www.elmundo.es/opinion/2016/04/20/57166f2422601dee2e8b45d0.html
(19) http://www.cubainformacion.tv/index.php?option=com_content&view=article&id=49124
Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=u_6jgbSkPK4
Fonte: http://www.cubainformacion.tv/index.php/lecciones-de-manipulacion/68827
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)