Conflitos de terra no Brasil mataram mais do que guerras, denuncia geógrafo

imagemViolência no campo foi tema de seminário durante a 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária, em São Paulo (SP).

Norma Odara
Brasil de Fato

“Morreu mais gente em conflitos de terra do que em todas as guerras que o Brasil participou”. A afirmação é do professor de Geografia Agrária da USP (Universidade de São Paulo), Ariovaldo Umbelino. Ele participou como palestrante do seminário “O aumento da Miséria no Brasil”, durante o último dia da 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária, em São Paulo (SP). A atividade também contou com a presença do mestre em Geografia Delwek Matheus, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

As projeções de Umbelino para os próximos anos são desoladoras para o povo do campo. A previsão é de que os conflitos e a violência aumentem cada vez mais, como sugerem os dados do Caderno de Conflitos no Campo da Comissão Pastoral da Terra (CPT). “Os assassinatos cresceram bravamente, saindo em torno de 26 ou 27 trabalhadores assassinados em 2005 para no ano passado 61 trabalhadores. E 61 é mais do que um trabalhador assassinado por semana, e vocês não ficam sabendo de nada, porque a tevê brasileira não divulga”, comenta ele.

Durante o seminário foram lidos os nomes de camponeses assassinados nestes últimos dias, no Pará, Kátia Matins e Eduardo Soares Costa. Os dois crimes ocorreram em menos de 24 horas.

Para o coordenador nacional do MST, Delwek Matheus, os dados reforçam a importância de se fazer a reflexão sobre a reforma agrária popular como uma luta de toda sociedade contra a lógica capitalista do agronegócio. “A reforma agrária não é uma questão só dos camponeses, mas sim de projeto da sociedade brasileira. Ela tem que ter esse caráter popular de luta de classe. Porque a classe trabalhadora como um todo dependeria de mudança estrutural no Brasil. Uma delas seria a reforma agrária, nessa perspectiva de distribuir meios de produção, riqueza, oportunidade para população brasileira”, explica ele.

Matheus criticou ainda o modelo adotado pelo governo brasileiro, nos anos de 1980/1990, época em que a globalização ganhava escopo e projeção, que foi o “nascimento” do agronegócio, que organiza a agricultura a seu modo e exclui o camponês do processo produtivo e pratica uma agricultura não sustentável: “O agronegócio organiza a agricultura sem a necessidade do camponês. Sua agricultura de ‘precisão’, que não depende de mão-de-obra do camponês, a transgenia, a pulverização aérea de venenos. Isso gera um grau de empobrecimento da classe trabalhadora que depende do campo”, afirma ele.

Feira e diálogo com a sociedade|

A 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária terminou neste domingo (7) e movimentou um público de 170 mil pessoas, segundo o MST. Além de venda de 280 toneladas de produtos vindos de assentamentos de 23 estados, a programação da feira incluiu atividades culturais, seminários e atos políticos.

“A feira [do MST] é um momento de não só vender produtos, mas também de integração, de formação para nós, camponeses que viemos dos assentamentos, de integração com os consumidores. Porque as pessoas que compram não chegam na banca, compram os produtos e saem quietinhas. Elas fazem meia dúzia de perguntas e essas perguntas estão sendo respondidas pelos camponeses e pelas camponesas, a vida deles, como produziram”, comenta o coordenador do MST.

Para o professor Ariovaldo Umbelino, o evento tem um relevante papel de propaganda da luta e da produção dos sem-terra. “A feira [do MST] sempre é importante, porque é uma forma de difundir, divulgar, as conquistas dos assentados em relação à reforma agrária”, finaliza.

Edição: Anelize Moreira

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